Capitulo 3

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As ruas de Londres estavam vazias e com grandes poças de água, formadas pela chuva torrencial que começara pouco antes de sairmos junto à polícia. Um amigo havia morrido, por mais que houvessem desentendimentos entre Holmes e Lestrade eles eram amigos de longa data, agora estava ali meu querido amigo participando de um jogo macabro que em menos de vinte e quatro horas já havia ceifado uma vida. Quantas outras ainda viriam a ser arrebatadas? A Inglaterra já não era mais segura, lembrei imediatamente de Mary e senti o alívio de saber que estava longe, cuidando de uma idosa e debilitada tia.
Quando chegamos à frente do hospital St Mary até mesmo a estátua da santa parecia ter tomado feições mais graves. Saímos do coche seguidos de perto por uma mini-escolta policial que nos cercava em formação retangular, quase que nos prendendo em uma caixa humana. Holmes apresentava um semblante universal, porém que eu nunca havia visto estampado em seu rosto, o medo era perceptível. Moriarty parecia ter chegado a loucura e não custaria nada chegar até Holmes para levá-lo para o mesmo caminho de Lestrade.
Chegando até o quarto, o corpo estava coberto por um cobertor branco, porém esse apresentava uma mancha enorme de cor rubra e o cheiro ferroso do sangue invadia as narinas de todos. Me aproximei do corpo porém estaquei ao ver de relance a parede ao lado da cama. Ali estava uma mensagem escrita na tinta mais macabra que já havia visto desde o primeiro caso que acompanhei com Holmes. Em sangue vermelho vivo havia escrito:
"Querido Holmes, agora que sei que esta ciente de nosso jogo, ponho aqui as regras para que você possa jogar. Simplesmente aniquilarei a força policial londrina inteira se você não conseguir me encontrar, o que acho que vai acontecer. Sua mente afiada está muito tortuosa para enxergar a sua frente Holmes. Leia com atenção, nada pode ser desperdiçado daqui para a frente. Bom, aqui estamos nós, frente a frente porém tão distante um do outro, sugiro que não siga as mesmas trilhas e nem revisite antigos casos, sou relativamente novo nesse mundo. Levarei cada um deles é você assistirá impotente. Para me deter você precisará de astúcia e coragem, além de muita sorte. O choro será sua única saída é então veremos de que fibra é feito, amado Holmes. Para me encontrar você tem tudo que precisa, nesse exato quarto. Que os nossos jogos comecem.-M"
As letras tortas indicavam uma escrita veloz. Holmes estava perplexo. Puxei os lençóis que cobriam Lestrade e vi uma cena que volta e sempre voltará para me atormentar em meus sonhos. Com os intestinos para fora e uma expressão tranquila e rígida Lestrade fitava o teto. Um olho saltara da órbita e pendia frouxo para a esquerda. Mesmo tendo visto tantos ferimentos em batalha não estava preparado para aquilo.
Então, saindo de seu tormento e torpor Holmes começou a esquadrinhar cada milímetro quadrado do quarto. Sentia o cheiro do carpete, a profundidade das paredes, analisava o pó do chão, os frascos de remédio, chegou então perto o suficiente de Lestrade para analisar cada detalhe daquele cadáver bizarro.
Comecei a analisar clinicamente as condições do corpo, o sangue estava coagulado na região das feridas, porém a morte ainda era muito recente, notei a rigidez na cartilagem, porém não a típica rigidez cadavérica, mas a de um veneno sutil e mortal.
-Ele foi envenenado Holmes!
-Sim, sim. Mas o que eu posso usar para encontrá-lo Watson? O que encontramos nesse quarto são evidências que levam somente a raciocínios vazios. Pela primeira vez em anos não consigo deduzir nada de muito útil dos pequenos detalhes da sala.
-Holmes...
-Sim?
-Temo que teremos de pedir ajuda a todos que pudermos.
-Você se refere à ela?
-Não só a ela,mas a ele também.
-Não, de maneira nenhuma.
-Uma mente brilhante não está dando conta, talvez três deem.
Holmes contrariado falou, com a expressão em azedume:
-Pelo amor de Deus, Watson. Não pode estar falando sério.
-Sabemos onde encontrá-los, e já sabemos que ele não está por trás disso.
Serio, observando a macabra cena do crime ele enfim falou, após alguns minutos de espera:
-Nunca imaginei que fosse acontecer isso. Chame-os, mas se responsabilize se algo fugir ao controle.
O M da parede não era de Moriarty, mas o da carta que Watson pôs na caixa de correio, endereçada ao Sr. Prof. M. De Cambridge, em conjunto com uma carta parecida, escrita para a ilustre Irene.
O desespero pede medidas insanas.
Nesse caso, três dos maiores gênios iriam se juntar na caça aquele ser. História seria feita.

Para Holmes, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora