capítulo 02

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Alfonso.

E

stou estacionando a caminhonete no beco atrás da cafeteira quando percebo que ainda
tem esmalte nas unhas da minha mão direita. Merda. Esqueci que brinquei de salão de beleza com uma menina de quatro anos ontem à noite.

Pelo menos o roxo combina com o uniforme do trabalho.

Christian está jogando os sacos de lixo na caçamba quando saio do carro. Ele vê a sacola de presente na minha mão e deduz que é para ele, então estende o braço.

— Deixa eu adivinhar. Uma caneca de café?
— Ele dá uma olhada dentro da sacola.
É uma caneca de café. Sempre é. Ele não agradece. Ele nunca agradece. Não mencionamos a sobriedade que as canecas simbolizam, mas compro uma para ele todas as sextas. É a nonagésima sexta caneca que lhe dou.

Talvez eu devesse parar, pois o apartamento dele está entulhado delas, mas já investi demais nessa história para desistir a essa altura do campeonato.

Ele está sóbrio há quase cem semanas, e já faz um tempo que estou guardando a centésima caneca, um marco. É uma do Denver Broncos, o time de que ele menos gosta.

Cristian gesticula na direção dos fundos do bar.

— Tem um casal lá dentro incomodando os outros clientes. É melhor ficar de olho neles.
— Que estranho. Normalmente não precisamos lidar com pessoas descontroladas.

— Onde eles estão sentados?

— Ao lado da máquina de capuccino. — Seus olhos se voltam para a minha mão. — Que unhas lindas, cara.

— Né? — Ergo a mão e balanço os dedos. — Para uma menina de quatro anos, ela mandou bem.

Abro a porta dos fundos do bar e me deparo com o som irritante da minha música preferida sendo assassinada por Ugly Kid Joe nos alto-falantes.

Não é possível.

Passo pela cozinha, entro na cafeteria e avisto os dois na mesma hora. Estão encurvados sobre a jukebox. Me aproximo depressa e vejo que a mulher está apertando os mesmos quatro números sem parar. Olho a tela por cima dos ombros deles enquanto ambos riem como duas crianças travessas. Eles puseram “Cat’s in the Cradle” para tocar 36 vezes seguidas.

P

igarreio.

— Vocês acham isso engraçado? Acham engraçado me obrigar a ouvir a mesma música pelas próximas seis horas? — Meu pai se vira ao ouvir minha voz.

— alfonso! — Ele me puxa para um abraço. Está com cheiro de cerveja e de óleo de
carro. E de limão, talvez? Eles estão bêbados?
Minha mãe se afasta da jukebox.

— Estamos tentando consertar. Não fomos nós que fizemos isso.

— É óbvio que não. — Puxo-a para abraçá-la.
Os dois nunca avisam quando vão me visitar. Eles simplesmente aparecem, ficam um, dois ou três dias e depois vão embora no trailer.

Mas isso de os dois chegarem bêbados é novidade. Olho por cima do ombro, e agora criatian está atrás do balcão. Aponto para os meus pais.

— Foi você quem fez isso com eles, ou eles já chegaram assim? — Christian dá de ombros.

— Um pouco das duas coisas.

— Estamos comemorando nossas bodas — diz minha mãe.

— Espero que não tenham dirigido até aqui.

Uma Segunda Chance Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora