Cruzo minhas pernas para uma posição mais confortável, e então inclino levemente minha cabeça para cima, me levando a observar o céu. Era uma noite tranquila, estrelada e fresca como a maioria das vezes. Mas alguma coisa não estava certa.
Tinha algo incomodando Neteyam.
Minhas orelhas ligeiramente pontudas se contraem, me fazendo olhar até o ponto de partida do som. Quando fico em alerta ao presenciar a na'vi de neve se movimentar, mesmo que de forma sutil.
Retiro uma lâmina de meu cinto e mantenho minha guarda alta, enquanto a mesma parecia estar acordando.Ela abre os olhos. Seus cílios eram claros como seu cabelo, e sua íris continha uma cor angelical. Solto um pequeno suspiro ao notar isso, mas foco rapidamente.
--Quem... é você?--Sua voz era embargada, parecia com sede e cansada. Amoleço minha expressão ao perceber que ela só precisava de ajuda no momento.
--Neteyam, me chamo Neteyam. E você?
--Tek'yrr.--O silêncio pairou por segundos, a mesma reconhecia o local com cuidado, movimentando seus braços sobre a água.--Gelo líquido.
--O nome disso é água. Como veio parar aqui?--Levanto, indo até uma bancada rústica feita de madeira e pegando um copo que já continha água de um rio próximo, era nossa fonte potável.
Dou passos ligeiros até a estrangeira e estendo o braço, oferecendo o recipiente com líquido. Posso ver ela recuando e rosnando para mim, fazendo suas orelhas se inclinarem para trás, se recolhendo.
--Ei, ei. Calma. --Levanto minhas mãos como forma de rendição.
--O que é isso?! Não se aproxime.
--Você precisa disso para estabelecer energias, vai ajudar. Precisa ficar hidratada para explicar como veio de tão longe.-- Ignoro o aviso da mesma, me aproximando novamente de forma lenta, e então oferecendo o copo.
Ela, como em câmera lenta, o segura enquanto encarava meus olhos desconfiada. Parecia assustada. -- Não se preocupe, Tek'yrr. Não vou te atacar. --Sorrio levemente, podendo observar as orelhas da mesma se movendo para cima e então para baixo de forma rápida. Seus lábios se contorcem levemente.Pare de olhar.
--Eu vim em busca de Toruk Makto.--Arqueio minhas sobrancelhas e abro um pouco mais os olhos, mostrando interesse no que ela tem a dizer.-- O povo do céu está destruindo as montanhas Rak'tepay, estavam nos mantendo em campos de concentração e ateando fogo em nossas tendas.--dizia comovida, enquanto desviava seus olhos para a água.--Antes de minha mãe ser levada, ela conseguiu me trazer até aqui para buscar ajuda.
--Sabe que pode morrer aqui, não sabe?--respondo de forma considerada fria, mas realista.
--Morrer não é uma opção.--Ela aponta para seu próprio peito.--Coração forte.-- sorri e logo toma um gole do líquido presente no copo.-- Não é gelado.
--Você é exigente.
--Um pouco.-- a garota disse com seu sotaque de Ni'awve, que tornou a frase engraçadinha.--Por Eiwa! Eu estou dentro do gelo derretido!
--Água!
--Como vou me secar depois? Olhe para isso!-- Ela levanta seu braço, mostrando seus pelos claros molhados, e agora, escorrendo.
--Fascinante.-- É a única coisa que sai de meus lábios, mostrando surpresa com as diferenças físicas da garota de neve.--Você não parece ser fã de água.
--Eu sei nadar, mas por necessidade. As vezes a pescaria no gelo é difícil.
Solto um ar que nem ao menos sabia que guardava, e então volto minha atenção ao mar, ele parecia sussurrar para mim. Como quem quer dizer algo.
--Então vamos nadar.--inclino levemente minha cabeça de lado, encarando a garota que leva seu olhar sobre mim também, fazendo minhas orelhas se movimentarem rapidamente.
--Não estou em condições para nadar, Neteyam.
--Não seja por isso. Eu te levo.--Me peguei perguntando para mim mesmo por que insistia em forçar interação com a gigante de gelo, mas era automático.
Os olhos da albina ficam cansados de um segundo para o outro, o que me deixa assustado. Ela tomba para o lado e eu a seguro antes que caísse por completo dentro do mar.
--Ei, ei! Tudo bem?--Seu braço estava quente, ela estava calor.
--Estou bem, foi só um susto.--Sua voz estava arrastada, o que mais uma vez me alertou.
Por ela já ter seu corpo submerso na enseada, eu somente entro junto na água, sentindo o choque térmico onde o gelado entrava em contado rapidamente com o quente.--Vamos, você precisa ir para um lugar mais frio.--Após a fala, fecho minha boca, chamando meu ilu com barulhos com a língua. Ele logo aparece e eu faço a ligação, montando nele e colocando a mesma atrás de mim. Ela não dizia nada, mas aparentava estar desligada da situação.
Dou dois tapinhas em sua coxa para chamar sua atenção, e assim tenho a atenção dela.--Se segure.-- Ela o faz. Suas mãos se agarraram em meu ombro de uma forma não tão confiável, o que me fez ter um arrepio que percorreu minha espinha.Meu ilu começa a nadar de forma com que nossas cabeças ficassem para fora, assim não precisaríamos prender a respiração. Iria levá-la até a enseada das almas, já que era um lugar com temperaturas mais baixas.
No meio do caminho, sinto que a força que me segurava se afrouxou, escorregando um pouco do ilu. Decido puxá-la pela coxa, segurando-a com medo que a albina caisse.
Quando finalmente chegamos, desfaço o vínculo e ajudo Tek'yrr com a saída do animal e a guiando até um lugar raso.--Por que está fazendo isso por mim? Sou uma refugiada.
--... Eu também era.--Posso ver surpresa nos olhos dela.
--Você deve estar com frio.
--Estou.--olho em volta para disfarçar, mas realmente estava com muito frio.
O silêncio paira, apenas o vento liderava meus ouvidos, fazendo eles se moverem as vezes. Ouço um barulho na água.
Pisco várias vezes ao ver a mesma muito perto de mim, segurando minhas mãos.Eram muito quentes e macias. Deve ser algo relacionado aos pelos para proteger de temperaturas altamente baixas. Ela armazena calor demais para se proteger, mas quando o local se torna quente, o calor se torna seu pior inimigo.
--Obrigada por isso, Neteyam.--Abro minha boca para responder, mas nada sai. Algo me impede de falar.
"Você é bem-vinda."
Imagem ilustrativa de Tek'yrr.
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Avatar: OS GIGANTES DE GELO
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