Cerimônia

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Ao amanhecer naquele dia insípido, Neteyam pensou que faria de tudo para não comparecer a cerimônia de Aonung, que aconteceria a noite.

Nos últimos dias, esteve em um constante estado de apatia desesperadora enquanto tentava entender o que se passava. Era certo que sua relação com o herdeiro Metkayina havia ido dos céus ao inferno em um dia, e o fato de chorar amargamente toda noite quando tentava dormir, lembrando daqueles olhos azuis, piorava tudo ainda mais.

Ele lutava para parar de sentir aquilo. Parar de sentir seu coração sendo dilacerado toda vez que o garoto o desprezava.

Seus irmãos foram saindo do marui um a um para suas atividades diárias, depois de despertar e comer. Neteyam tentava esconder da sua família que havia algo errado, e apesar de todos perceberem, não sabiam exatamente como intervir.

Seu pai, antes de sair também, olhou para esposa e assentiu silenciosamente com a cabeça, confirmando o que haviam combinado e passando segurança a ela.

Neytiri tentaria descobrir como ajudar.

— Ma'Teyam, meu amor, o que há de errado? — Ela perguntava com a voz doce, sentando-se ao seu lado e acariciando os cabelos.

O menino pensou no que responder, mas não sabia como começar. Olhou para o rosto da mãe e sentiu lágrimas brotando.

— É o Aonung, filho? — A mulher perguntava delicadamente, temendo que as palavras erradas pudessem causar ainda mais dor.

Neteyam só acenou com a cabeça. Sentia que era impossível falar algo. Ela o abraçou, confortando-o silenciosamente. A dor de um filho sempre é sentida por uma mãe.

— Mãe, eu quero ir pra casa — Foi o que conseguiu dizer. Ele precisava disso. Precisava ir embora. Ouvir os sons da floresta, voltar para os rostos familiares, para suas montanhas flutuantes onde não sofria assim.

Ir para longe de Aonung e a confusão que ele era.

Neytiri apertou forte o filho. Sentia que dentre todos da família, ele era o mais infeliz com a nova vida do recife. Queria que todos fossem para casa, mas era impossível com a ameaça do povo do céu.

Mas talvez não fosse impossível para seu filho mais velho.

Se Neteyam voltasse sozinho e evitasse conflitos e confusões, poderia passar despercebido. O clã o acolheria e o esconderia, e ele poderia retomar parcialmente a antiga vida.

Ela considerava todas essas possibilidades. Estava disposta a ficar longe da sua criança amada se isso fosse fazê-lo mais feliz.

Enquanto mãe e filho se abraçavam, chorando em silêncio, ela decidiu que conversaria com Jake sobre isso.

— Deixe-me falar com seu pai, meu menino. Se você regressar sozinho, a ameaça não será tão grande, e seu coração encontrará a paz que precisa.

Neteyam não queria ficar longe da sua família. Das conversas divertidas com Kiri, das brincadeiras infantis com Tuk, das brigas, brincadeiras e provocações com Lo'ak. Ele sentiria falta de tudo isso, mas aquele ambiente amargo onde era tratado como lixo pelo garoto que se apaixonou estava o matando lentamente.

Ele precisava ir embora daquele lugar.

Quando Jake voltou, um pouco depois, Neytiri começou a conversar com ele, tentar convence-lo da ideia. O homem estava relutante. Era muito protetor com suas crianças, o seu bem mais precioso.

Enquanto os pais conversavam, Neteyam permanecia com o olhar baixo. Sentia-se covarde por estar fugindo, mas ter seu coração despedaçado todos os dias era torturante e ele não aguentava mais.

Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │Onde histórias criam vida. Descubra agora