O rei solitário

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- Era uma vez em um reino frio e distante, um rei solitário. Os dias no palácio real eram tristes e silenciosos, mas nem sempre foi assim. O rei, quando ainda era príncipe, adorava brincar com seu irmão caçula, mas as obrigações reais os fizeram crescer separados. O caçula não entendia a distância do irmão e acreditava que era por não gostar de sua companhia, mas o mais velho era um jovem regente em preparação que estudava continuamente para ocupar seu lugar de rei quando lhe fosse concedido. Certo dia, o rei e a rainha ao viajarem para um reino vizinho, sofreram um terrível atentado do qual não resistiram, deixando ao encargo do jovem príncipe de apenas quinze anos assumir o trono. O assassinato não resolvido dos pais associada a falta que uma criança poderia sentir deles, fez com que o príncipe mais jovem crescesse rancoroso, paranóico e obsessivo. Seu ódio fora direcionado ao irmão, a quem culpava com veemência pela morte dos pais. Nunca foi comprovada nenhuma ligação do agora rei aos assassinatos, mas ainda sim, ele nunca deixou de acusá-lo. O rei era condescendente e ignorava todas as falar infundadas do irmão, até porque agora era seu único parente vivo. Após alguns anos, o rei se casou com uma plebéia. Todo o reino fora contra, mas ele jamais desistiu. Com bravura defendeu o matrimônio entre eles, mesmo contrariando toda a côrte. O reino mal sabia que essa plebéia seria a melhor rainha que Mônaco conhecera. Ela era doce, gentil, graciosa e muito inteligente. Graças a ela, um grupo extremista que se revoltava contra o reino, fora acalmado. Tudo parecia bem, o reino vivia em paz! No ano seguinte, o casal real foi agraciado com a notícia de que um filho estava a caminho, um herdeiro. A notícia encheu de alegria a todos, exceto ao príncipe caçula, segundo na linha de sucessão que agora passara a terceiro. Desorientado, invadiu a sala do trono, proferindo perversidades, praguejando contra todos, até mesmo contra a rainha e seu filho ainda no ventre. Isso era demais até para a doce rainha que desfaleceu com o discurso odioso. O rei ficou irado e decretou que o príncipe fosse banido imediatamente do reino, a um exílio eterno em um país distante do oriente. Isso já faz seis anos! Infelizmente, as pragas do príncipe alcançaram a realeza. A rainha faleceu ao dar a luz, mas deixou ao rei uma linda princesinha. Desde então, o rei só tem olhos para ela e se tornou solitário e triste. Amélia fechou o livro manuscrito, anunciando o fim da história.

- É assim que termina? Mas o rei solitário ficará assim para sempre? Questionou Olívia, curiosa. Seus olhos atentos brilhavam meio a luz sépia do quarto.

- Não se sabe! Sempre haverá um risco, mas caso ele não se case novamente, o reino poderia estar ameaçado pelo retorno do irmão exilado. Explicou Amélia, pacientemente.

- Essa história é sobre o papai? Perguntou novamente. Amélia sorriu com doçura, se levantou e cobriu Olívia até a altura dos ombros.

- Durma, Olívia! Amanhã temos muitas tarefas a cumprir! Boa noite! A mulher de cabelos castanhos deixou o livro sobre a mesa de canto e apagou as luzes, saindo do quarto. A história que Amélia contou era um livro que ela mesmo escrevera sobre tudo que acompanhava no reino. Ela era a preceptora real de Olívia, a princesa de Mônaco de apenas cinco anos. Olívia era uma garota esperta e muito atenciosa, todos os dias recebia lições da hora que acordava, até a hora de dormir, como seu pai quando tinha sua idade. Seu pai, Nathaniel, era rei de Mônaco, amado por uns, odiado por outros, mas um rei exemplar. Vivia para o reino e para sua filha, muitas vezes parecia não possuir mais nenhum sentimento humano ou que talvez tenha sido arrebatado pela apatia. Não se sabia, mas como governante e pai, nada deixava a desejar.

