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Reino de Han, Palácio das Mil Flores

Li Hua enxugava as lágrimas que ainda escorriam por suas bochechas, percorrendo seu pescoço e abaixo. A princesa desceu as escadarias do Palácio da Justiça, o tapete vermelho reluzia sob o feixe de luz do sol, guardas em suas armaduras douradas e com a mão na bainha da espada protegiam — enfileirados — a entrada da Cidade Proibida em torno do longo tapete. Ela desviou o seu caminho para a entrada do Palácio interno, mas não antes de parar e olhar para trás encontrando as expressões carregadas de diversas perguntas de seu irmão e de seu príncipe.

— Eu realmente tenho muitas perguntas — começou o Quarto Irmão — como você sabia...

Ela negou com a cabeça o calando.

— Eu não sabia, — mentiu, ela sabia muito bem que o povo do sul possuía características únicas — a acusação seria problemática demais, então desviei o foco.

Seu irmão assentiu.

— E o que foi isso? — Apontou para ela, para o rastro de lágrimas — Eu não estava preparado para isso... para o que planejou — voltou a suspirar — eu lhe avisei, Li Hua, se não começar a incluir a mim em seus planos, não irei apoiá-la.

Ela revirou os olhos.

— Se eu o avisasse, não teria desempenhado o seu papel tão bem — ajeitou o seu vestido que começou a amassar — alguém está querendo nos prejudicar, e tenho certeza que é da família real.

Seu irmão riu com escárnio, não acreditava no rumo daquela conversa, ela nunca contava nada para ele.

— Tenho quase certeza que sei quem está por trás da baboseira de hoje, mas vou verificar com o Terceiro Irmão antes — pousou a mão no cabo de sua espada embainhada.

— Certo — ela o olhou nos olhos — tenho alguns planos para as situações que virão por conta do Primeiro Irmão — Guo Wei semicerrou os olhos, compartilhavam as mesmas suposições, mas ela sequer dissera alguma coisa antes, era como se deixasse escapar — irei lhe passar desta vez, está bem?

O rapaz revirou os olhos, o maxilar travado mostrava sua indignação, e o sorriso que dera não disfarçava sua revolta e irritação.

— É bom que seu plano seja bom.

— Será, não se preocupe, — sua mão capturou uma mecha de seu cabelo e o enrolou no dedo enquanto falava — mas antes de colocá-lo em prática, preciso encontrar a Avó Real.

— Certo.

A princesa se virou para o Príncipe de Yuan, ele a encarava com aquele sorriso preguiçoso e os olhos tão apertados em divertimento que o coração da mulher descompassou. Entre eles havia uma camada espessa de amor e desejo, que precisavam urgentemente retirar e utilizar.

Li Hua deu dois passos em direção ao Príncipe de Yuan, o rapaz ousadamente completou a distância que restava e, com as pontas dos dedos, disfarçadamente tocou a mão da princesa.

— Não iremos nos ver por uns dias — anunciou ela com pesar, os olhos pequenos e murchos, quase sem vida e repletos de tristeza, seu suspiro triste dilacerou o coração do príncipe que precisou resistir ao impulso de tocá-la e consolá-la na frente de tantos guardas fofoqueiros — quando tudo se resolver, quando eu conseguir a aprovação da Avó Real, tudo ficará mais simples entre nós, e prometo que o trarei para o meu palácio.

Seu irmão arregalou os olhos em incredulidade, aquilo significava muitas coisas, mas muitas coisas mesmo. Não apenas um casamento, mas o que seria o início de uma revolução entre os poderes consolidados do reino.

[1] Desejo e Poder, O Império de Han [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora