Capítulo 4: Nada em troca.

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A ruiva falava brevemente com Dreamer nas vezes em que aparecia por ali, por vezes tentava expulsar a invasora que apenas sorria e fazia piadinhas para a tirar do sério, mas nunca de fato demonstrava o menor interesse de ir embora.

Uma semana se tornou um mês e elas continuaram nessa estranha convivência onde a ruiva a mandava embora ou tentava dar motivos para isso e Dreamer apenas ria enquanto continuava a arrumar o lugar. A estação agora estava com o telhado quase finalizado, todos os dias Dreamer dava um jeito de subir e começar a reparar o telhado, o trem parecia ter desaparecido, já que não passou nenhuma vez mais desde o primeiro dia.

Dreamer dizia a si mesma que mesmo que as palavras da ruiva fossem duras e que o olhar gélido nunca deixasse sua face, ela não queria ficar sozinha, podia não admitir, mas gostava da companhia dela ou pelo menos era assim que a andarilha preferia pensar. Se tornou rotina a ruiva aparecer esporadicamente e Dreamer sempre a recebia com seu típico sorriso gentil e curativos novos, afinal, a andarilha era desastrada e acabava se machucando sem querer.

Após terminar de arrumar o telhado a invasora estava prestes a descer quando o trem passou furioso outra vez, fazendo a estação inteira tremer e Dreamer cair do telhado ao chão, mesmo que tivesse doído o impacto a jovem estava mais animada com o fato de ter visto o trem outra vez do que dando atenção as dores de seu corpo que recém sofreu com a queda.

Era uma evolução o trem passar outra vez, fazia dias desde que isso ocorreu, meio dolorida ela se levanta e deita no chão da estação procurando descansar, mas sua insônia e as dores no corpo não a deixavam pregar os olhos, a ruiva chegou silenciosamente como sempre, mas dessa vez olhou a invasora de modo preocupado, analisou bem os curativos e fisionomia cansada da jovem, com um suspiro exasperado se pronunciou.

- Eu disse para você ir embora várias vezes, aqui não é seu lugar, não entende que não vai ganhar nada com isso? Só está se machucando sem motivo.

- Eu não quero nada, eu decidi arrumar por conta própria, não estou pedindo nada de você.

Dreamer suspira chateada, a dor e o cansaço estavam deixando ela irritada e pela primeira vez a ruiva estava conseguindo machucar ela com palavras, a invasora se levanta olhando de modo sério para a ruiva, que seguia falando.

- Não vai ganhar nada com isso, pode continuar tentando me paparicar, contando anedotas estúpidas, recolocando as tábuas, telhado e limpando o lugar como quiser, continue se machucando de forma inútil, mas nada disso vai fazer o trem parar para você. . .Tire suas estúpidas lentes cor de rosa e entenda de uma vez que aqui não é seu lugar.

- Estou repetindo, faço isso porque quero! Não te pedi nada, se não pode me dar nada por livre vontade eu não quero nada de você! Vou continuar arrumando, quando eu achar que devo, irei embora. Então não perca seu tempo tentando me expulsar de um lugar abandonado, ninguém quer ficar aqui mesmo, então não importa se fico ou não.

Dreamer estava de punhos cerrados, ela sentia a raiva queimar em seu corpo e ao mesmo tempo se via perdida, não compreendia porque fazia tudo aquilo, porque não desistia, porque não foi embora antes, apenas sentia que devia ficar ali e essa sensação estranha a mantinha no mesmo lugar.

Naquela noite as duas brigaram verbalmente, acertaram todos os pontos fracos que sabiam uma da outra, no fim a ruiva foi embora deixando a invasora chorosa ali sentada em um cantinho enquanto olhava a lua.

Thє Ghσst Trαin αnd thє WαndєrєrOnde histórias criam vida. Descubra agora