- Majestade! Infelizmente, eu pesquisei, Olívia não poderá governar. Anunciou Cedric com pesar. Nathaniel deu um leve soco na mesa de madeira de seu escritório. - Por ser mulher e metade plebéia... A corte jamais permitiria. Continuou Cedric, explicando tentando evitar deixá-lo mais irritado.

- Mas ela é minha filha, tem meu sangue, está sendo preparada para assumir. Jenna deixou de ser plebéia no momento em que se casou comigo. Foi a rainha mais amada que este reino já conheceu, deveriam demonstrar algum respeito a sua memória. Respondeu Nathaniel com indignação. - Me dê o tinteiro e um papel, farei um decreto imediato revogando seja lá quem tenha inventado essa lei absurda. Estendeu a mão aguardando o que havia pedido. Tinteiros não eram mais utilizados por quase ninguém, mas Nathaniel tinha uma tendência ao conservadorismo e o usava em decretos e assinaturas importantes.

- Lamento, mas não será possível. É uma das leis fundamentais do reino, somente herdeiros homens de sangue puro. Mesmo que fizesse um decreto, ele não teria validade de lei e em sua falta, o decreto também perderia seu valor. Se tentasse colocar a proposta de lei em votação no parlamento, os ministros votariam majoritariamente contra. Disse Cedric. O conselheiro real. Um homem grisalho com roupas militares azul marinho.

- Então é isso. Não tem nada que eu possa fazer para evitar que aquele lunático do meu irmão fique com Mônaco e pior, com Olívia, caso eu morra a qualquer momento?

- O senhor sabe o que precisa ser feito, me espanta tamanha demora em tomar uma decisão. Retrucou o conselheiro. Nathaniel soltou um suspiro exaurido. Foi até a mesa próxima a janela e encheu um copo com whisky, tomando em um só gole. - Case-se novamente, majestade. Tenha um herdeiro homem com uma princesa de outro reino qualquer. Hoje em dia as coisas são mais modernas, depois de algum tempo vocês se separam, o senhor lhe dá uma boa quantia em dinheiro, joias ou um pedaço do reino e fica com a criança. As vezes, o senhor até acaba gostando da moça, nunca se sabe! Em último caso, faça quartos separados e sustente um casamento de faixada. Todos saem ganhando. Sugeriu Cedric. Nathaniel o olhou encarando suas palavras como um ultraje.

- Ganhando? E o que fará a donzela depois de desonrada? Desgraçarei a vida de uma pobre coitada por puro egoísmo? Para mim, Cedric, os votos são eternos. Além do mais, qual mulher aceitaria um acordo tão humilhante?

- Deixe-me ao menos tentar, sim? Permita-me realizar um baile. É chegada a primavera, Mônaco estará belíssima para receber visitantes. Convidaremos os representantes de estado para visitar-nos com suas famílias.

- Perderá seu tempo, meu caro amigo, mas se insiste, eu autorizo. Não quero que me culpe por não tentar ou que pense que não estou tão preocupado quanto você. Mas já digo, não alimente esperanças, pois a muito tempo nenhuma mulher me interessa mais e eu duvido que um baile mudará isso. Respondeu Nathaniel se sentando em sua cadeira de couro preta.

- Providenciarei imediatamente os convites, Majestade. Estudarei os reinos que ainda possuem princesas solteiras em idade de casamento. Amanhã de manhã, todas terão em suas mãos o convite para o baile de primavera. Boa noite, Majestade! Cedric fez uma breve reverência e se retirou. Nathaniel, sozinho, olhava a foto de Jenna no porta retrato sobre sua mesa, seu olhar era de tristeza.

- Não se preocupe, nenhuma jamais ocupará o seu lugar em Mônaco ou em meu coração! Desabafou o rei. Após isso, se retirou e caminhou até seus aposentos para descansar.

A Princesa de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora