Capítulo 2: Loja de inconveniência

140 26 15
                                    

  Nicholas não esperava que Euijoo também estivesse no curso de arquitetura da Universidade de Asahikawa. Havia sido surpreendido pela manhã, quando sentado na primeira fileira, a mais próxima da porta e do tablado, o viu entrar junto de um homem de aparência vigorosa e encorpada. Euijoo expressou uma sutil empolgação ao vê-lo, exclamando seu nome ao se aproximar e sentar-se ao seu lado, o apresentando a Fuma Murata, um amigo de longa data.
  — Nós podemos almoçar juntos. Há uma lanchonete aqui no campus que eu vi assim que entrei — sugeriu Byun.
  Eles foram para a lanchonete anteriormente mencionada num pequeno intervalo entre duas matérias, e apesar do preço amargo decidiram lanchar lá — mas só daquela vez!

  Nicholas fitou o cardápio encarapitado na parede atrás do balcão enquanto Euijoo comprava dois espetos de kushiyaki e Fuma esperava seu prato de omelete de arroz ficar pronto, mas voltou do balcão de mãos inanes quando chegou a sua vez de pedir.
   — Estou sem apetite — justificou quando se aproximou da mesa.
  Fuma, segurando seu prato de porcelana branca pelas laterais com o rosto escondido pela cortina de vapor que subia do seu omelete recém pronto, disse:
  — Você sente falta de apetite frequentemente? É por isso que está tão magro.
  Euijoo emudeceu. Era visível que, por mais que quisesse, não conseguia dizer nada. Nicholas, no entanto, era diferente: quando irritado o suficiente, imediatamente rebatia os desaforos. Havia feito isso várias vezes com Yudai, principalmente quando ele tentava se envolver em seu carecer de interesse romântico. Todavia, em respeito ao seu colega de quarto — pois ambos repentinamente criaram um sentimento mútuo de respeito um pelo outro, em virtude das mesuras que Euijoo sempre fazia ao encontrar Nicholas pela pensão —, ele também emudeceu.

  Os três rapazes passaram o resto do dia mais silenciosos em comparação ao início da manhã. Apenas mais tarde, no horário de saída, que voltaram a conversar, pois Euijoo havia convidado-o para um passeio com bicicletas alugadas no parque Tokiwa.
  — Não posso, obrigado — recusou Nicholas.
  Fuma expressou verbalmente o que pensava outra vez.
  — Está economizando dinheiro, não é? — referia-se a ele não ter almoçado. — Bicicletas alugadas não são…
  Calou-se subitamente. Euijoo pareceu ter feito algo em suas costas e aproveitou o silêncio de Murata para despedir-se amigavelmente.
  — Te vejo na pensão.

  Apesar dos desaforos, Nicholas — ainda — não se sentia profundamente irritado. Ele rapidamente esqueceu-se de Fuma quando estava de volta à pensão, banhando-se em água morna e programando seu despertador para tocar em trinta minutos, e por fim deitando-se na cama que parecia tê-lo esperado para abraçá-lo. Entretanto, subsequente ao seu deitar, alguém bateu em sua porta. "Hoje não é um dia de paz", pensou, levantando-se relutantemente. Do outro lado da porta estava a figura miúda e cabeluda de Yuma, trazendo consigo um prato branco com pedaços de pêssego fatiados.
  — Dona Mahina me disse para passar oferecendo esses pêssegos aos hóspedes… — ao olhar por cima do ombro de Nicholas, Yuma interrompeu a si mesmo e exclamou: — Minha nossa! Você tem um funko pop do Luffy!
  Sem nenhum escrúpulo, Yuma invadiu o quarto e foi em direção ao pequeno boneco, que ficava exposto sobre o lado de Nicholas na mesa de cama que ele dividia com Euijoo.
  — Você é fã de One Piece?! — perguntou em êxtase.
  — Sou — respondeu resignado.
  — Eu também! Mas a dona Mahina me proibiu de assistir porque eu não fazia mais nada além de vê-lo. Ei, moço — perdão, eu esqueci seu nome —, pode me deixar assistir um episódio por dia aqui em seu quarto?
  Nicholas negou inexoravelmente e achou um disparate que tal pedido pudesse ser feito com tamanha naturalidade.
  — Por favor! — implorou.
  — Não — repetiu. — O quarto não é só meu.
  Yuma largou o prato sobre a cama de Nicholas, o que o irritou tanto quanto a inconveniência de Fuma, e juntou suas mãos uma na outra, chacoalhando-as como se estivesse se preparando para jogar dados sobre o tabuleiro do Monopoly.
  — Eu faço o que você quiser! — suplicou.

The Heart Sound | &TEAMOnde histórias criam vida. Descubra agora