03. MENTES CONFUSAS

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PRESENTE — KIM

Minha mente está em pane, eu não consigo acreditar que disse aquelas palavras com tanta facilidade, mas quando vi elas já tinham pulado para fora da minha boca.

Eu sempre tive bloqueios emocionais e problemas em demonstrar meus sentimentos, acho que devido a tudo que vivemos e passamos, mas comigo foi pior porque meus irmãos ainda conseguem demonstrar o que sentem com um pouco mais de facilidade.

Mas não eu.

Acho que eu aprendi que sentimentos podem ser usados para ferir e magoar as pessoas, mas principalmente para manipulá-las, como muitas vezes vi meu pai fazer, contudo o que mais pesou para que eu tivesse esses bloqueios foi que a única pessoa que disse Eu Te Amo morreu minutos depois.

Olho para Chay agora aflito ele está encarando a bandeja de café da manhã como se ela tivesse lhe feito o maior mal do mundo.

— Eu preciso ir — ele diz se levantando e tentando puxar por mim.

— Chay — digo e seguro seu braço — Você não vai dizer nada.

Chay me olha de cima a baixo e solta um suspiro.

— Eu não sei se consigo acreditar em você — Porchay fala e sinto meu coração quebrar em mil pedaços mais uma vez.

— Não consegue acreditar em mim — eu repito baixo — Porquê?

Chay dá uma risada amarga e solta seu braço que eu estava segurando.

— Porque será né Kim — chay diz irônico — SERÁ QUE É PORQUE TUDO QUE VOCÊ FEZ FOI MENTIR PARA MIM.

— FOI PARA TE PROTEGER — eu grito de volta.

— Me proteger — Chay repete — Você e o Porsche são iguais nisso, pensam que eu sou um bobo que precisa de proteção, mas se esquecem que eu perdi meus pais praticamente depois de eu nascer, que eu me criei e me eduquei sozinho, que eu vi meu irmão fazer de tudo para poder me criar inclusive lutar clandestinamente, eu tive que lidar com um tio tóxico e mentiroso com cobradores de dívidas que viam e quebravam nossa casa, fiquei sozinho por meses quando meu irmão desapareceu, eu sempre cuidei da casa e tinha que me virar para conseguir resolver tudo e administrar tudo porque meu irmão estava sempre ocupado garantido que nós sobreviveremos. Porra eu não sou criança, eu sou gentil e sentimental, mas tive que amadurecer antes de todo mundo, então pare de dizer essa maldita desculpa Kim, porque além disso tudo meu irmão agora está com Kinn comandando a primeira família então eu faço parte desse mundo do também.

— E O QUE VOCÊ QUER QUE FAÇA ENTÃO? — grito perguntando.

— Quero que me conte toda verdade que está escondendo assim eu posso confiar em você novamente e acreditar que as palavras que você me diz são verdadeiras — Chay fala.

— Eu não posso — digo porque se meu pai imaginar que Chay tem uma mísera desconfiança dele ou está envolvido comigo, podem ficar feias para ele.

— Esse é o problema Kimham, você não confia em mim e eu não confio em você, um relacionamento não pode dar certo sem confiança — Chay diz — Obrigada por cuidar de mim essa noite.

Ele então se vira e me dá as costas e novamente eu sinto a dor de o ver sumindo como naquele dia em sua casa.

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PASSADO — KIM

Meus olhos se abrem lentamente e estranho o lugar que estou esse não parece meu apartamento, é quando sinto o peso no meu peito e olho para baixo e vejo aqueles li lindos olhos pretos que se fecham rapidamente e voltam a fingir que estão dormindo que me lembro que estou na sala da casa de Chay.

Dou uma risada irônica, foi só ele piscar aqueles belos olhos para mim que eu não resisti e fiquei aqui para ver um filme com ele e quando me dei conta ele havia adormecido no meu peito e eu não tive coragem de acordá-lo, porque ele parecia um anjo dormindo.

