Any
A manhã na lanchonete tinha sido tão calma que eu estava quase cochilando sobre o balcão. Então, quando Sabina passou pela porta perto da hora do almoço, agradeci por aquela grata intervenção divina.
Tirei meu avental e avisei minha mãe que ia sair para almoçar com Sabina, mesmo após os protestos dela para que comêssemos ali mesmo. Meus pais nem sempre entendiam que eu precisava ter uma vida social longe do alcance das asas deles.
— Então, está fazendo algo interessante hoje? — perguntei para Sabina, enquanto entrávamos num restaurante italiano no mesmo quarteirão. O lugar era bem humilde, mas dono de uma comida maravilhosa.
— Na verdade, eu vim mesmo te procurar. Quero companhia para ir a um sex shop — minha amiga confessou, sorrindo e exibindo um rosto corado. Ela era a mais tímida de nós três. — Acha que consegue dar uma escapulida após almoçarmos?
Felizmente, eu tinha acabado de me sentar ou teria levado um tombo cinematográfico, tamanha a minha surpresa com aquela conversa. Sabi seria a última pessoa da face da Terra que eu imaginaria comprando vibradores ou fantasias.
— Não me olha com essa cara — ela pediu, batendo com o cardápio no meu braço.
— Calma, vamos por partes. É claro que eu irei com você, pois não perco isso por nada no mundo! — sorri. — Mas, por favor, você precisa me atualizar dos fatos. O que você quer comprar e, principalmente, para usar com quem?
— Não ria de mim, mas... — Ela encolheu os ombros e sorriu. — Não é para usar com ninguém, na verdade. Quero um vibrador porque estou cansada de depender de homem para me dar prazer.
— Boa garota! — comemorei e me inclinei sobre a mesa para apertar as bochechas dela. — Estou orgulhosa desse discurso e vou te levar para comprar o vibrador mais incrível de todos!
Pedimos nossas comidas e passamos o tempo conversando sobre nossas decepções amorosas. Ao contrário de Sina, Sabina e eu não tínhamos uma chuva de homens sobre nossas cabeças. E, mesmo assim, quando aparecia algum, ele acabava se revelando um idiota.
— Você ainda tem o Josh — queixou-se.
— Josh? — franzi a testa, sem entender. — Mas não rola nada entre nós dois.
— Sexualmente não, eu sei. Mas vocês estão sempre presentes para apoiar um ao outro. E deve ser bom também para quando a gente está carente, pelo menos poder contar com um abraço mais apertado.
— Realmente, não posso negar a utilidade de morar com ele e tê-lo sempre por perto — admiti, tirando os braços da mesa para que o garçom colocasse meu prato. — Mas não é a mesma coisa.
Enrolei uma porção generosa de fetucine no garfo e gemi com o sabor esplêndido daquela massa. Eu não costumava almoçar fora da lanchonete, nem mesmo costumava comer na rua em qualquer outro lugar. Josh e eu tínhamos mania de pedir delivery porque a preguiça dele sempre me contagiava.
Mas, de vez em quando, gostava de me dar ao luxo de comer em alguns lugares que já conhecia e sabia da qualidade. Aquele restaurante era um deles, a única coisa boa que ficou do meu último pseudo relacionamento.
— Vocês não confundem as coisas? — Sabina perguntou, usando o guardanapo para limpar o queixo. — Sei lá... é uma linha tão tênue entre a amizade que vocês dois têm e um romance.
— Até hoje nunca aconteceu de confundirmos, mas Josh anda aprontando com o livro novo.
Tive que explicar para Sabina sobre a inspiração da nova personagem criada por Josh, mas não entrei em detalhes da história para não trair a confiança dele. A única coisa que contei foi que Melanie era fisicamente parecida comigo, mas nossa amiga não ficou sabendo qual era a profissão dela.
Quarenta minutos depois, entrávamos num sex shop ali do bairro. A funcionária estava falando no celular e não se incomodou em vir nos atender, o que eu até preferia. Detestava ter vendedoras, de qualquer ramo que fosse, em cima de mim enquanto eu escolhia algum produto.
Levei Sabina até a seção de vibradores e todos os tipos diferentes de consolo para que ela pudesse se divertir. Ela assobiou quando ficamos de frente para uma parede que exibia prateleiras com os mais diversos modelos.
— Primeiro, você precisa decidir se quer um vibrador comum, um para o ponto g, um pênis de borracha...
— Calma, Any — Sabina me interrompeu. — Não faço questão de nada que brilhe e fale. Quero algo simples.
Os olhos dela brilharam ao segurar um enorme pênis de borracha. Ele era feito daquele material que lembrava muito a pele humana, até mesmo sob nosso toque. E eu já falei que era enorme?
— Acho que morreria feliz com um desse aqui — disse ela. — Uau!
— Já temos o escolhido! — comemorei. — Isso é o que chamo de decisão rápida!
Deixei Sabina namorando o pênis dela e dei uma volta pela loja. Enquanto deslizava os dedos por algumas fantasias penduradas, uma ideia louca surgiu em minha mente. Extremamente louca, diga-se de passagem. Senti o furor subir pelo meu peito e a excitação diante da ideia talvez tenha me cegado um pouco, mas comecei a puxar alguns cabides.
— Vai usar isso com quem? — Sabina perguntou atrás de mim, curiosa.
— São apenas ideias... — respondi, deixando-a no escuro. — Depois eu conto.
Saí da loja com uma sacola maior que a de Sabina e, quando cheguei na lanchonete, fui ao meu armário esconder aquele objeto profano antes que meus pais vissem o nome “Desejo Ardente” estampado em letras rosas na sacola plástica.
No final da tarde, comecei a colocar meu plano em prática. Chamei mamãe e pedi para que ela ligasse para Josh, pedindo que viesse me buscar no trabalho.
Ela não entendeu e ficou ainda mais confusa quando eu pedi para ser dispensada meia hora mais cedo.
Mas a melhor coisa de ter os pais que eu tinha era saber que eles sempre acobertavam as minhas maluquices. Dei um beijo no rosto de cada um antes de entrar no quartinho dos funcionários e pegar minhas coisas para ir embora.
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Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany
RomanceAny é uma jovem que gosta de viver a vida intensamente e não costuma se amarrar a homem nenhum. Joshua é um escritor nerd, tímido e dono de livros que se tornaram best-sellers mundiais. Os dois são melhores amigos, muito íntimos, até dividem o mesmo...