Cinco| 𝑆𝑜𝑧𝑖𝑛ℎ𝑎

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"𝑀𝑎𝑛ℎ𝑎̃ 𝑠𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒́ 𝑢𝑚 𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑎𝑐𝑒𝑟 𝑚𝑖𝑛𝑔𝑢𝑎𝑑𝑜."
— 𝐸𝑚𝑖𝑙𝑦 𝐷𝑖𝑐𝑘𝑖𝑠𝑜𝑛

G A I A

Acordei sozinha no quarto, dois dias atrás, após horas mal dormidas. O leve encostar de lábios de Ivana foi o suficiente para que eu perdesse horas de sono, me peguei alisando seu rosto durante todo o momento que me mantive acordada, como uma pessoa só poderia mexer tanto com a cabeça de outra?

A paixão é um sentimento estranho, sentimos que necessitamos estar perto da pessoa que desejamos, passar horas a fio com ela, como se nada ao redor importasse. Vivemos nessa bolha colorida e aconchegante até que a furem, fazendo-nos sofrer.

Dependendo de sua profundidade, sofremos menos; porém, se estamos totalmente envolvidos e entregues, sofremos como se não houvesse o amanhã. Ficamos absolutamente entregues à dor, desespero e angústia.

Não importa quanto tempo passe; quantas pessoas entrem ou saia de sua vida, sua paixão sempre estará lá. Não acreditava quando minha mãe dizia que o amor é algo poderoso. "Sua primeira paixão sempre terá um espaço especial na sua vida", ela costumava me dizer nos seus momentos de reflexão.

Quando meus sentimentos passou a girar em torno do que Ivana achava, foi nesse instante, que passei a levar em consideração o que ela dizia. Em dado momento da minha adolescência, eu me vestia para ela; saber que ela gostava quando eu vestia azul me motivava a usá-lo com mais frequência, quando ela me elogiava por coisas na qual fazia e não dava importância enchia meu coração de felicidade. Eu entrava em êxtase toda vez que ela me olhava, ficava dormente quando me tocava.

Até sermos brutalmente separadas uma da outra. Cada uma seguiu sua vida como achava correto, ela encontrou alguém para que pudesse apresentar a sua família sem objeções e eu me mudei para o Canadá para focar inteiramente na única coisa que fazia-me sentir viva: a pintura. Deu certo por vários anos. De personagens viramos telespectadores de nossas vidas. À distância, víamos uma a outra crescer, com todos nossos sonhos compartilhados engavetados.

Busquei por mulheres com quem pudesse me relacionar, por quem pudesse me fazer sentir como ela fazia. Após tentativas frustadas, parei por buscar relacionamentos e me deparei com a felicidade em um par de mãos perfeitas para confeitar. Nick apareceu em um momento que mais me sentia só, quando a solitude havia virado solidão e apossando de mim de uma forma que não via uma saída. Seus olhos brilhantes e piadas ruins me fizeram reviver.

Encaro a tela do notebook quando sua imagem aparece, sorrindo como sempre. Apesar das dificuldades, Miller sempre estava com uma fileira de dentes perfeitamente brancos no rosto.

— Vai ficar com rugas, gatinha.

— Deixa de graça. Como andam as coisas por aí?

— Incrivelmente silenciosas sem sua presença. — Levo a mão ao peito, fingindo ofensa.

— Sei que não está conseguindo se virar sem minha presença. Sou a luz que ilumina seus dias.

— Com certeza. Sento todos os dias no chão segurando uma foto sua. — Rio.

— Sinto sua falta, Nick.

— Também sinto a sua, Yaia. Como você está se saindo?

— Está correndo tudo bem, não sinto mais um abismo entre Ivana e eu. Mas Veronica não para de me perguntar o que eu faço aqui, como se fosse a coisa mais surreal do mundo.

Antes Que Você Case | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora