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Miyiawng'ite

Minhas mãos iam e voltavam sentindo a textura gosmenta da alga marinha. Meus joelhos alcançavam meu peito e ao aproveitar da solidão, deixei escapar um suspiro pesado.

O mar alcançava meus dedos rígidos e a areia me fazia cócegas simpáticas, tentando amenizar o sentimento solitário que preenchia meu peito. Agora mesmo, Tsireya, a única que me fazia companhia, estava cuidando de coisas que os pais a mandavam fazer e me restava aguardar a garota, observando a maré serena.

Tsireya é minha única amiga, minha confidente. Talvez a única Na'vi que tem minha total confiança. As vezes ela parece ser abençoada por Eywa, além da beleza avassaladora capaz de hipnotizar um exército, no coração da garota também se expande uma bondade abismal e questionável. Sempre penso que sou ruim e agora sei que é verdade, pois Tsireya é tão boa e eu não sou nada como ela. Eu não deveria ter um pensamento tão invejoso, mas as vezes eu só queria perguntar a grande mãe o porquê de tudo no meu mundo estar de cabeça pra baixo, nada na minha vida se encaixa, tudo parece sem sentido e o vazio no meu coração despedaçado só cresce. Tive que desligar minha mente antes que a melancolia possuísse meus olhos.

Outra respiração pesada mas desta vez meus ouvidos se ergueram em alerta ao escutar uma balbúrdia familiar vindo em minha direção. Virei meu rosto aflita e tive um vislumbre do sorriso malicioso do meu pior pesadelo. Aonung.  Filho de Ronal e Tonowari, irmão de Tsireya, poderia ser chamado também de meu tormento diário.

Seu grupo ardiloso o seguia gargalhando, me levantei ágil e encarei fundo aquelas orbes sugestivas. “De novo não...” Fui rodeada em instantes e então o maldito abriu a boca.

ー Sozinha de novo Miyia? Ou eu deveria dizer... Aberração! — Seus amigos riram alto, meu corpo por consequência ficou rígido e minha mente trabalhava com as melhores respostas, mas na hora da ação minha garganta trancava de maneira surreal e tudo que conseguia fazer era olhar. Mas Aonung me encarava tão profundamente quanto, parecia ver algo que nem o mar era capaz de refletir, e eu temia isso. ー Nem começamos e já está chorando? Que bebezona... — Arregalei os olhos e toquei minhas bochechas, notando o fio que escorria por ela. “Verme imundo, não é por você que estou chorando.” ー Por que a raiva gracinha? — Ele percebeu minha feição se fechando. ー Dessa vez, não vim conversar, querida amiga. Tsireya está te chamando no marui. Se não fosse uma isolada esquisita teria notado a movimentação hoje de manhã, mas esqueci que você é um bicho de mato. — A arrogância em seus olhos revirando fez meu estômago embrulhar. ー Não a deixe esperando, sua rotina deprimente não é mais importante do que nossas obrigações, lembre se disso exilada. — A última palavra perfurou como uma lança, banhada no mais puro veneno. Eu estava tão cansada que não tive forças nem para demonstrar minha tristeza. A exaustão me ganhou e o cinza morto que morava em meu coração se apossou de meu olhar, a frieza fez meu corpo arrepiar e minha última lágrima deslizou sutilmente pelo meu rosto fino. Aonung era como todos os meus pesadelos definidos em pessoa. Me atormentava e fazia minha consciência lembrar de todas as minhas dores, todo santo dia.

Aguentei e com a alga na mão caminhei para vila, indo encontrar minha amiga. A planta em minha palma se desmanchava devido a força do meu aperto, a tensão não deixou meus ombros em nem um sequer passo de todo o trajeto. Pare de pensar. Isso não era possível, não para mim, minha solitude era parceira de minhas paranóias, no momento que o silêncio avançasse minha mente já estaria a mil processando todo tipo de coisa. Na maior parte do tempo, coisas negativas.

Segui pela vila recebendo olhares curiosos e julgadores, abaixei minha cabeça brevemente e encontrei o marui de Tsireya, que estava sentada de joelhos remexendo uma peça de conchas e cascas de madeira.

ー Do que precisa? – A garota tomou um susto e quase deixou a peça em sua mão voar. Não pude segurar, soltei um riso indiscreto e encarei o rosto indignado de minha amiga.

ー Não faça isso com o meu coração Miyia... – Ela encostou a mão no peito e fez uma careta adorável. Eu acenei e disse um ok, mas não prometi nada... ー Jake Sully e sua família chegaram hoje em busca de uturu, um santuário, são do povo da floresta. – Minhas orbes vagaram pelo grande branco do meu globo que se formou. O povo da floresta? O que eles queriam? ー Papai pediu pra ajudar, para não serem inúteis... – A última palavra deixou sua boca a contragosto, Reya não gostava de direcionar palavras negativas a ninguém. Eu admirava sua piedade. ー Eu estava pensando... Você, não gostaria de me ajudar? Os Sully tiraram hoje para descansar, mas amanhã começaremos a ensinar os filhos de Neytiri, a parceira. Eu adoraria ter sua companhia. – Seu sorriso sincero quebrava meu coração em partes minúsculas e curava onde doía. O jeito que seus grandes olhinhos se fechavam devido ao sorriso brilhante que tomava espaço era adorável. Tsireya parecia capaz de ofuscar as estrelas, o eclipse não parecia tão belo quando se comparado a ela. ー Miyia? – Sai de meus pensamentos e respondi Reya.

Eu não queria ajudar para ser sincera. Estar no meio de muitas pessoas nunca era benéfico para mim, introversão poderia ser uma de minhas maiores características. Só que resistir aos encantos da minha irmã era uma tarefa difícil e eu nem poderia imaginar qual seria sua expressão ao receber um não. Eu não conseguiria fazer isso, portanto tive de falar que estaria presente amanhã para nadar com os recém chegados desconhecidos.

O resto da tarde se resumiu em conversas paralelas, eu sorri inúmeras vezes e isso só por causa dela. Mas meu semblante alegre desapareceu quando Reya mencionou o irmão.

ー Aonung só traz problema, os coitados mal chegaram e ele já está fazendo piadinhas... E não só ele! Eu não entendo o porquê de ser assim, o desconforto neles me deixou triste. – Suas olheiras abaixaram devido a negatividade, eu só pude respirar longamente e tentar prosseguir o mais calmamente possível.

ー Er... Você sabe como seu irmão é. – Minha visão buscava por qualquer coisa que não fosse o rosto de Reya. Eu não costumava mencionar o que o irmão dela fazia comigo. Ela havia visto uma vez e fez um discurso completo pro irmão que ficou emburrado pelo resto da semana. Mas após isto, as provocações voltaram, até piores do que antes. Eu não queria contar, apesar das mancadas de Aonung, ele ainda era irmão de Tsireya e ela o amava. Não queria acabar com a relação deles.

Ela suspirou cabisbaixa, mas depois sorriu e disse: “Não importa, vai ficar tudo bem, um dia ele aprende e os outros também.” Era o jeito dela de lidar com as coisas, seu otimismo me contagiava. Sua aura de felicidade poderia contaminar qualquer um. Obrigado Reya...

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A JOKE ▬▬▬ AONUNG (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora