Dez| 𝐶ℎ𝑢𝑣𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑟𝑎̃𝑜

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"𝑂𝑙ℎ𝑒𝑖-𝑚𝑒 𝑎 𝑚𝑖𝑚, 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑠𝑒 𝑡𝑢 𝑚𝑒 𝑜𝑙ℎ𝑎𝑠𝑠𝑒𝑠. 𝐸 𝑒𝑟𝑎 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑠𝑒 𝑎 𝑎́𝑔𝑢𝑎, 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑎𝑠𝑠𝑒..."
— 𝐻𝑖𝑙𝑑𝑎 𝐻𝑖𝑙𝑠𝑡

I V A N A

A chuva começou a cair logo depois que saí do restaurante. As primeiras gotas geladas caíram suavemente em meu rosto, fazendo-me sorrir enquanto levantava o rosto para o céu escuro. Um arrepio percorreu minha espinha quando a água escorreu pelas minhas bochechas e deslizou pelo meu pescoço. Era uma sensação refrescante, como se a chuva estivesse lavando toda a tensão e confusão que me consumiam desde aquele momento no restaurante.

Ali, sob a tempestade repentina, em uma clássica chuva de verão, eu me permiti sentir. O toque dos lábios da minha Gaia contra os meus ainda estava fresco em minha mente, e meu coração palpitava com a lembrança daquele beijo. O beijo que sempre esteve escondido nas sombras de nossa amizade. E, agora, tudo estava vindo à tona, como a chuva que caía incessante ao meu redor.

Enquanto meus pés descalços afundavam na água que se acumulava nas poças, senti a leveza em minha alma. Enquanto a chuva engrossava, eu ri para o céu, sentindo cada gota em minha pele como se fosse uma bênção. Aquele beijo fora agridoce, mas a beleza estava em sua sinceridade. A verdade é que eu a amava, sempre amei, mas temia arriscar nossa amizade por algo tão delicado e desconhecido. Algo tão... proibido.

Agora, com a chuva lavando minha preocupação, percebi que não importava o que o futuro nos reservava. O presente era o que importava. Nenhum dos nossos beijos foram um erro, mas sim um passo audacioso em direção ao meu verdadeiro eu. Era um pouco difícil ainda aceitá-lo, mas eu estava disposta a entendê-lo.

Enquanto a chuva me envolvia, eu me sentia livre. Livre para ser eu mesma, livre para amar quem meu coração escolhesse. Os julgamentos e preconceitos da sociedade pareciam tão distantes quanto os trovões que ecoavam ao longe.

Sem nenhum medo, deixei a chuva encharcar cada fio de meu cabelo e cada pedacinho de minha pele, como se ela pudesse limpar todas as dúvidas e receios que me impediam de ser verdadeira comigo mesma. A água escorria pelo meu corpo, levando embora tudo o que me fazia hesitar. E, naquele momento, com a chuva como testemunha, eu me permiti ser eu mesma, sem restrições ou máscaras. O amor que eu sentia por Gaia era belo e genuíno. Algo precioso demais para ser trancado na gaveta da minha covardia novamente.

Em um momento de frenesi e muita determinação eu pego o celular, sem me importar nem um pouco com a água - se ele parasse depois disso, para mim ainda seria lucro -, e rapidamente encontro a conversa de Gaia, tão pouco acessada, e decido lhe escrever uma mensagem dizendo que vou contar tudo para Benjamin e cancelar o casamento, mas antes que eu tivesse a oportunidade de enviar, o telefone descarrega. Xingo internamente, mas não fico com raiva, pois mesmo que essa mensagem não tenha chegado, eu não deixaria de cumpri-la.

Quando abaixo a cabeça para guardar o aparelho na bolsa, vejo a silhueta de Benjamin na porta de entrada do hotel. Eu sorrio para ele mas tudo o que ele me retribui é um olhar espantado antes de abrir o guarda-chuva e se posicionar ao meu lado tão rápido que não me sobra tempo nenhum de registrar seus movimentos.

— Vamos embora.

— Agora? — Pergunto. — Cadê Henry e Sophie? Eu não me despedi deles.

— Eles fizeram reserva aqui. Vão passar a noite. — O moreno respondeu em um suspiro pesado.

— Se eu soubesse tinha me despedido deles antes de vir buscar o carro.

— Está tudo bem, eu me despedi por você.

Antes Que Você Case | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora