Tempestade

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Aonung acordou várias vezes durante a madrugada chuvosa. 

Suas lágrimas se misturavam com a água que eventualmente furava a resistência da tenda, e ele tremia de frio pelo vento gelado. Sua cabeça projetava os piores cenários, resultando em pesadelos diversos. 

Enquanto tremia, soluçando e chorando, todo encolhido na chuva, ele compreendeu que precisava fazer algo. Ele precisava mudar. 

Entre os sons de trovões e os clarões dos relâmpagos, ele prometeu para si mesmo que mudaria, que seria mais gentil com aqueles ao seu redor, que seria alguém melhor para aqueles que ele gostava. 

Que seria alguém melhor para Neteyam. 

Eventualmente, o sol tentou nascer. 

As nuvens negras e pesadas da chuva impediam que os raios de luz penetrassem apropriadamente, resultando num dia muito frio e escuro. O vento e a água gelada que caía abundantemente dos céus também pioravam tudo. 

Ele agradeceu mentalmente pelo marui do Olo'eyktan ser grande ao ponto de permiti-lo ter um quarto só para si. O choro e soluços constantes durante toda madrugada teriam sido ouvidos muito mais facilmente se não fosse por esse fato.

Levantou-se tropegamente. Ao sair do seu cômodo, viu que só a irmã estava ali. Ela mexia uma panela de barro sobre algumas brasas no centro da tenda. 

— Eu vejo você, irmão — Ela falou séria, sem o olhar no rosto. 

— Tsireya, eu quero pedir desculpas — As palavras repentinas do garoto atraíram atenção da irmã, que o fitou, surpresa — Eu não deveria ter feito aquilo. Você é livre para amar quem quiser.

O olhar da mais nova marejou. Ela se levantou, foi até ele e o abraçou com força. 

— Você também é, meu irmão. Eu o perdoo, mas não é só a mim que você precisa pedir desculpas. 

— Eu sei. 

Eles passaram bons segundos abraçados. Aonung não pode evitar que algumas lágrimas caíssem, mas estava feliz por ela ter o perdoado. 

Após essa reconciliação amistosa, os dois tomaram café da manhã juntos. Tsireya o informou que seus pais haviam saído mais cedo para cuidar de preparativos para a tempestade, como consertar maruis com alguns furos e proteger mantimentos perecíveis. 

Ele procurou nas suas coisas um bom manto que pudesse usar para se cobrir da chuva, saindo da própria tenda. As gotas fortes e o vento frio o castigaram assim que ele colocou o primeiro pé para fora. Essa sem dúvida era uma das maiores tormentas que ele já havia presenciado, talvez até a maior. 

Decidiu que caminharia pela vila, procurando ajudar em alguma coisa que conseguisse. Ele procurava qualquer maneira de se sentir útil. 

Não demorou até que estivesse carregando potes de madeira e barro e ajudando a puxar redes e cordas para levantar tendas de emergência e telas de proteção. Ouvir as pessoas o agradecendo melhorava seu humor, acendia algo na sua alma...

Ao mesmo tempo, na casa dos Sullys, Neteyam e Lo'ak conversavam sobre como a chuva parecia mais forte no mar. Nenhum dos dois queria admitir, mas olhar as ondas revoltosas se chocando contra as rochas fazia-os sentir medo. Pareciam pequenos perante a fúria do mar de Pandora.

Jake havia saído para ajudar Tonowari nas coisas da vila, Tuk e Kiri tentavam tecer alguma rede e brincavam com pequenas conchas em um joguinho que tinham inventado para se distrair, enquanto Neytiri afiava e preparava mais flechas. 

Neteyam lembrou-se como amava usar as flechas da mãe quando caçava. 

As suas próprias eram boas e melhoravam a cada dia, mas as da mãe pareciam mais letais, mais ágeis. Sentia que conseguiria abater até um Palulukan com uma delas. 

Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │Onde histórias criam vida. Descubra agora