Pérola

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A passos apressados, Neteyam ia puxando o braço do seu irmão para seu marui. Nada fazia sentido naquele momento. 

Durante toda a manhã Aonung havia se comportado muito bem. Eles haviam brincado, se divertido, treinado juntos, e repentinamente, depois dele virar as costas por 3 segundos, ele já havia se metido numa briga de socos com o seu irmão. 

Estava cansado daquela situação. Para ele, parecia que a cada passo dado pra frente na construção de uma relação entre os dois, Aonung dava dois pra trás logo em seguida.

— Ei, mano, me solta — Lo'ak forçou o braço para fora do aperto.

— Por que você tinha que se meter em encrenca? O pai não foi claro quando ele disse pra você parar com isso?

— E o que você queria que eu fizesse Neteyam? Ficasse parado deixando ele me bater? Eu só tava me defendendo mano. 

Realmente, nessa situação, Lo'ak tinha razão. Se o que ele tinha contado fosse verdade, o início da briga se deu por culpa do Metkayina. Mas isso não o isentava da irritação do mais velho. Ele só queria fingir que nada disso havia acontecido de verdade.

Quando estavam na porta do marui, Jake já saiu para recepcioná-los. Os inúmeros machucados na face do Sully mais novo não permitiam que eles escondessem a situação.

— Me contem o que aconteceu agora. E pra dentro, os dois! — O pai ordenou impetuoso.

— Pai, eu... — Lo'ak começou a se explicar, mas Neteyam o interrompeu. 

— A culpa foi minha, pai. O Aonung ficou com ciúmes da Tsireya com o Lo'ak e foi pra cima dele, eu intervi e bati nele pra proteger o mano. Perdão.

Essa não era a primeira vez que esse assumia a culpa pelo irmão, e certamente não seria a última. Definitivamente ele preferia receber as reclamações do que ouvir o mais novo as recebendo. Já estava acostumado e era mais fácil se fosse assim.

Jake olhou para os dois como se decidisse se acreditava ou não. Ele sabia do hábito de levar a culpa que seu primogênito tinha, e apesar de sentir orgulho do filho por isso, não podia deixar o verdadeiro culpado impune sempre. Ao reparar que só os punhos do mais novos estavam machucados, ele já sabia o que havia acontecido.

— Neteyam, vá tomar um ar. Eu preciso ter uma conversa aqui — Manda calmamente

— Sim senhor — O garoto falou com a cabeça baixa, respirando fundo e saindo do marui,  andando com o coração tempestuoso até a praia.

Ele sentia raiva de tudo aquilo. A mudança, ter que se adaptar nesse lugar novo, o irmão mais novo que era um imã de confusão, e, claro, do Aonung.

Era impossível decidir o que pensar sobre ele. Uma hora ele parecia a pessoa mais estúpida do mundo, e no outro, era gentil e atencioso. Tudo nele era tão conflitante. Absolutamente nada parecia fazer sentido. E ainda tinha aquele "presente" que parecia um pedaço de pedra feia. 

Neteyam olhava para o horizonte enquanto a tarde se desdobrava sobre ele, sem ter ideia do que fazer ou pensar, principalmente sobre o herdeiro do clã Metkayina. Sentia raiva e desgosto dele, mas ali no fundo, talvez houvesse alguma coisa no seu coração que o estivesse fazendo-o disposto a o perdoar. Talvez fossem aqueles malditos olhos azuis que ele não conseguia esquecer.

Enquanto um turbilhão de emoções voava na mente do jovem, lá ao longe ele pode ter o prenuncio do que não tardaria a os atingir. 

Nuvens cinzentas no limite da vista, como um cinturão sobre o mar, pareciam se acumular cada vez mais. Lembrou-se que mais cedo Aonung o avisara sobre uma grande tempestade, mas ele sinceramente não esperava que fosse acontecer. 

Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │Onde histórias criam vida. Descubra agora