OLHAR NOTURNO

CAPITULO 1

"Não me diga que não sente o que eu sinto Anne, porque toda vez que você me olha desta maldita forma,  meu ser se enche de calor e me engasgo com o amor que sinto por você"

"Você não me entende, isto não é o suficiente"

"Se te amar não  é o suficiente Anne, o que é?" - desvio meus olhos do seu olhar suplicante e desafiador.

Desafiador pois isto que ele me propõe é um desafio, seria um desafio ficar com Louis, alguém tão simples.

Eu queria ser uma estrela, mas Louis jamais poderia me dar isto, ele não possuía perspectiva!

Ou dinheiro.

Mas eu sentia algo por ele, talvez não este amor sufocante que ele descreve, talvez nem mesmo amor.

Eu não sei.

"Bastaria se eu sentisse o mesmo..

"Se você ao menos tentasse se permitir sentir este sentimento," - suas mãos quentes tocam meu rosto suavemente, tão suave, quase imperceptível. - "Eu sou seu desde o momento que te vi Anne, Minha alma anseia por você, meu coração bate por você, meus olhos andam cegos de te ver, não és sequer a razão do meu viver pois tu és já toda a minha vida! E mesmo assim isto não te basta, e nem te anima a sentir algo por mim. Não ficarei feliz em te ver partir jamais, mas irei me acostumar com o sentimento, adeus, Anne."

Suas palavras arrepiam meu corpo de imediato assim como secam a minha garganta e esboçam arrependimento em meu coração, mas mesmo assim, eu não faço nada para impedir que ele parta.

Declaro isto como o fim, o fim de um amor "indesejado?" "Inexplicável?" "Inesperado?"

- "Droga" - Xingo.

Esta é a maldita última palavra do  meu livro e precisa ser... precisa e  autoexplicativa, como se uma palavra definisse todo o livro.

Eu não sou uma escritora de tanto sucesso, por isso estou apostando todas as minhas fichas neste livro, não quero mais livros na média, pois não quero ser marcada por "a autora que só fez livros medianos", nunca livros marcantes.

Decido não continuar batendo a cabeça com essa palavra no momento e busco algo em minha cozinha para comer, mas como esperado: nada na geladeira e a comida dos armários provavelmente estragou, terei que buscar algo.

Eu não sou rica, longe disso, vendi 3 livros até agora que não fizeram tanto sucesso e o dinheiro que eles me renderam gastei comprando este apartamento e o meu carro assim que completei 19 anos.

Eu estava doida pra sair da casa dos meus pais, então o dinheiro veio como água no deserto.

Meu pai não é uma má pessoa mas ele é  bem.... tranquilo. Tranquilo quando minha mãe tentou me afogar quando eu tinha 6 anos, tranquilo quando ela me puniu por horas apenas porque entrei em seu quarto sem sua presença, traquilo quando mamãe via e permitia aproximações estranhas de meu tio comigo, uma criança.

Digamos que o dom dele era ficar tranquilo enquanto mamãe agia

Mas tirando estes incidentes infelizes ele era um bom pai, em minha infância me levou para parques, comprou doces e brinquedos, na minha adolescência assitiu filmes comigo e me presenteou com livros e agora que sou adulta ele me liga uma vez ou outra.