Nove | 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑒𝑠𝑡𝑎𝑑𝑒

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"𝐴𝑚𝑒 𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑡𝑒𝑚, 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑡𝑒 𝑒𝑛𝑠𝑖𝑛𝑒 𝑎 𝑎𝑚𝑎𝑟 𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑡𝑖𝑛ℎ𝑎."
— 𝐶𝑙𝑎𝑟𝑖𝑐𝑒 𝐿𝑖𝑠𝑝𝑒𝑐𝑡𝑜𝑟

G A I A

A tempestade vem quando menos se espera. Muitas vezes ela mostra sua face, outras, nem tanto; vem sorrateiramente, sem esperar mensagens de boas vindas ou festas. Essas são as piores. As que mais devastam. As que mais doem. Quando ela cai de uma vez é rápido e passageiro; mas quando se acumulam, vêm em grande proporção, sem se importar com nada a sua frente.

Minha tempestade está formada. Há anos condensando-se a perfeitas harmonias prontas para despencar em cima de mim, esmagando-me e certificando-se que não estarei viva ao amanhecer.

Pronta para ultrapassar o Supertufão Mawar de categoria cinco, Ivana retornou para a minha vida preparada para destruir tudo sem nem mesmo saber que poderia destruir, soube disso a partir do momento em que pus meus olhos novamente em seus cabelos loiros e tive a certeza quando senti seus lábios contra os meus, sua respiração quente e tranquila. Eu deveria ter voltado no mesmo instante. Pego o primeiro avião de volta para o Canadá e seguido a minha vida. Mas me forcei, continuei aqui baseada na esperança de conseguir esquecer qualquer sentimento existente e forçando a fachada de boas amigas.

Porém, alguma coisa mudou quando eu a vi. Algo poderoso me fez desejá-la mais que o normal, talvez os anos mal resolvidos, ou então a sensação traidora de desejar alguém que não poderei ter. Não estou pronta para largar isso, mas almejo isso todas as noites que me deito, amaldiçoando-me por ainda estar.

A notificação em meu celular foi o fio de esperança na qual eu me agarrei. Quando me encontrei com Madelyn, meia hora depois, estava determinada a esquecer qualquer chance de triângulo amoroso, pelo menos por essa noite. E estava indo tudo perfeitamente bem, era bom estar com a Mads novamente, sem ter que pensar em problemas.

A taça de vinho permaneceu a centímetros do meu rosto quando meus olhos encontraram os seus. O sorriso em meu rosto se desfez quando finalmente me dei conta de quem estava ali, a dona dos meus pensamentos mais confusos. Ivana entrava no restaurante de mãos dadas com seu noivo, que parecia entusiasmado enquanto puxava sua mão.

Permaneci com meu olhar em Madelyn quando a loira passou por mim e não ousei segui-lá. Bebi o restante do líquido arroxeado em um só gole e suspirei.

— Você está bem?

A finlandesa pergunta com um ar de compreensão.

— Claro. — Dou um sorriso nasal. — Do que falávamos mesmo?

— Do quanto você está maravilhada por me ver. E que meus olhos são mais hipnotezantes que a vista do Club del Doge.

— Claro, era isso que estávamos falando.

O calor de sua mão chegou antes mesmo de pousá-la na minha. Seu dedo traçou as linhas da minha palma, coisa que fazia para me confortar quando estava tomada por angústia.

— Bom, vou fingir que você não se abalou com a chegada de uma loira avassaladora. Mas se falar sobre, estou aqui. Caso não queira, vamos só comer nosso linguine allo scoglio.

— Obrigada.

Permaneci todo o jantar distraída, pensativa e em modo automático. Minha mente oscilava entre não olhar para a mesa da Ivana atrás de mim e prestar atenção em Mads.
Não sei qual foi o instante em que levantei da mesa, atordoada, e atravessei o recinto e entrei no banheiro. Foi uma brecha entre escolher a sobremesa, fisgadas e Ivana se movendo para essa região. Como um imã, fui arrastada com toda sua magnitude.

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