Por honra a memória de meu melhor amigo e por motivos de lembranças que nunca se perderão registro aqui um dos casos mais incomuns que já presenciei e participei em conjunto com o meu nobre e falecido amigo Sherlock Holmes.
Já estava um pouco tarde e o sol já chegava perto da linha do horizonte, deixando o céu com uma tonalidade anil, as nuvens carregadas de chuva davam uma brecha no céu londrino enquanto andava despreocupado pelas ruas cheias de vida, até que entrei numa rua que me era muito familiar. Ali conhecera um dos melhores amigos que tive e o vi utilizando seus assombrosos métodos de dedução para resolver insolúveis mistérios, vi crimes perfeitos serem destruídos com a perspicácia da mente de Holmes, resolvi fazer uma visita surpresa e o som do violino descompassado no segundo andar indicou que ele ainda estava acordado.
Cheguei até a porta do 221-B e bati três vezes na porta de madeira com as velhas dobradiças desbotadas, o som do violino parou por alguns breves segundos, então a porta se abriu e um enérgico Sherlock Holmes a atendeu, seus olhos se moviam com extraordinária velocidade e sua energia parecia que iria extravasar a qualquer segundo. Uma pena ver um ser humano tão especial entregue à cocaína, porém era a única coisa que satisfazia aquele cérebro quando ele estava estagnado sem nenhum caso para trabalhar.
Ao me ver suas feições se iluminaram e energicamente começou a contar sobre o que andava fazendo, acompanhando seu passo apressado fechei a porta atrás de mim e segui até o segundo andar, que parecia ter sido varrido por um furacão. Papéis espalhavam-se pelo chão, o cheiro de fumaça impregnava o recinto, as cortinas fechadas e restos de bebida e alimentos estavam empilhados em cima de mesas e no chão, um prato cheio de pó branco estava em cima de alguns livros abertos no chão.
-Holmes, meu amigo, há quanto tempo você não tem um caso?
-Precisamente 3 meses Watson, depois de nossa última aventura os ventos mudaram, nunca esteve tão calmo por aqui. Um lado bom nisso é que pude trabalhar na minha música e em alguns aparatos que estava projetando...-Puxou um cilindro e um revólver, montou os dois formando uma espécie de cano super longo e quando atirou em uma pilha de livros o barulho que saiu da arma parecia uma lufada de vento de tão baixo.
-Incrível Holmes!
-Chega de falar de mim Watson, falemos de você, como vai Mary? O que esteve fazendo no campo ultimamente?
-Como sabe que estive...
-A lama nos seus sapatos John, só é encontrada nos campos ao norte de Londres. A tia de Mary já está melhor?
-Como sabe sobre a tia de Mary?
-Suas roupas estão estranhamente desalinhadas com relação à última vez que o vi, isso mostra que você está preocupado, além disso mostra que Mary não está em casa, caso contrário ela não o deixaria sair desse jeito. Confirmei então pela carta que traz no bolso do sobretudo que ela estava fora, mas o que poderia arrastá-la tão de última hora? Um óbito ou uma doença talvez, como sua expressão demonstra preocupação então não seria um óbito, afinal nada pode ser feito com relação a isso, então conclui que uma doença séria o mais lógico. Então, lembrando a genealogia de Mary, a única parente que pode estar em tal condição seria um tia, que mora em New Hampshire.
-Holmes, você me surpreende cada vez que venho aqui.
-Não entendo por que sempre diz isso John... Aprendeu a ver os pequenos detalhes comigo, chegando a me ajudar algumas vezes em nossas aventuras...
-Mas essa linha de raciocínio Holmes, beira à bruxaria!
-Sabe muito bem como funciona Watson, além disso comparando a fenômenos mágicos seria muito mais um truque, afinal só vejo o que as demais pessoas se fecham a ver.
Quando olhei pela janela o sol havia se posto, nas ruas os coches passavam velozes, as lâmpadas se acendendo nas ruas de Londres , gradualmente. Foi então que ouvimos o ecoar de batidas fortes a porta, Holmes se levantou da poltrona em que estava sentado, eu me levantei e encarei a porta do andar que me encontrava. Quando meu amigo abriu a porta adentra a sala um jovem rapaz, com um cavanhaque ralo no rosto, agitado e desconfiado entrou na sala.
-Sr. Sherlock Holmes?- Disse com um timbre esganiçado de voz.
-Sou eu.
-Graças a Deus eu o encontrei, preciso que venha comigo!
-Para onde pretende me levar garoto?
-Um homem na praça me deu seu endereço e disse para correr e vir buscá-lo, ele havia sido baleado e pediu para que eu o levasse para o vê-lo no hospital!
Os olhos de Holmes percorriam o garoto de cima a baixo e pareciam dar crédito a história que ele estava contando, me fiz presente.
-Qual o nome desse homem que você diz?
-Lestrade, Sr. Holmes, Inspetor Lestrade.
-Meu Deus, Watson preciso que vá comigo, você é um bom médico, quero que me acompanhe nessa incursão até o hospital.
-Claro Holmes, vamos!
-Qual seu nome garoto?
-Richard, Richard Nox.
-Obrigado por vir correndo Richard-Holmes tirou alguns pence do bolso e entregou ao garoto. Pôs o sobretudo e parou um coche. Aquela seria uma longa noite, a lua iluminava Londres enquanto sacolejávamos nas ruas acidentadas da cidade, a toda a velocidade que podíamos.
Holmes fitava o horizonte, perdido em seus pensamentos. Agora que teria um trabalho parecia ter saído de seu torpor e sua mente trabalhava audivelmente.
Holmes estava de volta!
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Para Holmes, com amor
FanfictionSherlock Holmes e James Watson voltam nessa fanfic para resolver um mistério praticamente insolúvel.