capítulo 05

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Anahi.

Estou sentada num colchão inflável com meus gatinhos sem nome, refletindo sobre todas as razões pelas quais não devo retornar àquele lugarzinho.

Não voltei para esta cidade para conhecer cara nenhum. Nem mesmo caras tão bonitos quanto aquele garçom. Estou aqui pela minha filha, só isso. Amanhã vai ser um dia importante. Amanhã preciso me sentir hercúlea, mas o garçom, sem querer, fez com que eu me sentisse fraca quando levou
minha taça de vinho. Não sei o que ele viu na minha expressão que o fez tirar
o vinho de mim.

Eu não ia beber. Pedi apenas para sentir um certo controle ao não tomá-lo. Queria olhá-lo e cheirá-lo e então deixá-lo de lado me
sentindo mais forte do que quando me sentei.

Agora estou me sentindo transtornada porque ele viu a forma como olhei para o vinho mais cedo, e a maneira como ele levou embora a taça me faz pensar que ele acha que estou atualmente enfrentando algum problema com álcool.

Não tenho. Há anos não tomo nenhuma bebida alcoólica, porque uma noite de bebedeira somada a uma tragédia arruinaram os últimos cinco anos da minha vida, e os últimos cinco anos da minha vida me trouxeram de volta a esta cidade, e esta cidade me deixa angustiada, e a única coisa capaz de me acalmar é fazer coisas que me dão a sensação de que ainda estou no controle
da minha vida e das minhas decisões.

Era por isso que eu queria rejeitar o vinho, cacete. Agora não vou dormir bem. Não tenho nenhum motivo para me sentir realizada, pois ele fez com que eu me sentisse o completo oposto disso. Se eu quero dormir bem hoje, preciso rejeitar alguma outra coisa que eu queira.

Ou alguém.

Faz muito, muito tempo que não desejo ninguém... desde que conheci iam. Mas o garçom era meio que gato e tinha um sorriso lindo e faz um café delicioso e já me convidou para voltar ao lugarzinho que ele trabalha, então vai ser fácil ir até lá e rejeitá-lo.

Então vou dormir bem e me sentir preparada para acordar e enfrentar o dia mais importante da minha vida.

Queria poder levar meus gatinhos. Sinto como se eu precisasse de parceiros, mas eles estão dormindo no travesseiro novo que comprei na loja mais cedo.

Não comprei muita coisa. O colchão inflável, dois travesseiros e lençóis, umas bolachas, queijo e um pouco de ração e areia para gato. Decidi que vou viver dois dias de cada vez nesta cidade. Antes de saber como vai ser o dia de amanhã, não adianta desperdiçar o dinheiro que poupei ao longo de seis meses de trabalho.

Já estou com pouco, e é por isso que decido não chamar um táxi.

Saio do apartamento para ir ao bar a pé, mas desta vez não levo minha bolsa nem meu caderno. Preciso apenas da minha carteira de motorista e da chave do apartamento. É uma caminhada de 2,5km da casa até a cafeteira, vulgo bar, mas o tempo está ameno e o percurso é bem iluminado.

Fico ligeiramente preocupada com a possibilidade de alguém me reconhecer no bar, ou até mesmo no meio do trajeto, mas estou completamente diferente de como eu era cinco anos atrás. Eu costumava me
importar mais com minha aparência, mas cinco anos na prisão me fizeram
ligar menos para tintas e apliques de cabelo, cílios postiços e unhas artificiais.

Não morei aqui por tempo o suficiente para fazer muitas amizades além de iam, então duvido que a maior parte das pessoas saiba quem sou. Tenho certeza de que muitas delas já ouviram falar de mim, mas é difícil ser
reconhecida quando ninguém nem mesmo sente sua falta.

Talvez Isaac e mariana me reconhecessem caso me vissem, mas só os encontrei uma vez antes de ir para a prisão.

Prisão. Nunca vou me acostumar com essa palavra. É tão difícil de dizer em voz alta. Quando as letras são escritas uma a uma no papel, elas não parecem tão árduas; mas dizer a palavra em voz alta — “prisão” — é pesado pra cacete.

Uma Segunda Chance Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora