CAPÍTULO 3

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Madelaine

- Entao Madelaine, você está aqui por que? Escreve ou...

- Eu escrevo livros de Romance dramático. - carrego certo orgulho na voz.

- Qual seu livro próprio favorito?

Qual meu favorito?

Uma pergunta tão simples, mas que nunca me passou a mente.

Tenho 2 livros e um praticamente concluído, mas não sei se posso considerar algum como meu favorito.

- Está demorando muito pra falar, ama tanto os livros que escreve que não consegue escolher um?

- Eu não sei. Nunca escrevi um livro que me satisfez 100%

- Não existe nada no mundo que nos satisfaça 100%, - pensa um pouco antes de prosseguir. - Bom, há uma coisa que chega bem perto dos 100.

- Então sou muito insatisfeita. - solto as palavras sem pensar no que ele se referia.

Sexo.
Ele se refere a isso.

- E você, o que escreve? - mudo de assunto rapidamente para não deixar isso constrangedor.

Constrangedor para mim, porque ele gosta disso, pude ver seu sorriso malicioso quando falei que sou insatisfeita dando a entender que sexualmente.

Não é uma completa mentira, mas não falei neste sentido e não quero falar com um estranho sobre minha vida sexual inexistente.

- Palavras substituem o sentimento,
Versos reluzem o discernimento,
Estrofes conjuram o ressentimento,
E da poesia se cria um argumento. - recita de forma tão natural. Como se seus pensamentos saissem pela sua boca. Não foi escrito ou lido, estava lá, na sua mente. - Escrevo argumentos.

- Amo poesia, meu pai gostava muito de
Sófocles, li alguns poemas dele na adolescência.

- Mais drama. - Refere-se a categoria do poema de Sófocles.

Confesso que o essa característica me atraiu, mas não foi só por isso que li seus poemas.

Meu pai e eu brincávamos de recitar poemas um ao outro.

Ele começava e eu tinha que completar, era um ato tão simples, talvez até bobo para alguns, mas só de ter aquele momento com meu pai, de ver seu sorriso nos lábios, de o ouvi-lo recitar poemas lindos e trágicos com um brilho no olhar.

Como se o poema escrito há centenas de anos atrás falasse sobre ele próprio.

O poema era o personagem, meu pai o ator que o interpretava.

- Não tinha croissant então peguei esse tipo pão de queijo, é uma delicia. - Patrick se aproxima com um saco na mão e pão na boca. - Desculpa pela demora. - senta ao meu lado e enfim nota a presença ao meu lado. - Oie. - retira o pão da boca abrindo um sorriso. Bruno acena com a cabeça.

- Ele é escritor também. - explico.

- hum, já tem um agente? -não perde a oportunidade de vender seu pão.

- Bruno os editores te aguardam na sala. - Uma mulher elegantemente vestida com uma calça clara, camisa de cetim verde esmeralda que possuía dois botões abertos de forma sensual, e nos pés um scarpin sola vermelha aparece na porta o chamando.

- Minha agente. - alfineta Patrick. Busca algo em seu bolso e me entrega. - Pra quando se sentir muito insatisfeita. - dá um meio sorriso antes de me deixar aqui sem reação.

Meu rosto queima junto com o lugar que ele tocou ao me entregar o papel.

No papel tinha um número.

- Você vai ligar né? - a voz de Patrick contém minha atenção.

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