Alfonso.
Sei o que fazer quando uma criança chora, mas, quando é uma adulta, já é outra história. Fico o mais longe possível enquanto ela toma o café.
Não descobri muita coisa a seu respeito desde que ela chegou aqui uma hora atrás, mas tenho certeza de que ela não veio encontrar ninguém. Veio para ficar sozinha.
Três homens tentaram puxar papo com ela na última hora, e ela ergueu a mão e os rejeitou sem fazer contato visual com nenhum deles.
Ela tomou o café em silêncio. Ainda são 19h, então talvez ela esteja apenas se preparando para uma bebida mais fortes. Eu meio que espero que não. Estou intrigado com a ideia de que ela veio até uma cafeteria tomar para tomar refrigerante diet que raramente servimos enquanto rejeita homens para os quais nem sequer olhou.
Christian e eu somos os únicos trabalhando aqui, até Celina e josi chegarem. O lugar está começando a ficar mais movimentado agora, então não posso dar a ela a atenção que eu gostaria, ou seja, toda a minha atenção. Faço
questão de me manter afastado o bastante para não dar a impressão de que estou invadindo demais seu espaço.Assim que ela termina o café, sinto vontade de perguntar o que ela quer tomar em seguida, mas em vez disso a deixo ali com a caneca vazia por uns dez minutos. Talvez eu consiga aguentar até quinze antes de ir até ela.
Enquanto isso, apenas lanço olhares furtivos em sua direção. Seu rosto é uma obra de arte. Queria que houvesse um quadro dele na parede de algum museu, para que eu parasse em frente e o encarasse pelo tempo que quisesse.
Em vez disso, consigo só dar uma espiada ou outra, admirando como as mesmas partes de um rosto que compõem todos os outros rostos do mundo simplesmente parecem se complementar melhor nela.
É raro as pessoas irem a uma cafeteria cruzada com um bar no início de uma noite de fim de semana vestindo-se de forma tão simples, mas ela não está toda produzida. Está vestindo uma camiseta desbotada com estampa e calça jeans, mas o azul da camiseta combina tão perfeitamente com o azul dos seus olhos que é como se ela tivesse se empenhado ao máximo para encontrar
a cor perfeita de camiseta, mas tenho certeza de que ela nem sequer pensou nisso. Seu cabelo é loiro, a cor uniforme, potente, e o
comprimento logo abaixo do queixo. Ela passa as mãos nele de vez em quando, e sempre que faz isso parece que está prestes a cair em prantos.Sinto vontade de dar a volta no balcão, erguê-la e abraçá-la.
Qual é a história dela?
Não quero saber. Não preciso saber.
Não fico com nenhuma garota que conheço aqui no bar. Já descumpri essa regra duas vezes e paguei um preço alto por isso.
Além disso, ela tem algo de assustador. Não sei exatamente o que é, mas, quando converso com ela, parece que minha voz está presa dentro do meu peito. E não é como se ela me deixasse sem ar, é de uma maneira mais
relevante, como se meu cérebro estivesse me dando um alerta para não interagir com ela.
Alerta vermelho! Perigo! Pare!Mas por quê?
Fazemos contato visual quando vou pegar sua caneca. Ela não olhou para mais ninguém durante a noite, somente para mim. Eu deveria me sentir lisonjeado, mas, na verdade, isso me assustou. Já fui jogador profissional de futebol americano e sou dono de uma cafeteria meio bar mas estou com medo de olhar nos olhos de uma garota bonita. Eu deveria é colocar isso no meu perfil do Tinder: Fui jogador dos Broncos. Sou dono de uma cafeteria meio barzinho: Morro de medo de contato visual.
— Algo mais? — pergunto.
— Vinho. Branco. — É difícil achar um equilíbrio entre ser dono e se manter sóbrio.
Quero que todos fiquem sóbrios, mas, ao mesmo tempo, preciso de clientes.Sirvo a ela uma taça de vinho e a ponho na sua frente.
Fico perto dela, fingindo usar um pano de prato para enxugar os copos que estão secos desde ontem.
Percebo o lento movimento da sua garganta enquanto ela encara a taça, quase como se não tivesse certeza se deveria beber. A fração de segundo de hesitação, ou talvez de arrependimento, já é o suficiente para que eu pense que talvez ela tenha problemas com álcool.
