No morro do alemão

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Emily Mendes

Moro no alemao desde quando sai de dentro da minha mãe, amava e odiava morar nesse morro, quase todo dia tinha invasão, muita criança envolvida onde não deve, mas entendo também, na pista só quem tinha oportunidade era os playba e pros meninos de favela a única fonte de renda era o crime, isso me deixava bem triste

Algumas meninas se achavam muito também, só quer ta sentando em macho, é a disputa pra quem mais senta no cobra, a Flávia acha que ta ganhando mas mal sabe ela do homem que tem

Tinha um lado bom de morar aqui, era tudo na humildade, não tinha preconceito, sempre era igual por igual, eu amava ver os meninos e meninas empinando a bike, soltando pipa, jogando bola e tocando as campainhas, as vezes eu até participava da brincadeira

Depois da briga com a Flávia voltei pra minha casa, encontro minha mae dentro do seu quarto chorando, eu sabia que era bem mais difícil pra ela viver com o meu pai, ele estava cheio de dívidas com o dono e tinha que dar um jeito de pagar hoje

Emilly: calma mãe - sentei do lado dela

Maria: o que eu vou fazer minha filha - me encarou- seu pai ta todo errado

Emilly: mãe deixa ele ir pra bala com o cobra - ela me olhou com raiva - ou então vai uma de nós duas

Maria: vira sua boca pra lá menina, não vai ter morte nenhuma - respondeu limpando as lágrimas

Meu pai era uma pessoa que me dava odio, ele me batia quando se drogava, me machucava muito, o pior é que minha mãe amava esse homem ainda, nunca vou entender esse amor

O único que me dava uma força era o 4k, ajudava de alguma forma minha mãe ou pelo menos tentava, ela não gostava nada dele, aliás de nenhum bandido do morro

Sai de casa deixando minha mãe cuidando do almoço, não tava nem um pouco afim de trocar uma palavra com o meu pai, desci o morro indo pra minha lojinha de roupa, conquistei no maior orgulho e estava super feliz

4k: eae nega - parou a moto na minha frente - que cara é essa?

Emilly: ai não tô legal hoje - respondi - primeiro é as coisas do meu pai que me deixa bolada, agora minha mãe chorando dentro de casa é muito triste cara - tentei não chorar

4k: boto fé, princesa, não tem como eu te ajudar nessa - agarrou minha cintura - mas fica mec, qualquer coisa brota lá em casa

Emilly: fechô - me soltei dele - vai pro baile?

4k: já me viu perdendo um baile carai - respondeu- já tô lá Fiona - bateu na minha cabeça

Emilly: foi só uma pergunta, custa responder direito cara de rato - devolvi o tapa

4k: cheio de graça diabinha - deu risada pela forma que o cobra tinha me apelidado - fé pra tu - saiu na moto

Eu e o 4k tínhamos um lance no off, achava maneiro o que a gente tinha, era quase uma amizade colorida mas ele vinha de ciúmes e eu cortava logo. Entrei na loja e já tinha algumas meninas pegando os cropped pro baile de hoje