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--Pai, o Lo'ak não quer devolver meu brinquedo!--Mexo meus braços freneticamente com o grito estridente de minha irmã, que faz o homem mais velho me encarar, o que me faz devolver rapidamente o objeto e movendo o indicador até os lábios, pedindo s...

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--Pai, o Lo'ak não quer devolver meu brinquedo!--Mexo meus braços freneticamente com o grito estridente de minha irmã, que faz o homem mais velho me encarar, o que me faz devolver rapidamente o objeto e movendo o indicador até os lábios, pedindo silêncio.

--Lo'ak!

--Eu já devolvi!-- digo preguiçoso, revirando os olhos e saindo da nossa cabana em passos rápidos, sentando próximo a água, deixando apenas minhas pernas submersas.

Elas balançavam em harmonia enquanto a energia dançava entre as duas. Sinto pequenos peixes passando por elas, e dessa forma acabo me perdendo em meus pensamentos, apenas virando minha cabeça quando sinto um peso apoiado em mim.

--Eu vejo você, filho.--A mulher, que descansava sua mão sobre meu ombro, deixa um selar em minha testa e caminha para dentro de casa com um saco.

--Eu vejo você, mãe. O que é isso?--Aponto para o que ela carregava entre os braços.

--Ronal pediu para que eu os guardasse, é um pedaço de gelo. Acredita que ele não derrete?

--O que um pedaço de gelo faz no recife?--com a minha fala, ela ri de forma nervosa e olha uma última vez para seus braços.

--Achamos que.. pode ser uma mensagem, ou algo do gênero. Bom! vou fazer nosso jantar. Se quiser sair volte antes do anoitecer, e nada de sair do recife!--A mulher diz, sorrindo de lado e entrando totalmente dentro de casa, saindo de minha vista.

"Estranho."

Decido ignorar isso por ora e saio andando para descontrair, o dia estava sendo extremamente chato e por conta disso não sai de casa. Fiquei com Tuk brincando de adivinhação até o momento e era hora de fazer algo diferente.
Vou aumentando a velocidade de meus passos, ganhando força em meus pés e saltando para a água, assim mergulhando. Em poucos segundos meu ilu nada até mim, me fazendo soltar um sorriso quase invisível. Tateio a mão pelas costas até achar minha trança, a puxando e fazendo a ligação com o animal.

Sinto uma forte energia percorrer meu corpo, onde posso ler os pensamentos do animal, assim como ele, os meus. Espero alguns segundos para reconhecer o local e então monto nele com cuidado, observando sua resposta ao gesto.

"Vamos dar um passeio." Digo mentalmente, sentindo meu corpo quase ser levado para trás por conta da força do animal, que batia as barbatanas com vontade passeando pela enseada coberta de cores e pequenos peixes. Pequenas bolhas saem entre meus dentes quando eu sorrio olhando para tudo aquilo.

Vejo de forma clara Tsireya e sua ilu mergulhando próxima a mim, e logo faço o gesto de saudação, colocando três dedos na testa e os descendo até o nariz, e logo após relaxando o rosto.
A garota me olha com preocupação, e antes que eu possa imaginar o por que, ela movimenta seu braço, fazendo sinais com a mão.

"Pa" é o que ela faz no começo, e logo "hem" com os dedos de forma ágil, eu já estava livre na água, e logo inclino de lado minha cabeça como dúvida, e então junto os dois.

"Pähem oeng."

Me siga.

Arregalo meus olhos e dou o sinal "entendi" com a cabeça, e logo ela dá a volta com seu animal marinho como quem diz para segui-la.
Tombo um pouco para trás para pegar impulso da água, e então sigo a garota, sentindo meu ar se esvaindo aos poucos.

Precisaria respirar logo.

Enquanto mergulhavámos pela enseada, podia ver que não era somente nós que estávamos indo até aquele lugar.
Ao subir até a superfície, puxei ar rapidamente sentindo finalmente o sentimento confortável de respirar. Então olho em volta procurando o motivo do suspense, mas o local estava com uma quantidade imensa de na'vis. Tsireya segura meu braço, me puxando para fora da água, assim rompendo minha ligação com o ilu.

--É uma Ni'awve. São um clã de na'vis do gelo. É extremamente raro ver um, já que são conhecidos por serem mais fechados, sabe? Mas aqui está.--Ela sussurrava para mim enquanto passávamos pelo povo, até que chegamos e eu pude ver uma garota totalmente clara, com cabelos compridos com cor de areia e sua pele esbranquiçada com apenas algumas listras azuis, porém quase invisíveis se olhadas rapidamente.

A Ni'awve estava desacordada, com pessoas em volta à abanando e a mantendo gelada, já que a mesma parecia estar suando. Me sinto curioso ao encarar tanta diferença de suas características físicas.

Ela tinha pelos espalhados pelo corpo, não eram longos, mas em grande quantidade, assim como uma cauda pequena e peluda, e orelhas também reduzidas. Seus pés e mãos eram maiores, com maior concentração de pelos nos pés. Nunca tinha visto algo parecido.

--Lo'ak!-- Ouço a voz de Neteyam me chamando, e por impulso solto a mão de Tsireya rapidamente. A garota parece curiosa também.

--Sim?

--Papai se ofereceu para cuidarmos da forasteira até que ela acorde, precisamos tomar cuidado. Não sabemos o que ela quer.

--Ela não parece ser perigosa.-- digo e ele torce o nariz.

--Ninguém parece, irmão.

--Ela vai morrer se ficar aqui?--A menina manifesta sua dúvida.

--Provavelmente. Estamos em zona tropical, a garota vive em montanhas no polo sul.-- O mais velho responde, apontando para o lugar mencionado e logo vai para perto das curandeiras para perguntar se precisam de ajuda.

O sol já estava indo embora de certa forma, o que era bom já que em nossa localização esse horário em específico podia ser frio. Então decidiram reservar um local na água para colocá-la sentada do pescoço para baixo, assim ficaria fresca longe do calor. Não sabíamos ao certo o que fazer com ela, mas seu corpo parecia reagir melhor a temperaturas mais baixas.


Q.D.T

Meu corpo se cortorce um pouco quando percebo que acordei, havia cochilado enquanto vigiava a forasteira e percebi tarde demais pelo visto. Ao voltar meu olhar para a garota pude ver meu irmão sentado próximo a ela enquanto observava ainda a gigante de gelo desacordada.

Bom, isso não importa.

Me virei para o lado, passando os dedos pelas folhas fazendo com que elas cobrissem meu corpo e adormeço.

Avatar: OS GIGANTES DE GELOOnde histórias criam vida. Descubra agora