Capitulo 7

171 13 2
                                    

A noite caiu fria e chuvosa em Londres. As janelas se iluminavam com as lareiras acesas e as lamparinas das ruas queimavam o óleo. Irene, eu e Holmes havíamos passado as últimas seis horas nas escadarias do teatro e fomos os primeiros a entrar na sala.
O espetáculo da noite era de uma companhia estrangeira de dança, que trazia bailarinos versados em danças exóticas. O show começou com algumas musicas japonesas tocadas em instrumentos estranhos, logo seguiram-se musicas indianas e o olhar de Holmes sorvia cada uma das notas que ele via, imitando-as num violino imaginário. O show seguiu-se e Irene parecia incomodada, não direi que não estava incomodado também, mas Holmes sabia o que estava fazendo e, depois de tantas aventuras ao seu lado, acreditava piamente na sua capacidade.
De repente uma música estranha começou a tocar, alguns casais entraram em cena e eles dançavam de maneira sensual, a música se estendia e depois acelerava, alguns dançavam com rosas em suas bocas.
-Vê Watson? Isso é Tango.
-Não entendo o que quer dizer com essa observação...
No exato momento que sussurrei isso os casais fizeram a mesma posição de maneira sincronizada. O movimento era exatamente igual ao do casal de cadáveres do hotel.
Meu queixo caiu imediatamente.
Holmes se levantou e saiu correndo de seu lugar, causando burburinho na plateia.
-Eu encontrei você M! Saia de seu esconderijo fedido!
O show parou, as portas se abriram e surgiram seguranças para tirar Holmes de cima do palco, onde subira.
Então antes dos seguranças tocarem nele um homem se levantou da sua poltrona, aplaudindo de pé. Então retirou uma pistola de um coldre escondido e gritou:
-Me ajude Holmes!
E logo em seguida atirou na própria cabeça, fazendo o espetáculo acabar de vez.
Holmes pulou do palco, caindo e cambaleando até o cadáver agonizante. Ligaram as luzes e lá estava meu amigo, debruçado sobre o corpo inerte e ensanguentado. Eu e Irene fomos até ele.
-Meu Deus Watson, esse pesadelo não acaba!
-Holmes, esse homem era da Yard?-Irene perguntou.
-Era sim Irene.-Sempre que Holmes se comunicava com a mulher sua voz ficava fria e distante.
Holmes então viu a cápsula da bala.
-Tem um M gravado na cápsula.-Ele então pegou o revólver e esvaziou a munição. Fazendo isso caíram mais 5 balas no chão. Ele pegou uma por uma e na última ele viu uma pequena mensagem gravada na cápsula.
"Eu também entro na mente das pessoas Holmes..."
Ele travou instantaneamente, empalideceu e então me puxou pra perto dele.
-Watson-ele disse baixo-Precisamos abrir a cabeça desse homem.
-Como?!
-Você entendeu certo.
-Meu Deus Holmes, isso não pode ser verdade.
-Preciso de um machado.
-Você vai fazer isso aqui?
-Sim.
-Você está completamente insano.
-Precisamos achar esse tal de M logo, ou o mundo virará um inferno.
-Onde eu vou conseguir um machado Holmes?
Ele então estendeu um braço para as coxias do teatro. Ali geralmente tinham machados para cortar contrapesos ou coisas do gênero. Eu então subi no palco, todos os dançarinos tremiam nas coxias, ouvia todos eles reclamarem em várias línguas. Procurei um pouco até encontrar um machado pequeno e bem gasto. Voltei e encontrei Holmes revirando os bolsos do morto.
-Nada aqui. Que bom que chegou com o pedido Watson.
-Não sou um garçon Holmes, e acho que deveríamos ser sensíveis com o que vamos fazer, vamos decapitar um homem no meio do Grand Theatre?
Ele pegou o machado das minhas mãos e investiu com tudo contra a face do rapaz. A lâmina partiu o crânio e meu amigo pôs os dedos dentro do rudimentar corte que ele abriu na cabeça do rapaz. Repetiu o procedimento de apalpar a cabeça do cadáver várias vezes e então tirou lá de dentro uma projetil cor de bronze e totalmente ensanguentada.
"Acho que estou relaxando com os enigmas, mas você levou um bom tempo naquele primeiro... Duas notícias: tenho uma surpresa para você na frente do teatro é a primeira. A outra é que eu cansei de brincar com a presa Holmes. Você é o próximo."
Ele deixou a bala cair.
Irene leu e arregalou os olhos. Então pôs a mão no ombro dele e disse:
-É melhor vermos essa surpresa lá fora.
Ele então se virou e andou junto a ela. Eu ainda estava perplexo com a crueldade daquele homem.
Quando cheguei ao lado de fora Irene e Holmes já haviam saído um pouco antes.
O que eu vi foi perturbador.
O corpo inerte de Moriarty perfurado por ganchos de carne amarrados a quatro cordas laterais que estavam amarradas nas pilastras, fazendo a carne cadavérica ir estalando e rasgando aos poucos. As roupas estavam rasgadas, havia um grande M feito à brasa em seu peito. Seu rosto estava inchado e muito machucado.
Holmes estava estacado na frente daquela cena.
Paralisado.
E pela primeira vez
Com medo.

Para Holmes, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora