Três| 𝑃𝑟𝑜𝑣𝑎 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑔𝑜

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"𝑂𝑠 𝑜𝑙ℎ𝑜𝑠 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑑𝑖𝑧𝑒𝑚 𝑎 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒."
— 𝑁𝑖𝑐ℎ𝑜𝑙𝑎𝑠 𝑆𝑝𝑎𝑟𝑘𝑠

G A I A

O dia está claro quando entro na boutique, vendo Veronica parada na recepção. A loira veste um vestido preto justo ao seu corpo e um salto da mesma cor, ela me analisa durante toda a minha caminhada até o balcão e de repente ter colocado meu vestido branco com flores azuis não me pareceu uma boa ideia. Veronica sempre teve um quê de moda e ter saído da Itália para seguir a carreira de modelo foi, sem dúvidas, a melhor coisa que já fez.

Ela dá um sorriso e me abraça, deixando seu cheiro doce em mim. Sinto minhas mãos tremerem e a ânsia por sentir o pelo de Van Gogh aumenta, nunca senti tanta falta de um gato como sinto da pequena bola de pelos laranjas.

— Quanto tempo, Gaia! Você está linda.

— Ah, é... — Reagi, sem graça. — Obrigada. Você continua a mesma de sempre.

— Espero que isso seja bom. — Ela ri de um jeito como se alguém fosse bater uma foto dela a qualquer momento. E se bobiasse, era bem capaz.

O cheiro de coco invade todo o ambiente, deixando claro que Ivana está se aproximando. Ela sorri durante todo o tempo, com seus olhos oscilando entre mim e sua irmã, pousando-os nos meus, por fim. Meu coração acelera somente por estar no mesmo local que ela, sua feição demonstra felicidade e ela irradia. Sempre foi assim, Ivana traz luz aonde quer que passe, ela é o próprio sol e nós somos os planetas que a orbitam, sendo invadidos por toda a sua luminosidade.

Olho para o céu cheio de nuvens acima de nós, nos aventurar subindo no telhado de casa era, com certeza, um de nossos passa-tempos favoritos. Aqui eu podia deitar ao lado de Ivana, segurar sua mão e sentir seu cheiro doce sem que ninguém nos julgassem com os olhos ou palavras, podíamos ser nós sem nos escondermos. Aliás, não passávamos de boas amigas e mesmo assim, éramos julgadas a todo tempo. Desta vez estamos acompanhadas de uma garrafa de tequila, a qual achamos jogada no quarto de Veronica, ela detesta quando entramos em seu quarto e por isso o fazemos.

A loira cantarola uma música baixinho. Escuto com atenção a voz angelical que faz jus a sua aparência de anjo. Meu anjo. Olho para ela enquanto canta, mezzo parece ter vindo de outro lugar, ao auge da adolescência já é perceptivo o quanto ela irradia.

Se você não parar de me olhar vou ficar vermelha.

Você já está, mezzo.

Ela leva as mãos ao rosto para cobrí-lo. As retiro.

Gosto quando fica assim, deixa seus olhos marcados.

E desde quando isso é bom?

E por que não seria?

Eles não são normais. Todo mundo vê isso mas parece que você não.

E quem é que quer ser normal, bambina? Não há nenhuma graça nisso e você só seria robotizada como o sistema quer. Seria mais uma.

Mas ainda sim seria normal.

Sei do que Ferragni está falando, isso não se trata somente de sua heterocromia, mesmo que tenha uma parte.

E você está se referindo a...? — Tento fazê-la de em voz alta, mas como sempre ela desvia.

— Aos meus olhos. Meu cabelo excessivamente loiro. À tudo em mim.

Ivana, você não é anormal. Seus sentimentos também não. Não é anormal gostar, não era na Era dos Romanos e não tem o porquê ser agora. As pessoas condenam simplesmente porque foram ensinadas a condenar o diferente do coletivo, foi-se colocado na cabeça delas que amar é errado, repugnante. — Procuro palavras para continuar. — Não somos anormais nem impuros. Por nada. Só somos... Pessoas.

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