CAPÍTULO SETE

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—Malessa—

— Onde está o seu irmão?

Estamos no salão de refeições do prédio principal. Os Reais ainda não chegaram, mas é só questão de tempo para minha mínima paz acabar.

Asena, que acabou de chegar com Kamari, senta ao meu lado na mesa enorme e cheia de comida e bebidas para o café da manhã. Me permito inspirar o cheiro delicioso da mesa posta: panquecas de mirtilo, waffle com gotas de chocolate, ovos mexidos, sanduíches naturais, vários tipos de bolos e sucos, frutas secas de um lado, cítricas de outro...

Era indecente e desrespeitoso começar a comer antes dos Reais se sentarem à mesa e darem a permissão, mas eu juro que se os dois não chegassem daqui a três segundos, eu mandaria a decência e o respeito aos infernos com prazer.

Somente os principais líderes dos Caçadores foram chamados para se sentar à mesa hoje. Argos, Asena e Kamari. Zand e eu estamos aqui para as broncas e sermões, é claro. Mas, pelo visto, meu irmão decidiu se atrasar e deixar que Asena comece a tortura verbal — e talvez física, quem sabe — só comigo. Ótimo.

Balancei a cabeça negativamente, não desviando os olhos da mulher ruiva, porque seria um erro enorme olhar para outro canto enquanto ela ainda falava comigo. Então me apressei em responder, mesmo já tendo dado a resposta com a cabeça.

— Eu não sei. Já era para ele ter chegado.

— É claro que já era para ele ter chegado. — ela fala irritadamente, provavelmente pensando se seria conveniente me dá um tapa na cabeça, como sempre faz quando está estressada ou zangada comigo. — Mas parece que o sensor da sensatez de vocês deve estar quebrado.

Tá, eu diria que ela está bem zangada. Poderia sentir suas emoções a quilômetros de distância. Asena olha em volta e decide não fazer nada comigo, por enquanto. A mesa estava quase cheia.

     Argos está sentado do outro lado, à minha frente. Não fala nada enquanto a mulher se segura para não me bater, e vejo que ele luta para não rir alto.

Kamari também se mantém quieta, mas graças aos Deuses, ela parece estar no próprio mundo e nada concentrada em mim.

     Para meu alívio temporário do questionário irritante sobre o paradeiro do meu irmão, os dois filhos de Valerya acabam de entrar na sala, mas nada dos seus pais. Pelo menos isso deve ser o suficiente para minha querida tia Asena guardar as garras para depois dessa reunião.

Observo o garoto. Ele é alto, dois anos mais velho que eu, herdeiro do trono de Gaïus, e... meu ex namorado. Desvio o olhar instintivamente para a garota odiosa atrás dele. Era bem mais nova, tinha seus 18 anos. E era uma praga nessa terra. Eles se sentam um pouco afastados.

Willow, a menina de cabelos loiros e olhos castanhos, não olha para nada além da própria adaga ao se sentar. Mas Arlo, o irmão de cabelos de um tom de castanho-escuro, tem a decência de acenar com a cabeça e desejar um bom dia. Todos retribuem com um sorriso fraco, até Asena, mas eu permaneço calada até mesmo quando, por um mísero segundo, aqueles olhos azuis cristalinos pousam em mim.

Minha relação com Willow é um pouco conturbada. Não suporto os episódios de surtos histéricos quando está irritada ou só fazendo drama, ou o comportamento mimado. E, infelizmente para minha pouca paciência e sanidade, é tudo o que ela tem a demonstrar nos últimos anos.

Já com Arlo, tento fazer com que as coisas sejam completamente profissionais, desde que decidi terminar o namoro. Um namoro que começou a 3 anos — quando eu tinha 18 e ele 21 anos —, e durou até alguns meses atrás, quando percebi que era errado empurrar algo fadado a não funcionar.

~Depois do AnoitecerOnde histórias criam vida. Descubra agora