O baile de primavera

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Como esperado, as instruções da duquesa Amélia de nada serviram para a princesa Aika, que na primeira noite, já havia andado por metade do castelo. Neste breve período, ela sabia onde era a biblioteca, a adega, havia até mesmo encontrado um belo piano de cauda, apenas não tocou devido ao horário, pois já passava da meia-noite. Mas sua alegria realmente se deu ao ver pela janela que havia um estábulo não muito longe dali, mas se contentou naquela noite em apenas em olhá-lo.
No dia seguinte, no castelo não se falava em outra coisa que não fosse o baile. O príncipe Aslan andava pelo quarto de sua irmã, nervoso. Embora fosse uma homem alto, de corpo definido e diferente de sua irmã, possuía pele bronzeada, por conviver com mulheres de personalidade forte, Aslan temia a rejeição assim como cometer qualquer deslize.
- Deveria deixar de bobagens, Aslan. Estou falando isso, não por ser meu irmão, mas sim porque conheço seu coração como ninguém! Você é um bom homem e vai encontrar uma boa mulher. Agora some daqui! Vou dar uma saída e se omma perguntar por mim, avise-a que eu fui.... Fazer um penteado nos cabelos. E não me viu sair nesses trajes, está bem? Volto antes que o baile termine!* A princesa sorriu triunfante e sumiu porta a fora usando vestes nada convencionais para uma princesa, mas que certamente ninguém se importaria, afinal hoje era o dia do grande baile. Como uma amazonas, a princesa escolheu o cavalo com qual teve uma conexão instantânea.
Passar a tarde no dorso de um animal conhecendo a propriedade, havia sido revigorante, mas a felicidade lhe foi tirada no momento em que Aslan ligou avisando que a imperatriz havia ameaçado casá-la com o primeiro velho que encontrasse, caso ela não estivesse no salão antes do rei chegar. Claro que a imperatriz Mira-e jamais casaria a filha contra sua vontade, mas se livrar de velhos inconvenientes era uma dor de cabeça que Aika estava disposta a evitar. A princesa marchou rumo ao castelo, entrando pela mesma porta dos fundos que os funcionários do castelo usavam. Suas bochechas ruborizadas pela tarde, assumiram tons ainda mais avermelhados pela pressa em que andava. Ela esbarra em um homem pelo caminho que parecia tão apressado quanto ela. - Por Deus, homem! olha por ondem anda. Ela mora que ele parecia mais ansioso ou nervoso que ela, por isso, optou por evitar o estresse da situação. - Deixe para lá! Vejo que está mais apressado do que eu. Se me permite um dica, fique longe do baile. As estão loucas para casar suas filhas e se todas forem iguais a minha, você não terá um minuto de paz. Brincou a coreana, pegando o chapéu de montaria que havia caído de sua mão. Pelas roupas do rapaz, a princesa deduziu que ele tivesse algum cargo na côrte, nada muito importante, nada que a fizesse se dar ao trabalho de perguntar. Nathaniel ficou confuso com a forma como foi atropelado, mas após o susto inicial, pôde observar a mulher que o advertia.
- Me desculpe... Disse um pouco envergonhado, mas sequer sabia porquê se desculpava, já que ela era quem vinha como um furacão pelo caminho. - Agradeço o conselho, mas é justamente para onde devo ir e já estou atrasado, mas diga-me, o que a senhorita fazia lá fora? É uma das princesas convidadas, não é? Questionou com curiosidade. Ao ouvir do homem que o baile era justamente onde ele deveria ir, a princesa não pôde esconder ser espanto, afinal embora o homem fosse bem apessoado, não parecia ser um príncipe buscando casamento.

- Uma das princesas convidadas? Acreditei que era apenas um baile para que os monstros mundiais pudessem socializar. Com a resposta da princesa, Nathaniel sentiu que cometeu uma gafe, ficando envergonhado. Era nítida a ironia na fala de Aika, afinal ela sabia melhor do que ninguém que o baile era para as buscas incessantes por matrimônio e com eles, alianças internacionais. Ela sentiu mas alguns fios de cabelo se soltarem do coque.

- Princesa, sim. Em busca de matrimônio, provavelmente não! A não ser que conheça algum candidato que busque um casamento de aparências, assim como eu! A forma explícita com que Aika disse essas palavras, fez Nathaniel se espantar. Já ela estava se divertindo com a situação, afinal não era tão sincera com seus pretendentes, mas com que não era o caso do modesto rapaz, então não via motivos para mentir. Além do mais, cara do homem, deixou tudo mais divertido aos seus olhos. Nathaniel sorriu tentando contornar seu desconforto. - O baile é para celebrar a chegada da primavera. Se veio de fora, já deve ter visitado o jardim do castelo e como está deslumbrante! Quanto aos casamentos, estes fazem parte dos acordos internacionais, auxiliam as articulações políticas. Encare como um bônus, não uma obrigação!

