O casal inefável de férias

Milagres natalinos

Roma, 25 de dezembro, 336 d.C.

Estava muito frio lá fora. Certamente, não tão frio quanto em outros lugares que Aziraphale já pisara antes, mas ainda frio o bastante para colocar pessoas para dentro de suas casas e obrigá-las a se aquecer de frente para uma fornalha.

Por certo milagre, Aziraphale estava bem aquecido no salão de festas principal do Imperador Constantino, cercado de música e comida.

- Meu querido, Aziraphael! - O imperador sorridente se aproximou para abraçá-lo, contente.

O anjo não sentiu a necessidade de corrigir o homem sobre seu nome, apenas aceitou o abraço, notando um pernil de porco passar por cima de seu ombro com desleixo.

- É tão bom ver você. Por onde esteve?

Aziraphale sorriu, balançando uma mão no ar.

- O senhor sabe. Aqui e ali trabalhando na tradução de alguns contos e poesias.

O imperador acenou com a cabeça, orgulhoso de seu amigo.

- Você tem talento para isso. Graças a você, eu consegui abrir meus olhos para a vida. Aquela história sobre Jesus que você me contou me salvou, meu amigo.

Aziraphale deu um sorriso sem jeito. Aquela não era exatamente sua intenção.

- As pessoas têm comentado bastante sobre... Sobre sua visão no céu.

Constantino riu, então tomou um gole rápido de vinho.

- Eu tive que aumentar um pouco os acontecimentos. As pessoas não sabem valorizar o cotidiano e, bem, não é tão fácil ser perdoado por tanta coisa.

- Ah, sim - Aziraphale colocou um pedaço de queijo na boca, nervoso.

O imperador deu um suspiro longo e cansado, observando a movimentação da festa. Ele estava velho - para a época, é claro, e se sentia esgotado.

- Bem, - falou, por fim - vou me retirar um pouco. Aproveite tudo.

O anjo sorriu, acenando com a cabeça enquanto Constantino se afastava com sua taça de vinho e seu pernil.

- O quê que tá pegando?

Aziraphale deu um pinote para trás, assustado com a presença repentina do demônio Crowley.

- O que você faz aqui? - foi a primeira pergunta que passou pela sua cabeça.

O demônio deu de ombros, varrendo o ambiente com os olhos cheios de curiosidade.

- Vim dar uma olhada. É aniversário de alguém?

- Não... Bem, sim... Não...

Crowley levantou as sobrancelhas, ainda mais curioso.

Aziraphale suspirou.

- Eu acidentalmente "converti" o Imperador Constantino - explicou-se.

- Oh, nossa, quem diria... - O demônio pegou uma taça de vinho para si.

- Hoje seria a festa de Saturnália, mas o imperador resolveu mudar o costume.

- Parece bem igual pra mim.

- Em tese, sim - O anjo se aproximou para falar mais baixo. - Eles estão comemorando o nascimento de Jesus, o Cristo.

Crowley sorriu, finalmente se divertindo um pouco com a situação.

- Hoje? Eles não sabem que ele nasceu em...

- Ninguém sabe - Aziraphale interrompeu. - E você não vai contar.