Londres, Inglaterra, dezembro de 2021.
É de senso comum que cobras não gostam de frio. Especialmente quando o frio vem acompanhado pelos sons tilintantes dos sinos. Claro, esta última parte incomoda apenas uma cobra em específico. Cobras no geral não se importam com o barulho, uma vez que não conseguem escutá-los tão bem.
— AAAAAAHH, QUE INFERNO! — berrou Crowley, a dita cobra, enquanto levantava ferozmente de uma das poltronas presentes na A. Z. Fell and Co.
— Ora, Crowley, mesmo após tantos anos, não entendo como não se acostumou com isso — disse Aziraphale, antes de tomar um animado gole de seu chocolate quente. — Hm, está divino... Se a árvore do Jardim fosse feita de chocolate, eu mesmo teria comido.
— É claro que teria — rebateu o demônio, olhando pela janela o movimento das festividades acontecendo do lado de fora da loja. — Vem cá, eu já dormi bastante durante a... Você sabe.
— A quarentena.
— Isso. E eu não quero voltar a dormir agora. O que acha de a gente aproveitar que ainda temos um tempo extra antes de — Crowley sacudiu as mãos para representar de modo dramático — "kaboom!", e irmos pra algum lugar mais interessante?
Aziraphale estava curioso sobre a nova ideia de Crowley, então pousou sua caneca literalmente angelical de chocolate quente na mesinha de centro, juntou as mãos como de costume e levantou suas sobrancelhas para indicar que estava prestando atenção.
— É, o que acha de umas férias?
O anjo arfou uma risada incrédula.
— Férias? Está dizendo para deixarmos de ser anjo e demônio? Isso é...
— O que a gente já está fazendo — completou Crowley, sabendo que o que na verdade Aziraphale ia fazer era discordar de sua ideia (como sempre, aliás). — Quer dizer, eu, pelo menos, tô afastado dos meus deveres de demônio. E você... — um suspiro entediado. — Bem, você é um anjo, não tem muito o que fazer.
— Ontem eu ajudei um grupo de crianças a decorar uma árvore de natal na praça — gabou-se Aziraphale.
— Você não tá falando daquela árvore minúscula com enfeites de livros não, né?
— Oh, você viu! O que achou dela?
— Ehm... — Crowley havia achado adoravelmente chutável. — Uma graça — respondeu, concordando com a cabeça.
Ele precisaria voltar lá para organizar sua bagunça.
— Bem, eu o interrompi — pontuou o anjo, voltando a beber do seu chocolate quente. — Prossiga.
— Eu estava pensando em um país quente — disse Crowley, dando um sorriso de lado. — Não a Austrália, eu não quero lidar com todos aqueles bichos gigantes.
— Você é um bicho gigante, Crowley.
— Eu sou um bicho gigante de férias. Tem diferença.
— Tecnicamente, você sempre esteve de férias. — Aziraphale aproveitou o momento para lembrar que Crowley nunca teve um emprego, exceto o seu passatempo extinto de ser um cavaleiro causador de problemas.
Crowley revirou os olhos e rastejou de volta para a poltrona, derrotado.
— Qual é, anjo! Você tá nessa livraria há eras. Também precisa de umas férias.
Aziraphale olhou de esguelha para seu parceiro, pensativo.
Crowley se apoiou no braço da poltrona para se aproximar de Aziraphale e fazer o que fazia de melhor: tentá-lo.
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O casal inefável de férias
FanficApós meses afastados por conta da quarentena, o demônio Crowley e o anjo Aziraphale finalmente poderão usufruir de suas vidas momentaneamente sem preocupações. Afinal, se o mundo está prestes a acabar (com um pequeno atraso, é claro, graças a eles)...