Aika apenas sorriu, pois seria a mesma coisa que ouviria de sua mãe. - Sim, eu vi. A paisagem é sem sombra de dúvidas o que compensou toda essa viagem. Isso e a princesinha daqui. Sério! Que garotinha fofa! Lembrei da minha irmã mais nova no instante em que a vi. E, sinceramente, casamentos não deveriam ser encarados como negócios, o amor deveria ser posto em primeiro lugar, os acordos internacionais vindos da união deles que são um bônus! Claro, isso para quem acredita no amor. Não é meu caso!
A princesa falava baseando-se nos irmãos, pois não queria um casamento de negócios para nenhum deles. O rei estudava seu rosto metodicamente, como se tentasse descifrá-la, qualquer pista que desvendasse a razão de tanta frieza sem precedentes. - Para quem não acredita no amor, a senhorita parece entender bem do assunto. Mas, diga-me, em que uma princesa jovem e bela se beneficiaria com um casamento de aparências?

- Jovem? Já estou com vinte e oito anos, passei e muito da idade de me casar! Mas seria bom ter a liberdade que apenas uma mulher casada conseguiria ter, minha mãe ficaria feliz, eu poderia conhecer o mundo e ter filhos, dispensando qualquer enlace amoroso, apenas a garantia que ele cumprisse seu papel de pai. Sem cobranças ou exigências, uma boa amizade no máximo, por exemplo! Só vejo vantagens!

- É um ponto de vista interessante, alteza. Seria capaz de se desprender de seu filho? Sabendo, obviamente, que seria bem amparado afetiva e financeiramente em troca de qualquer coisa que pudesse desejar? Se sim, o que poderia lhe convencer a isso? Questionou com expectativa.

- Do amor, não entendo mesmo, mas o que ele deixa para trás quando acaba, conheço como ninguém! Me desprender de meu filho? Jamais! quero ser mãe, não uma chocadeira. Só não quero uma marido, simples assim! Agora se me der licença, tenho que me arrumar antes que minha mãe me case com algum velho gagá. Adeus! A princesa saiu no mesmo instante em que se despedia, pois teria que fazer em quarenta minutos o que as outras princesas fizeram em seis horas.
As palavras da princesa ainda ecoavam pela mente de Nathaniel. Ela seria perfeita se pudesse, de alguma forma, aceitar deixar o filho com ele. Por mais que as razões fossem distintas, ambos tinham um objetivo em comum: casar-se por interesse. Ela queria sua liberdade e ele a salvação de todo um povo. Só quando a princesa se despediu, Nathaniel percebeu que não havia se apresentado e também não perguntou seu nome, ainda tinha perguntas a fazer, mas não sabia em qual dos quartos ela havia sido acomodada. Pensativo, o rei se atentou ao horário no relógio da cozinha e correu para os seus aposentos. Após um banho rápido, vestiu-se com um belíssimo smoking suíço cinza e uma calça social de mesmo tom, os sapatos eram pretos brilhantes de couro. Em seu dedo central esquerdo, havia um anel de rubi com o brasão de Mônaco, em seu anelar, ainda carregava a aliança de ouro de seu primeiro casamento. Assim que pronto, desceu ajeitando as abotoaduras nos pulsos.
Chegando no salão principal, havia mais pessoas do que imaginava. Cedric se aproximou, sério como sempre, porém aparentemente esperançoso. - Festa íntima, não? Satirizou Nathaniel sorrindo. - Precisamos de uma rainha, majestade! E de um príncipe herdeiro, principalmente. Respondeu o conselheiro. Nathaniel suspirou pesadamente, exausto do assunto. - Que assim seja! Acho que encontrei uma pretendente, porém não a vejo. A notícia soou como música aos ouvidos do experiente conselheiro que sorriu. - Que maravilha! E qual das princesas foi a escolhida? Perguntou animado. - Não se anime tanto, Cedric. É apenas uma pretendente, por enquanto. O problema é que não sei o seu nome, não será difícil encontrá-la, ela tem traços orientais bem marcantes. Explicou o rei. Cedric imediatamente tirou um papel do bolso, checando a lista que havia feito. - Vejamos, traços orientais... Hinata. Aisha Yoon Hinata, só pode ser a princesa sul coreana. Anunciou Cedric, como se houvesse ganhado um prêmio. - Encontrou? Por favor, traga-me a senhorita Hinata, meu bom homem! Preciso fazer mais algumas perguntas, diga a ela que o rei lhe convida para a próxima dança. Cedric mal o esperou concluir e saiu as pressas procurando a princesa citada.

A Princesa de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora