os músculos exaustos do teu braço

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Capítulo 9 - Os músculos exaustos do teu braço

E nos músculos exaustos do teu braço

Repousar frouxa, murcha, farta,

Morta de cansaço

Tatuagem, Chico Buarque

Eu sinto vergonha de tudo o que fiz depois que tive aquele exame, aquele resultado, aquela sentença em mãos.

Muita.

A ponto de querer inventar desculpas quando não consigo esquecer, tentar imaginar que houve algum terceiro fator, um elemento incontrolável, que só fiz o que fiz porque não era eu ali.

Mas era eu.

Assim fraca, assim confusa, assim perdida: era eu.

Uma parte gigante de mim preferia estar sozinha para receber aquele resultado. Não para esconder dele ou algo assim, era só que eu queria poder absorver, talvez beber uma água e não parecer tão cansada quando fosse lhe dar a notícia.

Outra parte, uma pequenina, mas com coragem o suficiente por todo o resto, com coragem suficiente para gritar me ajuda, essa parte era imensamente grata por Taehyung estar ali comigo, os dedos firmes e certos ao redor dos meus enquanto eu olhava trêmula para o exame.

Tudo o que a médica me dizia girava, dava curvas e piruetas trágicas diante dos meus olhos. O que a enfermeira de sorriso discreto falou depois, céus, eu sequer me lembro.

Em algum momento, eu estava recebendo uma lista de coisas que teria que tomar e no outro Taehyung dirigia silenciosamente, mas eu não sabia se estávamos indo para o prédio da Hybe ou para o meu apartamento.

Percebi os dedos dele esmagando o volante. As sobrancelhas pareciam relaxadas e ele se concentrava no trânsito, mas seu maxilar estava travado e a perna que ele não usava no acelerador do carro estava inquieta.

Ele estava agitado.

Quando percebeu que eu estava encarando, virou-se mínimo, me deu um pequeno sorriso e uma das mãos apertou com carinho minha coxa.

Eu quase chorei. Nenhum homem me daria a oportunidade de ser fraca e de querer colo como Taehyung me dava ali. Os que um dia já me deram, fizeram com que eu me sentisse culpada por isso depois, usavam aquilo contra mim para me fazer cobranças.

Imaginei que o turbilhão que rodava a cabeça de Taehyung era mais violento que o meu.

E era. Ele me contou depois, bem depois, mas nunca me exigiu nenhuma palavra sobre esses dias.

Tudo o que Taehyung me pedia era que eu aceitasse a gentileza dele.

Foi isso o que me deu vontade de chorar.

— Você está bem?

Passei o indicador pelo cantinho dos meus olhos.

— Não quero mentir pra você, Tae.

— Tudo bem — ele me tranquilizou, ainda com a mão sobre minha coxa, desenhando umas coisas invisíveis, desviando de alguns carros — Eu também tô uma pilha.

Hoje sei que 'estar uma pilha' era muito longe do que ele sentia, talvez eu estivesse uma pilha, mas Taehyung estava tentando conter um vulcão em erupção.

— Mas estou feliz.

Aquele pequeno sorriso. Também me deu vontade de chorar.

Achei que ele não completaria a frase. Senti que ele não queria completar, senti aquele 'desejar algo mais para o futuro', aquele olhar esperançoso que ele me deu quando ainda não sabíamos de nada.

A Megera Cansada [Imagine V]Onde histórias criam vida. Descubra agora