Capitulo 2

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Quando chegamos ao hospital St. Mary, subimos as escadas em um silêncio respeitoso e ansioso, parecia se formar uma nuvem negra no horizonte e confesso que fiquei feliz por Mary estar fora da cidade, se um inspetor da Scotland Yard havia sido alvejado ninguém estaria a salvo. Chegando ao segundo andar andávamos rápido até chegarmos no quarto de Lestrade, lá dentro a figura do outrora enérgico e bem disposto Lestrade havia se transformado num pálido e enrugado corpo deitado na cama. A lamparina iluminava tremeluzente o quarto, lançando sombras esguias sobre as paredes brancas, ao entrarmos a enfermeira saiu, calma e discreta, deixando-nos a sós.
Olhando para os remédios e curativos que se encontravam na mesa do quarto vi que o tiro havia passado de raspão, Lestrade havia perdido muito sangue porém iria sobreviver. Quando chegamos, o diafragma do inspetor subia e descia ritmicamente e ele ressonava baixo.
Holmes prostrou-se à frente da janela, olhava Londres, com um olhar distante e desfocado, toda a energia artificial que emanava dos poros dele havia desaparecido. De repente saiu de seu silêncio, sussurrando para não acordar o oficial:
-O que está acontecendo Watson?-Disse ele, meio encoberto pelas sombras.
-O que quer dizer Holmes?
-Lestrade não é nenhum modelo de policial, mas também não é burro a esse ponto. O que será que o fez tomar a frente da situação?
-Lestrade sempre foi muito honrado Holmes, talvez a situação tenha fugido de controle e ele partiu para ação, ou algo parecido.
De repente uma terceira voz entrou na conversa, fraca e roufenha:
-Boa noite, demoraram um pouco...
-Seu mensageiro, Nox, demorou de chegar até Baker Street. Me diga inspetor, o que aconteceu.
-Holmes, na verdade, tudo isso é sua culpa.
-O que?
-O maldito me passou uma mensagem antes de atirar.
-O que ele disse?
-Leia você mesmo...-Ele então apontou para o sobretudo que estava em cima da mesa. No bolso externo havia uma folha de papel pardo, amassada e dobrada. Peguei a mensagem e passei para Holmes, que abriu e leu em voz alta:
-Para Holmes, com amor. Olá estimado Sherlock Holmes, espero que não tenha se chateado por enviar essa mensagem tão dramaticamente, mas pense pelo lado positivo, pelo menos não machuquei seu cachorrinho, o grandioso Watson. Bem, tudo o que eu tenho para dizer é: O mundo está prestes a mudar Holmes, se prepare. Com todo o meu afeto, M.
-Use sua magia Holmes...
-Moriarty.- Os olhos do detetive brilharam em chamas de ódio, amassou o papel e o atirou nas sombras. Alguns segundos depois ele se levantou e pegou o papel novamente, leu algumas vezes novamente, virou o papel, olhou o verso, sentiu o cheiro do papel, esquadrinhou cada pedaço da extensão do papel.
-O que foi, Holmes?
-Por que ele faria isso tudo para falar só isso? Dar um tiro em um inspetor da Scotland Yard para mandar lembranças? Além disso, com amor? Moriarty é insano, porém nunca me tratou assim. O papel tem resquícios de perfume, porém as notas cítricas estão em muitas essências diferentes. A caligrafia é muito padrão, algumas curvas nos "s" e "t", porém nada demais.
A voz de Lestrade interrompeu a demonstração da dedução de Holmes:
-Não pode ser só isso, é impossível ser só isso!
-Lestrade, você não pode se estressar, volte a dormir, Holmes e eu vamos voltar para Baker Street e tentaremos resolver o que foi isso, pediremos proteção para você, agora volte a dormir, seu dia foi longo.-disse eu.
-Me avisem se tiverem algum avanço, venham amanhã pela manhã, agora eu preciso voltar a descansar, o Dr. Watson tem toda a razão.
Holmes botou o sobretudo de volta, segurava o papel cerrado em sua mão, amassando ainda mais o papel. Descemos as escadas e entramos num coche, passamos na Scotland Yard e pedimos alguns agentes para ficarem de guarda no hospital. Chegamos a Baker Street quando a noite já estava alta, entramos discretamente pela rua vazia, o semblante de Holmes estava ineditamente confuso e perdido, já havia lido centenas de vezes, porém a mensagem nada mais dizia além do óbvio.
A lua alta lá fora já mostrava que horas haviam se passado quando de repente na porta três batidas secas foram ouvidas. Holmes, sobressaltado, pegou uma bengala de madeira maciça e abriu poucos centímetros da porta, então toda sua musculatura relaxou um pouco e ele abriu a porta por completo. Um policial estava parado na porta, então quebrando o silêncio sua fala ecoou por todo o cômodo, caindo como uma bomba.
-Sr Holmes, o inspetor Lestrade foi encontrado morto no hospital. Uma mensagem escrita na parede citava o seu nome. Preciso que você me acompanhe.

Para Holmes, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora