O dia iniciou-se especialmente cedo para Neteyam.
É claro que a primeira noite dormindo em um lugar novo sempre era inquietante. O dormitório parecia desconfortável, os sons eram estranhos. A ausência de uma copa de árvores em forma de dossel fazia o sol durar mais tempo e iluminar mais cedo, já que na floresta as sombras tornavam tudo mais escuro.
Além disso, claro, Neteyam havia sido o último da família a dormir e o primeiro a acordar. A nuvem de pensamentos rodeava sua mente e o confundia. Aquele ambiente com pessoas novas fazia tudo mais complicado.
Levantando-se silenciosamente do cantinho onde tinha passado a noite, ele caminhou com leveza por entre sua família para evitar acordar alguém. Quando saiu do marui, viu que ainda estava amanhecendo.
Não podia negar que a aurora à beira mar era fascinante.
Na noite anterior, ele havia ido pra dentro da sua tenda antes de poder apreciar o incrível fenômeno luminescente que era emitido pela água. Ao seu redor, a vida brilhava tanto quanto na floresta. Peixes de diversos tamanhos e formatos, algas, plantas, animais que ele sequer teria capacidade de imaginar.
Tudo isso se misturava com um nascer do sol laranja e dourado no horizonte, que o fazia ficar paralisado contemplando.
Afinal, aquele lugar talvez não fosse tão ruim.
— Grande Mãe. A sua beleza ainda me assusta e surpreende — o menino disse, atordoado com aquela magnificência, enquanto outra coisa surgia a sua vista.
Mais ao longe, perto do próprio marui, uma silhueta jogava sozinho uma rede trançada por cordas no mar. O filho do Olo'eyktan aparentemente já estava acordado e realizando suas atividades
Toda aquela natureza brilhante e bonita, junto a um nascer do sol estonteante, contribuíram para criar uma aura de beleza ao redor de Aonung, que nem reparou que estava sendo observado. Neteyam o encarava quase inconscientemente, enquanto o via arremessar e puxar diversas vezes a rede, descartando alguns peixes indesejados e colocando em um balde o que fosse útil.
O Sully ficou tanto tempo ali olhando, tanto para Aonung quanto pra magnífica natureza ao seu redor, que não conseguiu desviar ou disfarçar no momento que o herdeiro Metkayina virou com a rede no ombro para ir embora. Quando viu o par de olhos que o fitava, o pescador parou por alguns segundos.
Neteyam pode perceber um misto de surpresa e dúvida nos olhos do menino, que lentamente deram espaço a um semblante enraivecido e irritado. Ele voltou a caminhar para onde seguia previamente, com passos mais apressados, enquanto o Omaticaya voltava para a tenda, procurando fingir que nada havia acontecido.
"Eu devo estar ficando maluco. Ele ainda me viu olhando pra ele, pra piorar" Ele pensava consigo mesmo "Se ele já me odiava, imagina agora. Eu não sei o que deu em mim, eu não sou assim. Quer dizer, certamente é por essa atmosfera misteriosa e deslumbrante que cerca essas águas. Bom, em todo caso, preciso admitir que é tudo muito bonito"
Ao mesmo tempo, enquanto caminhava para fora da água, a mente de Aonung era bombardeada de centenas de perguntas:
"O que aquele garoto tava fazendo ali tão cedo?" "Ele tava... me encarando?" "Por que eu fique sentindo meu corpo fraco, como se minha barriga doesse? Devo ter comigo algo que me fez mal"
Embora sua cabeça ficasse buscando respostas, no fim tudo que aparecia era a lembrança dos olhos assustados, surpresos e impressionantes do Omaticaya, e a forma como eles pareciam refletir o brilho do amanhecer...
Não demorou para o sol raiar completamente em Awa'atlu. Fazendo todos os Sully's acordarem.
— Cara, eu to animadão pra andar naqueles bichos — Lo'ak falou quase gritando, enquanto engolia apressadamente a primeira refeição do dia pra chegar na água mais rápido
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Perdido no seu Azul│Aonung X Neteyam │
FanfictionA mudança repentina que levou os Sullys a saírem do seu lar mexeu com todos os membros da família. Repentinamente, eles estavam em um lugar distante, com pessoas estranhas de costumes diferentes, lutando para se adaptar e sobreviver. No meio de tud...