Feiticeira

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Cidade do México

Metamorfose. Era esta a palavra que melhor descreveria Anahí na visão de Alfonso. Sem dúvidas, ela era uma imensurável metamorfose. E cada vez que retomava o contato com ela, essa certeza crescia e crescia não dando margens para dúvidas. Como alguém que ele jurou conhecer mais do que a palma de sua mão, poderia ter mudado tanto? Era essa a pergunta que um Alfonso cabisbaixo, quieto no sofá luxuoso da casa dela, tentava a todo tempo responder. Anahí era outra. Completamente, irrevogavelmente outra.

Mas, vocês devem estar se perguntando que, como o tempo havia passado, nada se fazia mais natural do que ela ter mudado, assim como ele e os demais também, são ossos do ofício. Porém, o grande incomodo de Alfonso não era a mudança na aparência física, e menos ainda na personalidade, pois depois de tudo que já havia experenciado com ela sabia mais do que ninguém que Anahí era uma ótima atriz tanto em frente às câmeras como por detrás dela. O que realmente o atormentava era a mudança de alma. Anahí era uma luz, quase como um anjo, ela brilhava, sem nenhuma hipérbole. Ela, definitivamente, brilhava, fosse onde fosse. E aquele brilho já não estava mais ali. Certamente ela continuava encantadora, mas não era nem a metade do que foi um dia.

E, agora, olhando-a ali, tão à vontade com Christian, Dulce e Christopher, rindo de qualquer piada tosca que contavam, enquanto Velasco ainda mantinha a presa entre seus braços, Alfonso sabia que estava sobrando. Se sentiu deslocado, acuado e ridiculamente indefeso. Não era para ser assim, nem de longe. De todo o tempo de convivência de banda, os dois eram os que mais tinham intimidade e mais pareciam unha e cutícula do que qualquer outra coisa. Ter sua presença ignorada por ela, o fez reviver lembranças de um passado saudoso que ele gostaria muito de poder viver de novo.

Alfonso riu com desgosto quando se apercebeu do erro que fora ter ido ali. Desde o início, e quando digo início, me refiro ao momento em que cogitou aquela ideia descabida.

Após o embaraço entre ele e Velasco, o clima continuou estranho. Logo que adentrou à casa de Anahí, fora bem recebido pelos outros três amigos, que juntos vieram abraça-lo e até interagiram com ele, porém ela, continuava o evitando como se ele não existisse. E isso o matou por dentro. Nem mesmo quando se abaixou perto dos filhos dela, para cumprimentá-los e conhecê-los, Anahí mudou sua postura. E ali ele soube que a menina-mulher que tanto o deixou louco um dia, não era nem de longe mais a mesma.

Ele sabia que grande parte daquele comportamento se devia à presença do odioso marido dela, mas de qualquer forma, essa constatação não aplacou sua ira, muito pelo contrário, somente a inflamou. Sentia o ciúmes correndo em suas veias tão ardentemente, que precisou levantar do sofá e caminhar para perto das grandes janelas da mansão de Anahí. Precisava de ar, precisava parar de vê-la, se não, cometeria uma loucura. Ela era seu ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles. Era seu inferno particular. Sua ferida nunca cicatrizada.

Ainda não haviam começado a reunião, visto que Maite estava presa no trânsito e demoraria ainda mais uns trinta minutos para chegar e dessa forma, ele cogitou seriamente em ir embora. Não pegaria tão mal, afinal.

Quem notou sua inquietação fora Christian, que olhou-o por cima dos ombros de Dulce e flagrou-o com as mãos metidas no bolso da calça social azul, com o olhar perdido na vista do jardim da casa. Christian sempre fora muito sensível e observador e deste modo, não hesitou em pedir licença ao grupo de amigos para se aproximar lentamente de Alfonso que nem notara sua presença.

— Se você não disfarçar, todos irão perceber. — Christian informou-o por detrás de seus ombros, em um sussurro. Alfonso se sobressaltou ante ao susto pelo amigo ter se aproximado sem que ele percebesse. — Sério, cara. Disfarça um pouco, tenta se enturmar com a gente, contar uma piada ou zoar o Ucker, sei lá, qualquer coisa. —

O Rio Entre Nós (AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora