Madelaine
- Madelaine eu consigo levar meus próprios remédios. - Meu pai adverte.
- Eu também consigo e não vejo problema algum em carregar. O carro está logo ali. - seus murmúrios diminuem mas continuam, não dou ouvidos.
Estamos saindo do consultório médico.
Roberto Rios Rodrigues (meu pai), foi diagnosticado com uma doença degenerativa. Infelizmente devido sua teimosia em ir rotinamente ao médico, descobrimos a doença em um quadro mais avançado.
Ela não possui cura, mas pode ser controlada com medicamentos.
Devido a natureza da doença tenho me esforçado a passar o máximo de tempo possível ao lado dele. O levo para fazer tudo que precisar, mesmo com a considerável distância entre a sua casa e a minha.
Minha mãe parece fazer o que pode, pelo menos com ele, ela possui algum cuidado.
Eu evito pensar no futuro do meu pai, porque tudo parece muito difícil de digerir.
É complicado.
- Próxima parada, compras. - ele me espia. - O Natal está aí, você precisa escolher um presente.
- Você é o meu presente querida. - dou um sorriso mas não caio na sua conversa modesta.
- Pelo menos sueters combinando, o Senhor gostava disso quando eu era criança.
- Você gostava, eu usava pois você chorava se todos da família não usassem. - ri relembrando. - Lembro quando sua mãe passou a noite toda
costurando um. O dinheiro estava curto e você viu um sueter, com as cores típicas do Natal, vermelho, branco e verde. A estampa da gola era parecida com a ponta de sapatinhos de duendes, haviam pompons espalhados pelo tecido seguido por ursinhos. Seus olhinhos doces brilharam, você não pediu, não precisou, sabíamos que queria. Pois então, sua mãe comprou os materiais e passou a noite inteira te fazendo um, deu trabalho, o humor dela no dia seguinte não foi dos melhores. Mas o seu sorriso ao abrir o saco de presentes compensou. - diz de forma leve.Não acho que ele diz isso para que eu mude minhas percepções sobre a minha mãe, ele só está contando uma história, De um tempo que na sua mente, era bom e está tudo bem.
O assunto "Lilian" (nome da minha mãe) não é tão sensível quanto já foi, existem coisas mais importantes que requerem minha atenção.
...
- Que tal esse? - indago com esperança.
- Ah, se você gosta. - repete a mesma resposta que me deu a todas as perguntas que fiz sobre sueter, calças, canecas ou qualquer peça que pegue.
Roberto é teimoso, odeia incomodar quem for que seja e como estou o presenteando, ele fica inseguro em escolher algo.
- Pai, o senhor que deve gostar, não eu! - Ajeito a peça em minhas mãos no cabide. - eu vou atrás de meias, por favor, escolha algo! - ele faz uma breve continência humorado. Deixo ele escolhendo o que deseja e caminho em direção ao meu vício favorito no Natal.
Meias.
São tantas cores e tamanhos, fora que algumas possuem uma penugem tão fofinha.
Despreocupada faço um teste de fofura das meias que tenho nas mãos acariciando elas levemente com meu rosto, muito agradável. Minha cesta já está cheia, mas sou muito indecisa e na dúvida levo as duas opções.
O que não dará muito certo na hora de pagar.
- Com medo do papai Noel esquecer seu presente? - ouço a voz irônica e alcanço a vista.
VOCÊ ESTÁ LENDO
OLHAR NOTURNO
RomanceO olhar noturno. Tão fatal, carnal e sentimental. Um mesmo olhar pode expressar dos mais mistos e vastos sentimentos em alguém; raiva, tristeza, confusão, conforto ou até mesmo o mais puro e complexo dos sentimentos, o amor. "Há mais perigo em teus...