9 - Cheiro de Mar

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PETE

Eu não sou burro, eu reparei nos olhares do mestre Vegas o dia todo em mim, ele olhava cada gesto meu, seus olhos encaravam meu corpo e paravam sempre em meus olhos, tentei evitar olhar diretamente para ele, porque toda vez que eu erguia a cabeça, ele estava me encarando de um jeito que eu não sei o que significava, até agora.

Não sei o que estou sentindo, fiquei mais sensível com a vinda de Venice em minha vida, talvez seja por isso que me apeguei ao pequeno Macau com muita facilidade. Abracei seu corpo e chorei, como se fosse meu próprio filho quase tivesse morrido, e naquela momento era isso que eu sentia pelo Macau, "você fez tudo certinho, estou orgulho de você filho" não me importei se alguém ouvisse, eu precisava dizer coisas positivas para ele, eu precisava sentir seu coração batendo para eu poder ficar tranquilo.

De início eu queria um teto para dormir, um lugar bom para cuidar de Venice, mas Mis Khunn me fez uma proposta de um ano para cuidar do pequeno Macau e eu aceitei. É um bom salário, e eu não precisaria pagar aluguel e nem alimentação, então eu poderia juntar uma grana, para o próximo ano quem sabe morar em alguma praia, alugar uma casinhas simples, trabalhar em algum resort, eu tenho conhecidos quem sabe conseguiria um emprego, poderia dar aulas de mergulho, eu tenho cursos certificados, é um bom plano, mas como eu vou deixar Macau para trás?

Eu me apeguei a ele, se Venice for 10% gentil como o pequeno é, eu seria uma mãe sortuda, Macau só precisa de atenção e cuidados, ele é inteligente só está com medo, ainda é bem chorão, mas eu no lugar dele também seria, ele só queria atenção, e estava sempre sozinho, brincando com adultos, sem nem uma criança por perto, e aqueles com esses pais, Buda o proteja.

Abracei mais ainda seu corpo suado, que acabei de passar um pano mais frio, para tentar baixar sua temperatura, ele estava medicado, seguro, mas mesmo assim estar perto e sentir ele respirar só assim vou conseguir me acalmar.

Macau tem um frescor na pele, um cheiro alfa bem especifico coisa de família, Kinn também tem, sempre que ele me abraçava na faculdade, eu podia sentir o seu aroma, os Theerapanyakul tem um cheirinho de praia, um cheiro que o vento trás do mar todo dia, por isso me sinto confortável estando aqui, eu amo o mar é meu lugar seguro.

Eu tinha planos de ganhar Venice na praia, sei que é loucura, mas eu precisa olhar o mar naquele momento, e quando fui para o mosteiro, graças a Buda tinha uma modesta cachoeira, com água limpa, e Venice veio como tinha que ser, dentro da água, ele não chorou, mas bateu suas perninhas e braços querendo sentir ainda mais a água em seu corpo, e por isso eu me sinto tão confortável quando abraço Macau, era como se eu estive colocando os pés dentro da água, eu o amo, Venice e Macau são iguais em meu coração, e agora isso me deu medo, porque bem provável que eu serei mandado em embora.

Eu podia sentir mestre Vegas me observar no quarto, eu sei o exato momento que ele passou pela porta, logo mais levantei, e cobri Macau. Mas eu não me arrependo de nada, fiz o que tinha que fazer, e mesmo que ele me mande embora, vou erguer minha cabeça.


-Você pode ir descansar senhor Jakapan.

-Pete mestre, me chame de Pete.

-Eu estou com a cabeça a mil, e não parei para te agradecer, obrigado.

-Não precisa, o importante é que ele está bem, desculpe por ter deitado na cama, e por estar invadindo o espaço que não devo, mas ele é importante para mim, sei que sou só a babá, mas...

-Obrigado...


Seus olhos me encaravam e eu estremeci um pouco, ele estava triste, e raivoso, mas me olhava mais profundamente ainda, mestre Vegas se aproximou de mim, e me abraçou, eu fiquei sem reação, achei que fosse brigar comigo, mas ele estava abraçando meus ombros e meu pescoço, como se eu fosse um barco sem rumo no mar, e encontrou sua ancora, ele me segurou perto dele com desespero.

Cheiro de Mar - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora