Enquanto saíamos de perto de nossa inconveniente escolta de vilões cruzamos a trafalgar square quase toda, a rua fervilhava com pessoas em todos os tipos de traje. Holmes se comportava de maneira estranha no meio da multidão, olhava reto para frente e andava como se tivesse um motor dentro de si, mudando o percurso somente para evitar colisões contra pessoas na rua.
Chegamos ao outro lado da Trafalgar Square e pegamos um coche para o Grand Hotel, lá chegando vimos a fachada bem cuidada do hotel. Adentramos a porta abobadada do edifício e chegamos até a recepção. O lobby estava cheio de pessoas, nitidamente não eram ingleses, talvez americanos, alguns pareciam franceses e alguns outros pertenciam a terras ricas do oriente, me lembrando da tão longínqua aventura do signo dos quatro. Me vi relembrando todos os momentos de tensão que vivi ao lado do pior colega de quarto e melhor amigo que pude ter na vida.
Então fui dragado dos meus devaneios por um barulho intenso e alto, olhei ao redor enquanto procurava cobertura, somente no instinto que me sobrava da guerra. Quando analisei os arredores vi que Holmes estava atrás do balcão da recepção, todos gritavam e giravam no lobby do hotel. A porta giratória emperrara com o fluxo repentino de pessoas tentando sair ao mesmo tempo e elas acabaram quebrando os vidros das janelas para correr do epicentro do barulho.
Na minha frente estava estatelado o cadáver de mais um agente da Scotland Yard e atado a ele estava o corpo da Srta Haig. Suas mãos estavam entrelaçadas nas do oficial, numa espécie de bárbaro tango. Ao lado dos dois corpos um pedaço de papel amarelado e uma rosa.
-Holmes, venha aqui!
Ele saiu desconfiado da cobertura do balcão e foi devagar até mim. Quando viu a cena voltou a postura normal e chegou perto da cena macabra. Enquanto isso vimos a nossa indesejada companhia atravessar os cacos de vidro e adentrar o salão do hotel. Moriarty se limpava e Irene tomava cuidado para não escorregar no vidro e se movimentava esguia como uma cobra.
-Meu Deus Holmes, você some por alguns minutinhos...-gesticulou para toda a sala- e isso acontece? Acho que você é o problema homem!
-Vá pro inferno Moriarty, não aguento mais ouvir seus insultos, volte para sua sala de aula e seus tabuleiros de xadrez, mas me deixe trabalhar em paz!
-Você acha que é melhor que eu Holmes? Se eu estivesse realmente querendo trabalhar com você já teria desvendado esse seu caso há quatro horas e estaria no meu tílburi a caminho de Cambridge.
-Se é tão brilhante assim por que não demonstra suas habilidades?
-Pois não acho que seria justo usar minha tão elevada mente intelectual contra um companheiro de profissão.
Holmes avançou em direção a Moriarty com minha bengala nas mãos e acertou-lhe um golpe certeiro na têmpora, Irene segurou seu bolso e o afastou do professor que, insultadissimo, se levantou com a testa sangrando e gritou:
-SEU ANIMAL!
Um funcionário trouxe um guardanapo e eu examinei o ferimento, não havia sido muito profundo e com certeza não era letal.
-Eu desisto de você Holmes, não quero mais o meu dinheiro para trabalhar com gentalha como você! Vá você para o inferno, sentar no colo de Lúcifer e sentir ele possuindo-o! Desgraçado.
Tempestuoso saiu pela porta e sumiu em poucos passos do nosso campo de visão.
-Ficou maluco Holmes, agredindo-o assim no meio de todo mundo, como uma criança mimada, que aconteceu?
-Moriarty era um estorvo, além disso o mecanismo que libera a lâmina secreta da sua bengala emperrou, precisava bater ele em alguma coisa resistente. O crânio de Moriarty serviu-me bem.
Com isso tirou a lâmina da bainha de madeira e voltou-se para os corpos entrelaçados no chão. Cortou a região abdominal do policial e tateou seus intestinos para ver se não notava nenhuma pista, como Irene fez com Lestrade.
-Aprendeu rápido não?-Ela disse enquanto se aproximava da cena- Interessante, parece que ele queria que os corpos estivessem assim, parecem estar dançando...
Holmes qua havia falhado em encontrar outra pista nas entranhas do policial resolveu ler o bilhete amarelo antes de prosseguir sua dissecação.
"Querido Holmes, vejo que conseguiu me rastrear... Interessante. Talvez seja seu cão de caça Watson ou sua gata vira-lata que esteja fazendo o trabalho, não sei. Tenha cuidado Holmes, sei de tudo que acontece em Londres e no resto do país. Acredito que esteja transtornado com a falta de pistas que esse bilhete traz, mas o próximo está num lugar que tenho certeza que não lhe é habitual. Com amor
-M"
Os funcionários do hotel haviam chamado a Yard, quando eles chegaram e viram o corpo do oficial Philipp adquiriam uma expressão sombria.
-Tem alguma ideia Holmes?
-O pior que tenho Watson, o pior que tenho.
Então ele se voltou para o corpo da mulher, abriu-lhe o decote e deixou os seios a mostra, alguns policiais e funcionários do hotel viraram os rostos quando ele começou a cortar transversalmente o seio direito da mulher. Lá dentro estava um papel pardo, ensanguentado.
"Fui muito generoso com a dica não? Bem, agora não serei tão gentil assim. Descubra como a melodia embala esse casal.
-M"
Holmes levantou os olhos e sorriu de lampejo.
-Watson, vamos ao teatro hoje.
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Para Holmes, com amor
FanfictionSherlock Holmes e James Watson voltam nessa fanfic para resolver um mistério praticamente insolúvel.