Nicholas havia acabado de aceitar que sua vida pendia sobre uma fronteira mórbida quando leu o e-mail enviado pelo Hospital Sapporo em sua caixa de entrada.
──────────────────
Hospital Sapporo
Paciente: Wang Yixiang
CPF: xxxxxxxxx/xx
RG: xx.xxx.xxx-x
Telefone: +81 11 xxxxx-xxxxResponsáveis
Mãe: Liu Jingyi
Pai: Wang DonghaiStatus: N° 2 na fila de espera para transplante de coração.
──────────────────Então olhou para a data de envio do email.
01/02/2021
Fez-se exatamente um ano desde que o email foi enviado. Até então, ele continuava sendo o segundo da fila de espera para um transplante. Isso fazia com que ele continuasse no mesmo dilema: o fim do que conhecia como vida poderia estar próximo, por isso, ela parecia preciosa, mas também descartável.
Perante o silêncio causado pelos seus pensamentos, alguém lhe chamou a atenção:
— Nicholas, está aí? Viu a mensagem que eu te enviei? — perguntou uma voz no telefone.
Nicholas saiu do aplicativo de email e abriu o LINE.
— Sim, li.
— O que acha?
— Não tenho certeza. Amanhã não vou estar mais aqui.
— Você leu mesmo a mensagem?! A confraternização é hoje a tarde.
Nicholas olhou para a data em meio ao texto e viu que Yudai estava certo.
— Não vou poder ir. Estou ocupado fazendo a mala.
— Você devia aproveitar mais. Está bem. Me ligue assim que chegar lá. Não pare de falar comigo só porque está se mudando para longe.
Nicholas franziu o cenho diante ao disparate.
— Pare com isso. Eu não vou. E eu preciso desligar agora.
— Adeus.
Encerrou a chamada.Naquela manhã, uma mala estava aberta no chão de seu quarto. Ele estava ladeado de roupas esparsas no chão ou na mobília, calçados revirados e produtos de higiene enfiados em sacolas ecológicas que fechavam com um cordão branco.
Nicholas conseguiu uma vaga numa faculdade de arquitetura em uma segunda tentativa, no entanto o prédio da universidade se encontrava na cidade de Asahikawa, onde, de Sapporo, levava mais ou menos duas horas para se chegar de ônibus.Mesmo que quisesse, ele não podia se dar ao luxo de pegar trens ou metrôs lotados todas as manhãs, de até mesmo correr apressado pelas estações quando estivesse atrasado. Por isso, passou as noites de janeiro pesquisando por lugares próximos da Universidade de Asahikawa aonde poderia pernoitar, todavia seus pais se preocupavam. Ao sair de casa e ir morar longe dos parentes e do Hospital Sapporo, talvez não encontrasse alguém que saberia ajudá-lo caso algum momento crítico chegasse. Foi pensando nisso que Nicholas escolheu uma pensão com quartos compartilhados para morar.
Seu ônibus partiria da rodoviária de Sapporo às três horas da tarde do dia seguinte. Quando esse momento chegou, sua bagagem foi socada junto de várias outras em um compartimento próximo das rodas do ônibus. Ao embarcar, Nicholas viu a paisagem da cidade densa de Sapporo sumir aos poucos e dar lugar a charnecas com vegetações secas e gramas altas. Em seguida, campos abertos de plantações de arroz banhadas pelo sol foram passando rapidamente até ficarem para trás. Após uma hora, o ônibus fez uma parada numa rodoviária de uma cidade menor, ainda que grande, chamada Takikawa. Nicholas foi ao banheiro e depois a uma loja de conveniência Eleven adjacente. Comprou uma pequena bandeja de rodelas de sushi e uma garrafa de água, comeu e então retornou ao ônibus e à estrada.
A cidade de Takikawa sumiu gradualmente até dar lugar a uma paisagem de morros baixos e fechados, com diversas árvores tão amontoadas que formavam desfiladeiros. Do lado em que estava sentado conseguia ouvir as águas do rio Ishikari escorrendo pelas pedras, e por conseguinte uma cidade começou a emergir no horizonte. Era Asahikawa.
Nicholas desceu na rodoviária local, pegou sua mala e procurou o mural onde deveria haver folhetos informativos e mapas. Ele descobriu um ponto de táxi que ficava a uns três minutos dali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Heart Sound | &TEAM
FanficNicholas sofria de dois problemas: insuficiência cardíaca e dificuldade em desenvolver interesses românticos. Semanas após se mudar para uma pensão em Asahikawa, seu maior desafio veio à tona e ele precisou enfrentar um transplante de coração. No en...