A Princesa de Gelo

Monte Carlo

- Sejam todos bem vindos ao castelo de Monte Carlo! Anunciava Amélia, a preceptora de Olívia. Além do trabalho que desenvolvia com a princesa, Amélia Bellerose também era duquesa e viúva de um falecido general do exército monegasco. Do fruto de seu casamento, a duquesa teve uma filha. Amélia já passava dos quarenta, mas tinha um rosto bonito e traços joviais. - Venham! Acomodem-se. Disse ela, encaminhando todos os convidados até um enorme salão onde havia uma mesa extensa com incontáveis cadeiras. Sobre a mesa, as mais deliciosas guloseimas feitas especialmente para a recepção dos convidados. Os funcionários do castelo levavam as bagagens até os quartos, entregando a cada qual uma chave numerada em formato de cartão.

- Onde está o rei? Questionou a princesa Lucy do Reino Unido.

- Vossa Majestade pede mil desculpas, mas não conseguirá estar presente nesta recepção. Ele teve um compromisso urgente em Vancouver na semana passada, mas prometeu chegar a tempo para o baile de primavera. Mas onde estão os meus modos? Sou Amélia Bellerose, duquesa de Monte Carlo e me coloco a total disposição de vossas majestades e altezas reais. Concluiu Amélia, ao dobrar graciosamente os joelhos em uma reverência sutil aos imperadores e suas famílias. - Após o brunch, vocês poderão descansar em seus aposentos ou conhecer o castelo. Ficarei feliz em acompanhá-los em um tour pelas imediações. Só peço que não saíram por si só, pois é bem provável que não consigam retornar ou tenham dificuldade em fazê-lo. Comentou a duquesa com um sorriso.
O humor na família real sul coreana não era dos melhores, não após a princesa em sua completa falta de modos, ter tentado aplicar um "mata leão" em seu irmão, após ouvir os motivos que o fez listar as futuras pretendentes. Ambos foram separados por literais e fervorosas sapatadas de vossa mãe, a imperatriz. Se não bastasse toda confusão, Aika deixou claro sua insatisfação ao saber que ficariam no castelo do monarca que estava promovendo o evento. Ela tinha em mente se hospedar em um hotel e sumir das vistas da mãe o mais rápido possível. O mais estranho era que Ethan, o garoto que era conhecido por sorrisos fácies e grande humor, a poucos anos agregado a família por ser amigo da princesa Aisha, estava visivelmente irritado, diríamos até incomodado com a ida à Mônaco, a ponto de bater o pé e decidir se acomodar em um hotel. Aika sabendo que já havia perdido essa guerra, apenas seguiu como se para um marcha fúnebre rumo ao castelo.
- Viu omma! Esse estrangeiro nem se importou em recepcionar seus próprios convidados. Vamos embora, sim? Ainda a tempo! Insistiu Aika. Aisha cutucou a irmã, dizendo que o monarca devia ter seus motivos e seguiu a multidão animadamente. Ao ouvir a pergunta de uma das garotas, que ela deduziu ser uma princesa, Aika não se segurou. - Olha Aisha alguém esta mais desesperada para casar que você!
Aisha assumiu em seu rosto incontáveis tons de rosa, corando de vergonha. Em meio a todo discurso ministrado por Amélia, a unica coisa que Aika pareceu ouvir foi a parte de não andar sozinha pelo castelo, algo que ela não tardaria a fazer.
- Omma, ouviu o que a vossa graça falou sobre andar por ai desacompanhada? Deveriam por três guardas na porta do quarto de minha irmã, pois isso é mesmo que manda-lá sair por ai, feito uma megera desvairada. Comentou Aslan acidamente. O homem estava de mau humor após o comportamento de sua irmã gêmea. Ele jamais revidaria uma agressão física vindo de uma mulher, mas a forma que Aika sempre agia, o irritava as vezes. Ou era isso, ou o fato de tê-lo chamando de "encalhado".
Claro que do ponto de vista do homem, ele não era nada disso. Estava apenas tomando o devido cuidado, afinal a escolhida seria sua futura esposa, a mãe dos seus filhos e com quem ele dividiria o seu "felizes para sempre".
Aisha, mesmo que animada pelo baile, estava triste, pois o alvo de sua paixão havia se recusado terminantemente a ficar em sua companhia no castelo. Algo que Ethan nunca havia feito, pois ele, desde que se conheceram, eram quase como uma coisa só.
Katherine, a geniosa caçula da família, com apenas doze anos, tinha mais da personalidade de Aika do que a imperatriz gostaria. A criança carregava consigo um livro que lia avidamente, ignorando tudo e todos ao seu redor.

Amélia ouvia toda aquela conversa paralela entre a família coreana e não gostava da forma que se portavam, principalmente a mulher que parecia ser mais velha do que a princesa convidada, porém, como o convite se estendia à todos os membros da família, ela decidiu ignorar.
Caminhava com seu leque fechado nas mãos, batendo-o leve e constantemente contra a outra palma. Enquanto caminhavam pelo jardim, encontraram-se com Olívia, que correu aos braços da preceptora. A duquesa apenas sorriu e acenou para que a princesinha tomasse atenção aos modos diante aos convidados. - Gostaria de apresentá-los a princesa Olivia, filha do rei Nathaniel. Olívia, cumprimente nossos visitantes! Ordenou a mulher com gentileza. Olívia dobrou suavemente os joelhos, tal qual fora ensinada, abaixando a cabeça por breves segundos. - Muito prazer! Sua voz doce de menina fez com que a maioria se rendesse aos seus encantos. Olívia se parecia com Nathaniel em personalidade, mas quanto a aparência, era idêntica a mãe. O mesmo formato e cor dos olhos esmeralda, a pele delicada levemente corada e os cabelos escuros ondulados até os ombros. Seus vestidos eram sempre trabalhados em laços e cores pastéis, neste dia trajava perolado, enfeitado com laços e botões.
Era uma criança adorável!
Enquanto conversava e conhecia as princesas, Amélia aproveitava para passar algumas orientações as empregadas sobre o jantar. Era como se todo o castelo girasse em torno de Amélia, era uma espécie de governanta, foi assim desde que a rainha faleceu, Nathaniel via em Amélia uma figura materna e nela detinha sua total confiança.

Do outro lado do oceano, Nathaniel já havia resolvido todos os acordos comerciais que fora tratar em Vancouver e estava pronto para voltar, um vôo particular não lhe custaria muitas horas, mas a ameaça de uma tempestade poderia atrasar seus planos. Sua intenção era voltar ainda naquele dia, mas precisou pernoitar novamente em terras americanas e viajar pela manhã, quando fosse mais seguro. No dia seguinte, as nuvens ainda estavam pesadas, mas Nathaniel não tinha mais razões para ficar e decidiu arriscar. A viagem não foi tranquila, enfrentou algumas turbulências, mas nada preocupante. Chegou mais tarde do que esperava em Monte Carlo, ainda precisava se vestir, mas pelas horas, o baile já havia começado. Ao entrar no castelo, decidiu passar pela cozinha para não ser visto em trajes comuns e desarrumado.