Em solo firme

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Rio de Janeiro, Brasil.

Ao ligarmos a TV, ao escutarmos um podcast, ou ao clicarmos em um link para um vídeo do YouTube, onde quer que seja, haverá alguém que não é brasileiro falando sobre o Brasil. Bem, isso pode acontecer com qualquer país. Todos os países têm seu estereótipo mundial, mas a forma que são vistos pelo mundo não diz nada sobre eles em geral.

Como, por exemplo, por que havia tantos cães no meio da rua? Por que havia tantos bares abertos às três da tarde? Onde estavam os sambistas? E por que diabos era tudo tão barulhento?

De qualquer forma, independente das dúvidas, nossos dois seres divinos aproveitaram o trajeto de táxi para apreciar a vista da praia, enquanto seguiam para o bairro Flamengo. Bairro esse que foi escolhido apenas pela fonética da palavra. Aziraphale imaginou que era um nome bonito demais. Lembrava-o da dança.

- Aparentemente é um time de futebol - comentou o anjo, enquanto lia atentamente um livreto de turismo. - E o bairro vizinho também é - sorriu. - Se chama Botafogo, mas lá é tudo muito caro.

- Dinheiro não é problema pra gente - disse Crowley, a cabeça apoiada na janela do carro enquanto observava a cidade passar.

- Pode não ser, mas estamos aqui para passear como cidadãos comuns. Não queremos acidentalmente aparecer em algum site de notícias, não é?

- Vou tomar cuidado.

- Vocês são ingleses? - o taxista arriscou perguntar com um sotaque arranhado.

- Digamos que sim - respondeu Crowley. - Você fala inglês?

- Eu dirijo pra todo tipo de gente - contou o taxista. - Sei o suficiente. Vocês são famosos?

Az e Crowley se entreolharam.

- A-am, nós somos bem conhecidos, sim - disse Aziraphale, pondo as mãos no banco a sua frente. - Meu nome é Aziraphale. Tenho uma livraria especializada em antiguidades e raridades. Meu amigo é o Crowley, ele... Tem um Bentley.

- Um Bentley?

Crowley confirmou com a cabeça, orgulhoso.

- De 1933. Sem nenhum arranhão. Tirando a vez que ele explodiu em mil pedacinhos - murmurou a última parte.

- E de que forma isso torna vocês famosos? - O motorista encarou os dois pelo espelho retrovisor, desconfiado.

- N-nós... É... - Aziraphale não conseguia pensar em algo para dizer.

- Nós perdemos o anticristo, fomos babás do filho de um ministro norte-americano, iniciamos uma segunda guerra entre céu e inferno, encontramos o anticristo, mas ele já não era tão anticristo assim, então ele conseguiu mandar o diabo de volta pro inferno e salvar o mundo do apocalipse - contou Crowley, casualmente.

Aziraphale o repreendeu com o olhar, mas o demônio não pareceu se importar muito com isso.

Após alguns segundos de silêncio no veículo, o motorista sorriu, arregalou os olhos e bateu as mãos no volante, como se tivesse entendido o recado.

- Vocês são atores!

- Isso mesmo - Az concordou rapidamente, antes que Crowley pudesse falar mais alguma coisa. - Somos atores. Muito conhecidos.

- E que filmes vocês fizeram?

- Estamos gravando um agora mesmo sobre dois idiotas viajando. Se parece com Debi e Loide-

- É aqui! - bradou Aziraphale, ansioso para pôr um fim àquela conversa.

O carro estacionou em frente a um prédio rosa desbotado com janelas brancas no estilo colonial.

O casal inefável de fériasOnde histórias criam vida. Descubra agora