Sempre consigo perceber quando as pessoas estão abrindo mão da sobriedade pela maneira como elas olham para o copo.
Beber só é uma atividade estressante para alcoólatras.No entanto, ela não toma o vinho: pelo contrário, bebe o refrigerante em silêncio até a última gota. Estendo a mão para pegar o copo vazio no mesmo momento que ela.
Quando nossos dedos se encostam, sinto mais alguma coisa presa dentro do meu peito além da minha voz. Talvez sejam algumas batidas a mais do meu coração. Talvez seja um vulcão em erupção.
Seus dedos se afastam dos meus e ela põe as mãos no colo. Tiro o copo de refrigerante vazio de perto dela e também a taça cheia de vinho, e ela nem me olha para perguntar por que fiz isso. Em vez disso, ela suspira, como se talvez estivesse aliviada por eu ter levado o vinho. Por que o pediu, então?
Encho o copo de refrigerante outra vez e, quando ela não está olhando, derramo o vinho na pia e lavo a taça.Ela fica tomando o refrigerante por um tempo, mas não volta mais o olhar
na minha direção. Talvez eu a tenha chateado.— nunca mais faça isso. Estou pagando, e tirar a merda do vinho que eu pedi me faz odiar esse lugar mais ainda.
— você não deveria se torturar se tem problema com álcool.
— quem disse que tenho problemas com algo criatura? Deveria cuidar da sua vida não acha? — não respondo e vou até o outro lado.
Christian percebe que estou encarando a moça. Ele apoia o cotovelo no balcão e diz:
— Divórcio ou morte? — Christian sempre gosta de adivinhar os motivos pelos quais as pessoas vêm para cá sozinhas e ficam parecendo deslocadas. Ela não parece estar aqui por causa de um divórcio. Quando é esse o caso, as mulheres costumam comemorar indo a bares com um grupo de amigas, usando faixas que dizem “Ex-Esposa”.
Essa garota parece triste, mas não de uma maneira que indica luto.
— Acho que é divórcio — diz Christian.
Não respondo. Não me parece certo tentar adivinhar sua tragédia, pois espero que não seja divórcio, nem morte, nem um dia ruim.
Eu desejo coisas boas a ela, porque a minha impressão é que nada de bom lhe acontece há muito, muito tempo. Paro de encará-la enquanto vou atender os outros clientes. Faço isso para lhe dar privacidade, mas ela aproveita para deixar dinheiro no balcão e sair furtivamente.
Fico olhando o banco vazio e a nota de vinte por vários segundos.
Ela foi embora e não sei seu nome, não conheço sua história e não sei se um
dia a verei novamente, então aqui estou eu dando a volta no balcão, atravessando o lugar depressa e indo até a porta por onde ela acabou de sair.O céu está pegando fogo quando chego ao lado de fora. Protejo a vista, esquecendo o quanto a luz sempre é agressiva quando saio do bar antes de anoitecer.
Ela se vira bem na hora em que a vejo. Está a cerca de três metros de mim.
Não precisa proteger os olhos porque o sol está logo atrás, contornando sua
cabeça como se houvesse um halo acima dela.— Deixei o dinheiro no balcão — diz ela.
— Eu sei. — Nós nos entreolhamos por um instante de silêncio. Não sei o que dizer.
Fico apenas parado, como um bobo.— Então o que foi?
— Nada — digo.
Mas imediatamente penso que gostaria de ter dito “tudo”
Ela me encara, e nunca faço isso, não devia fazer isso, mas sei que se a deixasse ir embora eu não conseguiria tirar da cabeça a garota triste que me deu uma gorjeta de vinte quando tenho a impressão de que ela não tem condições de me dar gorjeta nenhuma.— Você devia voltar aqui às 23h.
Não lhe dou chance de negar nem de explicar por que não poderia vir. Volto para dentro esperando que meu pedido a deixe curiosa o suficiente para voltar mais tarde.
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Uma Segunda Chance Para Amar
Roman d'amourSerá que todos merecem uma segunda chance para amar? É o que mais deseja anahi portilla, na luta para recuperar os pedaços estilhaçados de sua antiga vida após um trágico crime ter colocado tudo a perder. Depois de passar cinco anos na prisão após...