PRESENTE — KIM

Eu ainda me lembro dele me perguntando se eu o amava gostaria muito de ter o respondido naquela época que sim, porra nós já éramos pateticamente um casal quando tudo aconteceu, mas eu fui medroso e mais uma vez quase perdi uma pessoa que eu amava sem ela escutar o que eu realmente sentia.

Acendo um cigarro e sento no sofá da minha sala, tantas coisas aconteceram naquele dia, eu me pergunto se teria sido diferente se eu tivesse o respondido, talvez ele não teria ido para aquela cozinha, nós teríamos ficados juntos trocando carícias no sofá, talvez assim eu estivesse com ele quando fosse atender a porta ou até mesmo eu o faria ignorar aquilo e talvez, só talvez ele não tivesse sido sequestrado.

E meu menino não estivesse passando por tantas coisas.

PRESENTE — PORCHAY

Assim que saio da casa de Kim entro no primeiro taxi que vejo e dou o endereço da minha antiga casa, mando também uma mensagem para Porsche dizendo que fui para nossa casa para que ele não se preocupe.

Minha cabeça está girando, se fosse a meses atrás ouvir que Kim me amava, me faria a pessoa mais feliz do mundo. Mas agora eu só me sinto mas confuso, se ele me ama porque não confia em mim, eu sei que ele quer me proteger mas às vezes eu sinto que toda essa proteção é abusiva. Porque eu já vivo na máfia agora e quanto menos eu enterro mais perigoso para mim, eu preciso com que tipo de pessoas estou lidando porque muitas delas podem querer usar minha ingenuidade para me manipular.

Korn é um bom exemplo disso nas poucas vezes que eu vi não gostei nenhum pouco do jeito que ele olhou para mim e meu irmão, Porsche principalmente com se ele fosse finalmente uma peça em seu jogo.

Pago o taxista e desço na nossa antiga casa, sei que Porsche e Kinn pagam alguém para limpar e manter a casa abastecida já que venho bastante aqui.

Pego meu celular e vejo que há uma mensagem de Macau, outra de P'Pete e uma de P'Vegas, Macau era meu melhor amigo e depois de tudo que aconteceu eu acabei ganhando uma segunda família neles.

P'Pete me adotou como filho, e P'Vegas era bom e paciente comigo, embora fosse mais reservado ele sempre estava ali para mim e Macau. Eles me convidaram para viajar com eles, mas eu não podia deixar meu irmão sozinho, não com tantas desconfianças rodando minha cabeça.

Abro a mensagem de Macau e vejo as fotos que ele me mandou, ele e P' Vegas foram ao tatuador e não me choco ao ver o nome de P'Pete tatuado no peito de P'Vegas. Os dois têm um amor tão forte que eu diria que um não consegue viver sem o outro.

Subo para o meu quarto e dou um sorriso amarelo ao olhar para a parede que antes tinha um altar dedicado a Kim ou melhor a Wik, também me lembro como num ato de raiva eu rasguei e arranquei tudo da parede e joguei no lixo, para me livrar das lembranças, como se fosse adiantar Kim está enraizado na minha mente. E outra eu não esperava que no mesmo dia quando voltasse para dentro encontrasse em meio às almofadas do sofá a jaqueta de couro que Kim tinha usado na última noite e que passou aqui antes do sequestro.

Vou até meu quarda-roupa e abro uma gaveta e sozinha lá vejo a jaqueta preta a puxo para mim e sinto a fragrância amadeirada, ela tem um toque quente e ao mesmo tempo seco, passando uma vibe elegante e misteriosa assim como o próprio Kim, um cheiro que eu nunca consegui decifrar ao certo o que era novamente como seu dono.

Visto ela mais uma vez, então me deito na cama.

— A Kim o que eu faço com você — penso alto esperando que alguém me dê as respostas.

Zahir (KimChay)Onde histórias criam vida. Descubra agora