Capítulo 10: O que restou.

0 0 0
                                    

A luz do sol bate nos olhos da jovem forçando-a a abri-los, ela sequer lembrava de ter deitado no banco, talvez tivesse isso feito durante o sono buscando uma posição adequada para dormir, com calma ela busca se sentar e só então nota que as portas do trem estão abertas, em um pulo a andarilha se põe de pé passando a mão no rosto com aquele clássico medo de alucinação, mas era real.

Ela estava vendo bem e pelo que sua mente lembrava não tinha enlouquecido, ainda. Em passos receosos Dreamer se aproxima do trem, passando a mão no espaço aberto da porta em busca de uma certeza boba de que estava mesmo aberto.

Após seu pequeno papel de tola, Dreamer olha para dentro do trem com atenção, estava revirado por inteiro, mas o que mais a chamou atenção foram as diversas marcas no interior do vagão, como se algo tivesse tentado atravessar as paredes de dentro para fora, buscando rasgar as paredes e como falhou, tudo que restou foram as diversas marcas, o pensamento comum seria se afastar e desistir dessa ideia estúpida de viver ali, como diabos era possível consertar algo como aquilo?.

Contudo, Dreamer nunca foi de seguir o comum, sua mente tola e distorcida dizia que tinha alguma forma, só precisava achar ela. Com as pernas um pouco bambas a jovem respira fundo, antes de pisar dentro do vagão e adentrar devagar, tinha trabalho a fazer e começaria por onde sabia, limpando tudo.

Em um ritmo lento e constante a andarilha recolhia tudo que iria ser jogado fora, ela estava contente por ter conseguido entrar, mais uma vez deixou a razão de lado e permitiu que a emoção conduzisse, começou a retirar tudo que acreditava não ter mais uso, suspira um tanto cansada, afinal o trem era grande e espaçoso, fazia Dreamer se questionar do porque a antiga passageira não cuidou adequadamente do local e por qual motivo ela destruiu tudo daquela maneira tão cruel.

- Deve estar se perguntando o que aconteceu para tudo ter ficado assim. . .

A andarilha se assusta dando um pulinho ao ouvir a voz da ruiva atrás de si, se vira com a mão no peito olhando a mulher que carregava um olhar dolorido e sombrio, aquele assunto ainda afetava todo aquele lugar, mas talvez não tivesse outra oportunidade de perguntar, tomando coragem a sonhadora fala de modo calmo.

- Sim, estou. . .eu só quero entender, não consigo evitar querer saber sobre tudo.

Com um suspiro e o olhar correndo pelo interior do lugar, a ruiva retorna a falar.

- Aqui dentro tinha um tesouro, algo valioso, as janelas não eram escuras antes e a. . .ela veio para roubar, se fez de bondosa e levou tudo, deixando esse caos para trás. . .Desde então não foi permitida a entrada de mais ninguém, você chegou longe, é a primeira a chegar tão perto, mas devo voltar a repetir seu lugar não é aqui.

As palavras entravam na mente da andarilha de forma dolorosa, ela olhava em volta sentindo a raiva correr em suas veias, a antiga passageira destruiu tudo por um mísero tesouro, marcou cada canto por avareza, a jovem não entendia, não fazia sentido destruir algo bom e bonito por benefício próprio, sentiu os olhos marejarem e com pesar tocou o vidro do trem.

Ela podia jurar entender toda aquela dor ou pelo menos parte dela, aquilo doía como se ela mesma tivesse sido ferida, a jovem queria fazer algo, mas palavras não bastariam, aquela ferida cicatrizou de forma errada, deixou uma marca profunda demais.

- A responsabilidade será minha, eu ficarei aqui. Vou consertar o trem da melhor forma que eu puder, assim como fiz com a estação.

Ali estava outra vez o olhar determinado, a ruiva suspirou mais uma vez, a jovem não soube identificar se por pesar ou alívio, mas antes que pudesse organizar sua mente e questionar mais, a ruiva deu as costas e sumiu.

Com mais perguntas sem resposta e uma dor emocional causada por sua própria mente ao tentar replicar como foi ser traída daquela forma, Dreamer seguiu suas palavras, se pondo a arrumar da melhor que poderia fazer, nem que para isso tivesse de se ferir ainda mais.

Thє Ghσst Trαin αnd thє WαndєrєrOnde histórias criam vida. Descubra agora