Antes Que Você Case | ⚢

Um| 𝐶𝑜𝑛𝑣𝑖𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

"É 𝑢𝑚 𝑎𝑚𝑜𝑟 𝑝𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑙𝑒 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑟."
— 𝑊𝑖𝑙𝑙𝑖𝑎𝑚 𝑆ℎ𝑎𝑘𝑒𝑠𝑝𝑒𝑎𝑟𝑒

G A I A

O amor pode ser fatal. Sei disso mais do que ninguém. Mas não fatal em caso de morte. Pelo menos não física e sim metafísicamente. Ele vem aos poucos, como uma corrente marítima pela manhã; fraco, porém se tornando mais forte ao longo do dia. Se souber nadar no seu sentido, com sorte conseguirá se salvar; caso não, se afogará e não terá ninguém para o impedir.

Passei anos lutando contra a correnteza, tentei permanecer viva sobre qualquer hipótese, afinal, não era somente minha vida que estava em risco naquele alto mar. Quando finalmente aprendi a deixá-la seguir, fui engolida por uma onda; no começo tão boa que mal podia acreditar, mas, no fim, aquele pequeno alto se tornou um tsunami que devastou tudo.

Eu me encontrava devastada neste exato momento.

Encaro o pequeno pedaço de papel branco em minhas mãos. A letra cursiva brilhante, da qual me lembro bem, indica que foram escritos a mão. O nome nele anotado me assustou quando o vi pela primeira vez. Ivana Ferragni e Benjamin Cavichioli. O que me espantou não foi o segundo nome, até porquê nunca o tinha visto, mas sim o primeiro; Ivana Ferragni. Lembro-me do último ano em que passei junto de Ivana, todas as madrugadas que passamos acordadas rindo de revistas sem graça, as conversas sobre futuro que nunca se realizaram; sonhos que aos poucos foram se afastando. Como nós desde aquele dia.

Não posso negar que fiquei surpreendida quando seu convite chegou. Apesar de mantermos um contato cheio de tensão e distância, não imaginei que um dia ela poderia me chamar para seu casamento ou mesmo me convidar para ser sua madrinha. Veneza sempre fui um lugar no qual gostaria de conhecer. Foi um dos nossos sonhos. Agora ela o está realizando, mas com outra pessoa.

A melodia suave do piano me traz de volta para uma realidade terrível. Meu vôo sai daqui a algumas horas e ainda estou sentada, com a mala pronta, decidindo se vou ou não. Há prós e contras em minha ida, uma delas é reencontrar Ferregni depois de anos; isso pode ser justamente um pró e um contra.

A música acaba e passos subindo a escada tomam o seu lugar. Não demora muito para que uma leva batida na porta seja dada e um Nick com seu jeito Nick apareça. Sua face se franze quando ainda me vê sentada, sua esperança era me encontrar prontamente arrumada, o esperando para que me leve ao aeroporto para viver meu grande reencontro. Obviamente isso não acontece.

Após uns instantes, suspira e caminha em minha direção, se sentando na cama. Envolve minha mão na sua, olhando-me como se tentasse ler tudo o que se passa em minha mente. Mal sabe ele que nem eu mesma consigo distinguir as formas e harmonias. É uma cacofonia mental.

— Por que ainda está na cama?

— Estou em conflito comigo mesma, não tenho ideia se realmente devo ir. — Digo a verdade.

— Por que não ir? Faz muito tempo que vocês não se veem e te fará bem dar um tempo do trabalho.

— Essa é a questão, Nick. Faz muito tempo que não nos vemos, e se ela mandou esse convite somente por mandar?

— Não faria sentido ela te chamar para ser madrinha só por chamar. Gaia, ela quer que você vá. Se divirta, tire um tempo para você.

— Posso tirar um tempo para mim aqui, com você. — Sorrio e abro os braços. — Olha que maravilha!

— Não adianta, não vai conseguir me convencer. Vamos levantando.

Nick se levanta e me carrega com si, forçando-me a ficar de pé e sair. Pega minhas malas como se fossem as coisas mais leves do mundo, me empurrando para fora. Não tem problema, serão somente duas semanas.