CAPÍTULO 57

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Any

Estava enchendo um copo com suco de laranja para Josh quando ele começou a chorar. Não era algo raro de acontecer, pois ele era uma pessoa extremamente sensível. Chorávamos juntos assistindo filmes e seriados. Eu já o vira chorar em situações muito emotivas e até me orgulhava por ele ser um homem que não se escondia atrás de uma muralha de masculinidade. Homem pode chorar sim!

Só que eu não estava preparada para vê-lo tão vulnerável, com os ombros sacudindo e as lágrimas descendo como cachoeira pelo rosto.

Não era o momento ideal, visto que nosso jantar tinha acabado de chegar e eu estava morta de fome. Mas, deixei o copo de lado e engatinhei até ele, ajoelhando-me sobre suas coxas e segurando suas mãos.

— Josh...

— Estou bem, estou bem. — Ele me olhou com os olhos vermelhos. — Eu só queria lembrar.

— Talvez você nunca se lembre.

— Lembro de ter sido enganado. — Ele franziu a testa, pensativo. — Acho que foi Kyle Hanagami quem me disse que Gina estava no segundo andar.

Aquilo era uma novidade e quis correr para contar a nova informação para Gina, mas me contive. Se ele tinha decidido falar, eu ouviria o que tinha a dizer.

— Do que mais você lembra?

— De ter sido ajudado a subir as escadas, pois nem isso eu conseguia sozinho. Depois fui guiado até um quarto, sentei na cama porque me sentia entorpecido e começaram a me chupar.

Engoli em seco, chocada e assustada demais para falar alguma coisa. Se fosse uma mulher no lugar de Josh, a cena seria facilmente identificada como um episódio de abuso e possível estupro. Para um homem, talvez fosse difícil aceitar sua vulnerabilidade tal qual a da mulher. Eu não sabia se ele compreendia a dimensão dos fatos e nem queria perguntar. Não queria ter que tocar no assunto para não o deixar pior.

— Não lembro de nada daquele momento em diante — continuou, com uma expressão distante. — Sequer lembro de ter tirado a roupa. Por que você está chorando?

Arregalei meus olhos, surpresa. Não tinha nem percebido as lágrimas se acumulando neles e, quando pisquei, elas rolaram pelas bochechas.

— Penso que talvez eu gostaria de não lembrar de nada — comentei, fechando os olhos quando os dedos de Josh tocaram meu rosto. — Mas, ao mesmo tempo, deve ser horrível não saber.

— Não compare nossos casos, Any. O que aconteceu comigo não foi nada perto do que você passou.

— Ok — respondi, sorrindo. Conhecia a fase da negação e sabia que não adiantava conversar sobre aquilo enquanto ele estivesse frágil. — Vamos comer.

De repente, a minha fome já não estava mais tão intensa, mas era uma ótima desculpa para encerrarmos aquele assunto e nos ocuparmos de outra coisa.

Quando estava mastigando o último pedaço de bacon, uma pequena sacola de uma grife famosa foi colocada ao lado do meu prato. Levantei o rosto e vi Josh sorrir.

— Era um presente para hoje e não vou deixar de entregar, independente do que aconteceu — disse ele. — Eu tinha alguns planos.

Abri a sacola com cuidado e tirei uma caixa pequena lá de dentro. Alisei o veludo vinho, sentindo a maciez da embalagem que já dizia muito sobre o que guardava.

Ao abrir, dei de cara com uma pulseira maravilhosa, que parecia ter sido escolhida a dedo para mim. Josh me conhecia muito bem.

— É linda! — Olhei para ele, pressionando meus lábios para segurar a emoção. — É tão bonita que nem sei se combina com minhas bijuterias vagabundas.

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora