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Tsireya andava a frente enquanto guiava a família Sully animadamente até o Marui que lhes foi dado. Ela explicava coisas básicas da vila com um sorriso gigante nos lábios olhando para trás de vez em quando conferindo se sua irmã ainda estava ali ou tinha escapado. T'Kanau por sua vez andava mais atrás em um silêncio absoluto se certificando de que nenhum dos Sully se perderiam ou ficariam para trás. A mais velha tinha em mãos duas grandes bolsas que estava tampando quase que sua visão inteira. A sorte era que ela sabia exatamente para onde estava indo e o caminho já era decorado em sua cabeça. Mas o azar era que ela não sabia o que poderia estar em seu caminho.
Ela ouvia de longe a voz animada de Tsireya, mas se desconcentrou quando a ponte que era feita com materiais que a deixavam elástica começou a chacoalhar. Ela cambaleou um pouco, o peso em seus finos braços dificultando a tentativa de equilíbrio. — Ei, ei, ei. — Uma voz surgiu em seus ouvidos. Uma mão grande segurando em sua cintura a impedindo de cair direto na água. Olhando para cima ela pode ver o menino mais alto dos irmão - o mais velho provavelmente - com o corpo atrás do seu e seus rostos estando próximos. O corpo da menina ainda estava meio inclinado com as mãos firmes do maior ainda em sua cintura, mas em poucos segundos a menina se levantou completamente, os dois se afastando meio envergonhados. — Espera, deixa que eu te ajudo com isso. — Disse ele pegando uma das bolsas dos braços da menina. Ao ter tirado aquela enorme bolsa ele pode ver melhor o rosto dela e por algum motivo ele quis guardar os detalhes. — Isso devia estar pesado. — Disse tentando soar divertido.
— Obrigado. — Disse sorrindo sem os dentes enquanto o olhava. Ela olhou para trás vendo que Tsireya já havia chegado no novo lar dos Sully e que já os ajudava descarregando suas coisas. Voltando seu olhar para o menino ela deu um último sorriso mínimo e se virou caminhando na direção do marui. Ao chegar colocou a bolsa que carregava no chão.
— É, vai servir. — Falou Jake sorrindo. — É bonito. — Olhou para Tsireya com um sorriso que foi retribuído com animação. Ele olhou com o mesmo sorriso para T'Kanau que foi retribuído com um menos animado que o da irmã.
— Eu vou indo. — T'Kanau murmurou saindo do local, sem não antes dar uma última olhada no garoto que tanto lhe encarava.
A garota caminhava por entre as pessoas da vila, algumas até a cumprimentavam. Andando mais um pouco ela pode avistar seu destino; o marui de seus pais. Ela se aproximou parando na entrada vendo que os mesmo conversavam parando assim que a notaram. Ela se encostou na pilastra ali olhando diretamente para Ronal, que apenas colocou sua mão em sua própria frente, sinalizando para T'Kanau se sentar ali. A garota suspirou antes de se sentar de costas na frente da mãe sentindo as mãos da mais velha deslizarem por suas tranças começando a desfazer alguma coisa.
— Quer dizer me algo? — Perguntou Ronal notando o silêncio da filha. T'Kanau apenas deu de ombros.
— Não acha que foi muito dura com eles? — Perguntou para a mãe enquanto olhava para suas mãos, mais especificamente para seu dedo a mais. Tonowari se retirou do marui querendo dar mais privacidade para sua esposa e filha.
— O que foi? Sentiu pena deles, ou se sentiu envergonhada? — Perguntou a mais velha enquanto soltava outras filas de tranças dos agora longos cabelos da menor.
— É só que... Os olhares não se voltaram apenas para eles. — Falou virando sua cabeça para poder olhá-la nos olhos. — Também olharam para mim.
— Me escute. — Pediu fazendo a garota virar a cabeça novamente para terminar o que antes fazia em seu cabelo, logo voltando a falar. — Quando você chegou aqui, eu custei a deixá-la ficar. Mas eu senti que você era diferente, e você mostrou que era. — T'Kanau ouvia atentamente a cada palavra da mulher. — E agora eu me acostumei com você, com seus trejeitos, sua aparência diferente e sua personalidade. — As palavras de Ronal a faziam se sentir confortável, só ela sabia como a adaptação foi difícil para ambas. — Mas não é que eu me acostumei e confio em você, que eu deva baixar a guarda com qualquer um que colocar os pés aqui. E eu preciso que entenda isso. Sou Tsahik de um povo, tenho que ser sábia. — Falou finalmente tocando no ombro de sua filha pedindo para que ela se virasse totalmente.
— Não se preocupe, eu consigo entender. — Confirmou a garota olhando para baixo.
Ela sentiu a mão áspera tocar em seu queixo o levantando a fazendo assim olhar para cima. — Você é minha filha T'Kanau. — A garota assentiu. Ela precisava ouvir aquilo as vezes, quando se sentia de fora. E aquele foi um dos momentos que se sentiu fora da família, que se sentiu deslocada. Mas ali, ao ouvir sua própria mãe, ela manteve os maus pensamentos afastados. — Eu vejo você, minha filha.
— Eu vejo você mãe. — Sorriu a garota para a mulher que retribuiu. A mais velha se afastou um pouco, voltando logo após com um artefato em mãos. Um pequeno espelho com conchas e pérolas como enfeite era colocado a frente de T'Kanau, o reflexo permitindo que a garota aprecisasse o trabalho da mãe em suas madeixas. Ronal havia soltado algumas das tranças da garota, deixando fios de cachos soltos e livres escorrendo como uma cachoeira. Ela optou por não desfazer todas as tranças por saber que sua filha as amavam - e também porque o contraste de algumas partes de seu cabelo presos e outros soltos a deixavam brilhantemente bonita.
— O por quê de tudo isso? — Perguntou T'Kanau observando a mãe amarrar algumas pequenas conchas nas filas finas das tranças nos seus cabelo como um toque final.
— O jantar de boas-vindas. — Respondeu concentrada no que fazia, parando quando viu o olhar entediado da filha. — Não faça assim. Sabe que é uma tradição nos unirmos quando alguém se junta ao clã.
Dando de ombros T'Kanau se levantou e saiu se despedindo da mãe com um beijo na cabeça. Ao se aproximar de seu próprio marui, ela pode ver seu pai parado ali.
— Você está bem? — Ele questionou arrancando uma expressão confusa da mais nova. — Por que eu não estaria? — Respondeu ela com outra pergunta. Ele suspirou e voltou-se a falar. — Sei que a chegada de Toruk Makto foi inesperada para você. — Ela assentiu em compreensão.
— Estou bem, pai. — Confirmou tentando entrar em seu marui, sendo impedida por seu pai que se colocou a sua frente.
— Não precisa se fazer sempre de forte. Eu me lembro quando você o odiou por um tempo e sei que tem muitas perguntas. — Ele falou.
Tonowari não era do tipo que se alegrava em demonstrar o que sentia, mas ele estava realmente preocupado com a menina. — Pai, já lhe disse que está tudo bem. Eu estou bem. Já passou, eu posso conviver com Toruk Makto agora. Não se preocupe. — Ela insistiu e finalmente entrou em seu Marui deitando-se um pouco para relaxar antes da noite cair.
Tonowari suspirou novamente e saiu dali, indo ver sua esposa mais uma vez.Ao ver que os dois haviam saído, uma pequena silhueta se revelou por de trás de alguns barris que estavam por ali, correndo na direção de seu marui se repreendendo mentalmente por ter saído para brincar e sem querer ouvir aquela conversa que com toda certeza interessaria seu pai.
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𝙔𝙊𝙐'𝙍𝙀 𝙈𝙔 𝘿𝙀𝙎𝙏𝙄𝙉𝙔, 𝘕𝘦𝘵𝘦𝘺𝘢𝘮
Fanfiction━ 𝖵𝗈𝖼𝖾̂ 𝖾́ 𝗈 𝗆𝖾𝗎 𝖽𝖾𝗌𝗍𝗂𝗇𝗈.🌊 "- Eywa tem planos maiores e melhores para nós. Então por quê tentar impedi-los, ao invés de aceitá-los?"