Amor

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Amor...

O amor vai vir... Quando você menos esperar... Ou ele já chegou e você não percebeu?

- Eu acredito que quando nos apaixonamos, nos sentimos ansiosos e nervosos, tentamos cobrir nossas falhas, não queremos as mostrar para a pessoa, porém o amor é diferente, o amor é intenso, perigoso, mostrar em excesso é perigoso, mostrar pouco é perigoso. Amor é sorrir quando vê a pessoa toda fodida acabando de acordar e pensar "porra ela é tão linda", amor é alma, amor é pureza, amor é impureza, amor é incompreensível e inestimável. E eu sei de uma coisa, eu nunca senti esse amor, por ninguém, e não é por você que eu vou sentir, seu babaca de merda, você se acha especial né?! Acha que eu amaria você?! Se toca seu porra, você me trata como merda e depois vem com esse papo de amor?! Vai tomar no seu cu!

E lá estava Kim Seungmin, puto, com ódio certamente. Ele xingava seu antigo ficante, que por sinal, fez juras e mais juras de amor durante dois meses e sumiu com um loiro burguês na primeira oportunidade sem dar explicações, mas voltou, achando que Seungmin seria idiota o bastante para o aceitar de volta, como se ele fosse alguém que aceitava ser segunda opção.

- O que você tá fazendo aqui ainda seu desgraçado?! Some daqui porra acha que eu sou otário pra ficar com dó de você?! Vai chorar na casa do caralho do seu loiro oxigenado seu pau no cu! Na hora de me comer tava bom né, agora na hora de assumir alguma coisa você some seu bosta, então some da minha vista e não aparece nunca mais seu nojento! Vai pra casa do caralho!

Ele gritava, bem provávelmente os vizinhos ouviriam, mas no momento ele não ligava, chutava e estapeava o coreano em sua frente para fora de sua casa. Não demorou muito para que o homem fosse embora com a roupa amarrotada, e Seungmin entrasse novamente na casa de três pequenos cômodos, trancando a porta, e indo direto para o quarto, certamente possesso.

Ele olhou seu rosto no reflexo do vidro, analisou todo e qualquer detalhe, sorrindo triste, agoniado, vendo as marcas das lágrimas, do rímel borrado em seus olhos e bochechas. O sorriso logo saiu de seus lábios. Ele ajeitou sua postura, olhando fixo para o espelho e voltou a chorar.

Chovia, ele chovia, e também trovejava em meio aos gritos irritadiços, cansados, desesperados. Havia ficado lindo para nada, novamente. Arrancou suas roupas, peça por peça, acessório por acessório, com tanta raiva que estourou um dos colares que usava.

Por quê todos sempre fugiam? Essa era a pergunta que rodava sua cabeça. Ele se sentou no chão, semi nu, tocou seus fios de cabelo bordô lentamente e acariciou sua cabeça em um cafuné solitário enquanto soluçava, soluçava muito, chorava muito. E não, ele não amava o garoto que havia o deixado na mão, ele não amava, somente não entendia, por que todos sempre o deixavam? Ele era pouco interessante? Pouco atraente? Fútil? Complicado demais? Esquisito demais? Falava demais? Era feio? Queria sentir amor, queria ser amado pelo menos uma vez, queria sentir aquilo, queria alguém que aquecesse seu coração, queria alguém que não o abandonasse, queria alguém que o fizesse se sentir vivo novamente.

Chovia, ele chovia, e em um riso frouxo em meio ao choro ele alcançou o celular que começou a tocar, olhando quem o ligava, atendeu, ouvindo a voz rouca e cansada no outro lado da linha.

- Seung? Está tudo bem? Eu ouvi seus gritos. Quer conversar? Eu estava tentando dormir, não consegui, acabei ouvindo um pouco do que aconteceu. Se não quiser falar tudo bem.

- Uma companhia agradável como a sua séria ótimo agora, Changbin.

|Seungmin POV|

Changbin é meu vizinho, um bom homem, gentil, sempre que sua pequena horta tem algo faz questão de perguntar se quero algo. Somos próximos, fofocamos bastante na porta de casa, as vezes trocamos mensagens, e sinceramente? Confio nele, até porquê, não tenho ninguém melhor para confiar, além dele, só posso confiar no gato da senhora Jung que aparece querendo algum mimo e em Minho, meu antigo colega de classe que aos poucos virou meu melhor amigo.

- Quer café? Chá? Eu fiz hoje mais cedo...

Disse ajeitando o moletom velho com um preto desbotado que vesti ao meu corpo junto de um shorts jeans enquanto o olhava se sentar a mesa na minha cozinha. Já era mais de duas horas da manhã quando o ouvi bater na porta de casa e entrar com os cabelos bagunçados e pedindo licença depois de apagar e jogar a bituca do cigarro fora.

- Café, por favor.

O vi suspirar tenso. Tinha olheiras fundas, diferente do costumeiro, não estava energético, e sim abatido, cansado, o motivo de seu cansaço talvez também fosse o motivo de seu sumiço nós últimos dias.

Eu coloquei água para ferver em um bule e me sentei na cadeira a sua frente na mesa, me debruçando sobre a madeira cansado.

- Quem foi dessa vez? Jihoon?

- Yeonjun.

- Eu avisei que ele era um bosta, Seung.

- Não preciso de seus sermões logo agora, Seo Changbin.

- Não vim para sermões, estou cansado demais para isso. Vim para ficar com você, assim pelo menos ficamos na fossa juntos.

- Muito animador você em.

Ele soltou um riso e levou a mão aos meus cabelos, me fazendo um carinho gostoso.

- Eu sei que quer falar, você nunca fala, mas eu sei que quer falar.

- Falar o que?

- Quão fundo é o buraco que você tem dentro desse seu coraçãozinho que tenta preencher com tantas pessoas erradas?

Eu suspirei forte. Contar o que sentia para alguém que não fosse um felino laranja e branco que toma meu leite toda manhã seria bom.

- Eu só estou preocupado. Você sabe que precisa de ajuda psicológica, por que não procura?

Eu me levantei, preparando o pó do café e as xícaras. Em segundos desisti de contar o que sentia, talvez não valesse a pena, pelo menos agora, queria esquecer um pouco isso.

- Eu só quero alguém que realmente me ame, Changbin.

Suspirei novamente enquanto passava o café e sentia o cheiro gostoso da bebida invadir a cozinha.

- Nem mesmo minha mãe me amou, alguém precisa me amar, não acha?

- Você procura incansavelmente amor em coisas fúteis, em pessoas que não querem amor. Precisa procurar nas pessoas certas, começando com você mesmo.

O olhei brevemente, e o servi uma xícara com o café, logo o entregando o açucareiro.

- A pessoa certa não vem até mim, eu preciso procurar ela.

- E existe pessoa certa, Seungmin?

...

Existe pessoa certa...?

...

- Seung, se a pessoa certa existe, ela vai entrar na sua vida naturalmente, não se esforce tanto por algo tão simples. O amor não se força.

Ele dizia em um tom firme, mas preocupado, enquanto bebericava o café e me olhava cansado, desistiu de falar algo e se levantou, deixando a xícara na mesa e indo até mim, se escorando ao meu lado no armário.

- O amor vai vir quando você menos esperar, não se desespere tanto... Só espere e você vai ver.

Ele me sorriu e deixou um carinho em meus cabelos novamente, voltando a se sentar quieto.

Só de madrugada - Seungbins Onde histórias criam vida. Descubra agora