capítulo 13

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Anahi.

Parece que estou vivendo a pior situação que imaginei. Conheci minha filha hoje por acidente, mas agora a única pessoa que talvez pudesse me levar até ela se tornou meu maior inimigo.Eu o odeio. Odeio o fato de tê-lo deixado me tocar ontem à noite. Odeio o
fato de que o tempinho que passamos juntos ontem já serviu de munição paraele me rotular de mentirosa, de vadia, de alcoólatra. Como se assassina jánão fosse o suficiente.

Ele vai direto falar com Mariana e isaac reforçando o ódio que elessentem por mim. Vai ajudá-los a construir uma parede ainda mais robusta,grossa e alta entre mim e minha filha.Não tenho ninguém ao meu lado. Não tenho uma única pessoa.

— Oi.— Paro na metade da escada. No topo está sentada uma adolescente; ela tem
síndrome de Down e está me olhando com um sorriso encantador, como sehoje não fosse o pior dia da minha vida. Está com o mesmo tipo de camisaque dulce estava usando no mercado. Deve trabalhar lá. Dulce disse que eles empregam pessoas com necessidades especiais para empacotar as compras.

Enxugo as lágrimas das minhas bochechas e murmuro:

— Oi.— Depois, passo por ela. Numa situação normal, eu me esforçaria mais paraser simpática, especialmente se for trabalhar com ela, mas neste momentotem mais lágrimas do que palavras na minha garganta.

Abro a porta do apartamento, e, depois de entrar, bato-a e me jogo de cara no colchão meio murcho.

Não dá nem para dizer que voltei à estaca zero. Parece mais que estou naestaca menos um.Minha porta é escancarada, e me sento imediatamente. A garota da escada
entra no meu apartamento sem ser convidada.

— Por que está chorando? — Ela fecha a porta atrás de si e se encostanela, observando meu apartamento com olhos curiosos. — Por que você nãotem nada?

Embora ela tenha simplesmente invadido minha casa sem permissão,estou triste demais para me chatear com isso. Ela não tem limites. Bom saber.

— Acabei de me mudar — digo, me explicando.Ela vai até minha geladeira e a abre. Vê o pacote de bolachas salgadas
pela metade que deixei lá pela manhã e o pega.

— Posso comer?— Pelo menos ela pediu permissão antes de comer.

— Pode, sim.— Ela dá uma mordida na bolacha, mas depois seus olhos se arregalam e elajoga o pacote no balcão.

— Meu Deus, você tem um gatinho, você tem dois gatinhos! — Ela vai até ele e o pega. — Minhamãe não me deixa ter um. Foi Ruth que te deu?— Em qualquer outro momento, ela seria bem-vinda aqui. Sério. Mas não
tenho forças para ser simpática durante um dos piores momentos da minhavida. Preciso sentir o meu colapso, e com ela aqui não consigo fazer isso.

— Você pode ir embora? — digo com o máximo de gentileza, mas aspessoas sempre ficam um pouco magoadas quando você pede que elas tedeixem em paz.

— Uma vez, quando eu tinha cinco anos, hoje eu tenho 17, mas quando eutinha cinco anos, tive um gatinho, mas ele ficou com vermes e morreu.

— Sinto muito.— Ela ainda não fechou a geladeira.

— Qual é o nome deles?

— Ainda não escolhi.— Ela não escutou que eu pedi que ela fosse embora?

— Por que você é tão pobre?

— Por que acha que sou pobre?

— Você não tem comida, nem cama, nem nada.

— Eu estava presa.— Quem sabe assim ela não se assusta e vai embora?

— Meu pai está preso. Você o conhece?

Uma Segunda Chance Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora