Voo

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Naquele mesmo dia, quando voltou ao seu marui, Neteyam percebeu que seu pai, Jake, era o único na tenda. Ele estava de costas, juntando alguns sacos e os amarrando. Ao dar falta da mãe, também viu que o arco dela não estava lá, bem como as flechas que ela estava afiando no dia anterior.

— Eu vejo você, pai — disse o garoto entrando e indo na direção das suas coisas, no canto.

— Eu vejo você, meu filho. O que faz aqui tão cedo? Algum problema? — o pai diz se levantando com algumas sacolas no ombro. Neteyam percebeu que, aparentemente, ele já estava de saída.

— Não, pai — mentiu, tentando concentrar-se em procurar o seu visor nas suas coisas. Ele sabia que sua mãe teria identificado a mentira pelo seu tom de voz, mas talvez Jake deixasse passar — só acabou mais cedo hoje. Está tudo bem.

— Entendo, sem problemas... o que você está procurando?

— Meu visor de voo. Não consigo achar.

— Sua mãe pegou para trocar as membranas — falou como se tivesse acabado de lembrar de algo — ela disse que aquelas estavam velhas e pediu para que eu colocasse nas suas coisas. Toma aqui. Você vai voar?

— Obrigado pai. É, acho que vou sim. Tentar relaxar um pouco. Mal cheguei e já sinto falta de sobrevoar as copas com a Ayie — o jovem Sully posicionou o visor no rosto e percebeu que realmente parecia bem melhor — Nossa, a mãe se superou dessa vez. Vou agradecer a ela depois. Inclusive, onde ela foi?

— Ela saiu para atirar em alguma coisa. Disse que se ficasse mais um minuto sequer aqui na tenda, ficaria louca — Jake contou com um sorriso no rosto — sabe, filho, acho que Tonowari não se importaria se eu remarcasse minha aula de montaria nos Tsurak, não é? 

— Não sei, pai — Neteyam respondeu. Na verdade, o garoto não fazia ideia do que era um Tsurak — Mas imagino que não, por que? Aconteceu algum imprevisto?

— Nada demais, só um pai que vai voar um pouco com seu filho mais velho.

Aquilo deixou o jovem sorridente e animado. Fazia tempo que ele e Jake não voavam apenas por lazer, sendo sempre algo relacionado a alguma missão, reconhecimento de terreno ou vigília. Soltando as sacolas que levava no ombro no chão, o patriarca da família pegou seu visor e pediu um minuto para que avisasse ao Olo'eyktan da situação, que entendeu completamente.

 A adaptação estava sendo naturalmente complicada, e momentos como aquele poderiam deixar as coisas mais fáceis. 

Pai e filho foram juntos, subindo numa área mais alta da vila, onde seus Ikrans haviam ficado descansando. No caminho, foram conversando sobre as experiências deles na vila até o momento. 

Jake contou que o Tsurak era uma montaria de guerreiro. Eles possuíam corpos esguios e alongados, bem como uma boca longa e cheia de dentes afiados como lâminas. Suas nadadeiras, pelo que o pai disse, possibilitavam a eles voarem por curtos períodos um pouco acima da água, além de nadarem em uma velocidade impressionante. 

Neteyam ficou curioso sobre aqueles animais. Pareciam curiosos, apesar de serem amedrontadores. Se perguntou se montaria em algum no futuro.

Ao chegar até o local onde seus Ikrans os aguardavam, foram recebidos com vários cliques e outros sons de carinho e saudade.

— Ei, ei, calma garota. Nem parece que passamos dois dias voando juntos — O filho falou, abraçando a cabeça da criatura e montando nela em sequência. 

— E você, como tá sendo o treinamento? — Subindo no seu próprio Ikran, Jake questiona.

— A Tsireya, filha do Olo'eyktan, decidiu dividir a gente em grupos pra poder ensinar melhor, ou algo assim. Ela ficou com o Lo'ak. Ele mal conhece a garota e já tá caidinho por ela — Neteyam disse rindo.

Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │Onde histórias criam vida. Descubra agora