Capítulo 1: Trem ocupado.

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Dreamer é uma andarilha sonhadora, que tem como companheiros de viagem seus fones de ouvido no bolso e livros sobre poesia e romance na inseparável mochila que leva nas costas, ela jura que um dia em algum lugar vai encontrar seu trem, vai conseguir seu próprio lugar, crendo fielmente que mesmo o mundo sendo por vezes duro e ruim, sempre teria o lado bom de toda situação. Ela já tinha tentado duas vezes antes e apesar de ter encontrado estações vagas, nunca foi escolhida para de fato entrar no trem.

Atualmente essa mesma andarilha seguia sozinha na estrada observando o céu e conversando com a lua.

- Dizem que sou uma sonhadora, que sou bondosa demais. . .Será que sou errada por acreditar?

Dizia a jovem a lua seguindo pela estrada sendo seguida pela luz do luar, enquanto caminhava pode ver uma estação de trem mais a frente, Dreamer ficou animada com a ideia, se a estação estivesse livre ela poderia tentar a sorte, quem sabe o trem parasse para ela entrar, conforme subia na estação pode ver diversos arranhões, vidros e tábuas quebradas, marcas de arranhões nas madeiras que ainda estavam intactas, os trilhos pareciam bons e seminovos, era um bom lugar.

Contudo, parecia que alguém tinha quebrado aquele lugar, folhas espalhadas no chão, garrafas de bebida e pacotes do que ela julgou ser algum tipo de droga. Imediatamente a jovem passou a recolher o lixo, Dreamer sempre foi enxerida e intrometida, ela seguia limpando, quando viu a dona da estação olhar para ela de modo raivoso, com medo Dreamer sorrio sem jeito e pediu desculpas pela invasão.

- Apesar de intrometida, você parece uma boa companhia. . .Seja uma boa distração se quiser ficar.

Disse a dona sem muito interesse, Dreamer ficou aliviada por não ser expulsa e concordou animadamente, enquanto prosseguia com a arrumação do lugar, por vezes puxava assunto com a dona do lugar, uma jovem loira um pouco mais alta que a pequena sonhadora, de uma beleza inegável, olhos marcantes e uma confiança palpável.

A loira respondia sem muito interesse a cada tentativa de conversa, Dreamer acreditou que ela estava cansada, afinal alguém fez uma grande bagunça naquele lugar.

Os dias foram passando devagar, ambas se acostumavam com a companhia uma da outra, o lugar estava mais arrumado, apesar das marcas ainda permanecerem ali e por mais que tentasse Dreamer não conseguia colocar as madeiras no lugar, as duas estavam convivendo relativamente bem, a loira sorria as vezes e até mesmo dava risadas com o jeito bobo e bondoso de Dreamer, a jovem por sua vez ficava contente por poder ver a outra mais feliz, então o trem passou pela primeira vez na estação rápido, forte e direto, sem parar ou reduzir a velocidade, como se estivesse mostrando o poder de seu motor fazendo o vento bater com força na estação e esvoaçar o cabelo de Dreamer com certa violência.

Dreamer ficou curiosa com o que pode ver da estrutura do trem, ele parecia um daqueles famosos trem bala, mas ela não pode identificar mais do que isso, Dreamer estava com receio de dizer que queria ficar ali, que queria uma oportunidade de entrar no trem, que cuidaria bem do lugar, que faria todo o possível para cuidar da estação, mas não sabia como dizer isso a loira sem se tornar um incômodo.

Então ficou por mais uns dias quietinha, limpava a estação todos os dias, vez ou outra conversava com a loira que parecia mais amistosa consigo, apesar de ser meio áspera com as palavras, Dreamer conseguia ver que no fundo a loira era uma boa pessoa, só tinha sido machucada demais.

A cada vez que o trem passava na estação ele diminuia a velocidade, até que um dia parou na estação, Dreamer ficou nervosa era a primeira vez que aquele trem parava, mas ele não abriu as portas, tudo que a jovem pode fazer foi olhar pelo vidro para constatar a situação do local, assim como a estação antes de sua chegada ali, o interior do trem estava revirado, alguns vidros trincados e bancos quebrados. Vendo aquela situação Dreamer tomou coragem e pediu a loira que deixasse ela entrar para arrumar o lugar, a dona não gostou muito da ideia.

