Garoto de programa

Decisão

Ema narrando

Eu sei que a morte está muito perto e hoje eu não me importo de ser levada, pois sei que meu Denis está em boa companhia.
Maria e Heloísa serão a base forte que meu filho vai precisar depois que eu partir.

E isso me deixa em paz pois sei que Jonas, não vai destruir o meu filho de novo na minha falta. Estou neste Hospital há dias e sinto cada vez mais o meu corpo perdendo as forças, minha cabeça latejando como se pregos estivessem sendo enfiados em meu cérebro.

A porta do quarto se abre e eu sei que entrou alguém mas por incrível que pareça não consigo enxergar quem é. Meus olhos parecem cheios de areia
-Quem tá aí?
Perguntei olhando em direção da porta .
-Sou eu, Jeremias o seu médico
-ah sim...
Suspirei cansada
- oi Jeremias

Olhei para o lado oposto da porta.
-a senhora não me viu?
Balancei a cabeça negativamente, Jeremias fez um silêncio e eu sabia o que isso significava.

-sra. Ema...
Me virei em direção a sua voz
- O que tem na minha mão?
Não respondi, ele suspirou cansado;
eu não conseguia ver o que tinha em suas maos,eu mal via vultos.
- Não consegue enxergar?
Mais uma vez eu me calei.
- senhora Ema ...
Ele fez uma pausa procurando as palavras.
- precisamos fazer a cirurgia o quanto antes.

Eu sabia disso mas não queria mesmo assim,era arriscado demais; as chances de morrer na mesa de cirurgia eram 80%>
-seu corpo está dando sinais...
-sim eu sei
Respondi chorosa
-a perda da visão é um sinal claro disso, não dá mais para adiar a cirurgia.
- eu sei doutor...
Enxuguei uma lágrima solitária
-mas eu também sei que vou morrer na mesa de cirurgia.
Ele não contestou, nós dois sabemos que os riscos eram enormes.

-por isso prefiro não fazê-la e aproveitar o resto dos meus dias ao lado da minha família.
Mais uma vez ele se calou, sei que ele estava ponderando a ideia.
-por favor Jeremias, me deixa ir para casa.
Ele tocou em meus ombros.
-eu não posso.
-por favor...
Implorei
- eu queria Ema, queria mesmo poder libera-la mas assim eu...eu não posso .

Uma lágrima escorreu do meu rosto.
-se a senhora sair do hospital hoje da forma que está, a senhora não aguentaria mais do que 30 dias.
Eu sabia disso meu corpo vinha dando sinais de que estava parando, sinais dolorosos.
-sem contar as dores, os remédios aqui tem diminuído as suas dores mas em casa, não será assim.
Chorei de novo
-seu filho, o Denis...ele não suportaria ver a senhora sofrendo sem a medicação, e a traria de volta, é isso que a senhora quer?

Ele tocou no meu ponto fraco, eu não suportaria ver Denis sofrendo por minha causa.
-pode marcar cirurgia.
Ele soltou um suspiro de alívio
-muito bem
Eu não queria partir agora, a vida do meu filho está se encaminhando mas de certa forma estou feliz.
Deus ouviu as minhas preces e sei que ele terá uma boa companhia para viver o luto.
-vou agilizar a parte burocrática e informar o seu filho sobre a sua decisão.
-tudo bem.
Ele segurou minha mão com força
-a senhora tomou a decisão certa
Ele bateu de leve em meus ombros e saiu do quarto, eu senti a porta se fechando.
E de verdade espero ter tomado a decisão certa.