- Não é permitida a entrada no trem, se contente com o lado de fora ou vá embora!

A jovem suspirou pedindo desculpas por se intrometer, não queria a loira ficasse chateada consigo, então se aproveitando da forma que lhe foi dita "ficou" com o lado de fora, começou a limpar o exterior trem e tentar reparar da forma que pode, ela acreditava ter feito um bom trabalho, mas antes que pudesse perguntar se tinha feito algo minimamente bom o trem partiu.

Sem ter muito o que fazer a jovem voltou a cuidar da estação dia após dia, sempre sorrindo e tentando organizar da forma que acreditava que a loira gostaria.

Um dia um garoto baderneiro apareceu na estação, ele parecia saber muito bem onde tudo ficava e mexia em tudo deixando Dreamer chateada pela forma que ele falava e fazia parecer que a estação e o trem não eram importantes, tudo só piorou quando a dona chegou, a loira parecia com raiva ao ver o garoto ali, Dreamer foi mandada esperar fora da estação já que aquilo nada tinha haver com ela, após certa confusão o jovem foi embora deixando a estação mais uma vez bagunçada, estava pior do que a primeira vez, Dreamer suspirou colocando seu melhor sorriso gentil e seguiu a arrumar tudo sem reclamar, assim que terminou questionou de forma calma quem era o jovem e por que ele fez tudo aquilo.

- Era o antigo passageiro, que por muitos trilhos esteve dentro do trem. . .

Foi tudo que obteve como resposta, Dreamer se sentiu dividida, ela queria ficar e cuidar do lugar, porém, o garoto parecia ser importante demais para a dona. Mais dias se passam e o trem para outra vez, dessa vez as portas se abrem em um sobressalto Dreamer adentra, ela estava animada por ter sido permitida entrar, começou a arrumar e retirar todo os destroços do interior do vagão, assim que removeu tudo se virou a loira que adentrava o vagão.

- Eu nunca disse antes, mas eu quero ficar aqui! Quero poder continuar cuidando da estação e prometo que cuidarei bem do trem-. . .

Antes que pudesse continuar seu monólogo notou o olhar triste e penoso da loira em sua direção.

- Eu não posso te deixar ficar. . .aquele garoto é o escolhido para ser o dono do trem, você é incrível, mas eu não posso aceitar, seria errado enganar você.

Dreamer estava triste, mas ela sabia bem que o garoto era importante, tinha visto aquilo naquele dia e notou o olhar que a loira carregava quando o garoto se foi. A jovem forçou um sorriso gentil e segurou as mãos da dona querendo deixar claro que estava tudo bem.

- Tudo bem, eu entendo. . .a estação e o trem ainda tem jeito, talvez ele queira ficar aqui e só não saiba como dizer, afinal da última vez ele não cuidou direito do lugar. . .mas dessa vez, vai ser diferente.

Com um abraço carinhoso e um beijo delicado na testa Dreamer se despede da loira suplicando mentalmente que o garoto cuidasse bem do lugar, que notasse o quanto ele era importante, Dreamer desceu do trem acenando e deu as costas saindo da estação para seguir pela longa estrada outra vez, ironicamente era uma bela noite de luar como naquela que a dias atrás trouxe ela até a estação, já um pouco longe Dreamer olha para trás vendo o garoto conversando com a loira, ambos pareciam estar se entendendo, com um meneio de cabeça e um sorrisinho fraco nos lábios Dreamer disse a si mesma.

- Meu trabalho aqui serviu de algo, ela nunca poderia me olhar da forma que olha para ele.

Deu as costas aos dois, retirou um livro da mochila e seguiu seu caminho se dividindo entre ler e prestar atenção no caminho, se perguntando: "Será que um dia eu vou ter meu próprio lugar? Ou farei parte da parcela de andarilhos que nunca terá um lugar para chamar de seu?".

Thє Ghσst Trαin αnd thє WαndєrєrOnde histórias criam vida. Descubra agora