"O passado mal resolvido é um grito silencioso que nos chama pelo nome, mesmo quando tentamos não escutar."
Cidade do México, apartamento de Alfonso
Alfonso girou a chave na fechadura, e o som ecoou pelo apartamento vazio. Ao abrir a porta, a escuridão o envolveu como um velho cobertor, familiar, mas desconfortável. Ele fechou a porta atrás de si, e o silêncio o acolheu, denso e implacável. Ele pendurou o casaco no gancho, retirando as chaves do carro do bolso, e descalçou os sapatos seguindo até a cozinha, onde a única luz fraca do abajur iluminava a bancada. Pegou um copo, encheu de água e ficou ali, apoiado na pia, observando a janela e as luzes da cidade ao longe.
A água gelada escorregou pela garganta, mas não conseguiu afastar o aperto que ele sentia no peito. Ele tentou não pensar na reunião, mas cada detalhe voltava com força. O som da risada de Maite, a interação de Christopher e Dulce e como Christian parecia animado em tê-los ali, reunidos, completos, os seis, como há muito não acontecia, provocava emoções muito intensas para serem ignoradas. Porém, foi o cheiro doce do perfume de Anahí que parecia encher o ar, a forma como ela passava as mãos pelo cabelo, que despertaram nele algo que há muito ele jurou ter soterrado no mais profundo de sua alma, e agora, vinha à tona como uma avalanche desgovernada. Por mais que ele evitasse, cada gesto dela era como uma âncora, prendendo-o naquele momento.
A água parecia não ter gosto, e o apartamento parecia pequeno demais, sufocante. Alfonso sentiu o aperto no peito se intensificar, como se as paredes estivessem se fechando. Ele sabia que os sorrisos que havia forçado na reunião não eram o bastante para esconder o que sentia por dentro. E, por mais que tentasse, Anahí ainda estava ali, nos seus pensamentos, como uma presença que ele não conseguia expulsar.
Ele se jogou no sofá, os pensamentos dançando em um turbilhão de memórias. Lembrou-se da risada de Anahí, tão contagiante que fazia ecoar alegria nos momentos mais sombrios. A maneira como sua voz suave soava, como um sussurro envolvente, ainda ressoava em sua mente, trazendo uma onda de saudade. Seus olhos azuis brilhavam como estrelas em uma noite clara, e Alfonso se pegou relembrando o calor de seus olhares, que pareciam penetrar em sua alma. Cada uma dessas recordações era como uma teia, prendendo-o naquele instante e fazendo-o sentir a intensidade de tudo que haviam vivido juntos.
O celular vibrou ao seu lado, trazendo-o de volta à realidade. Ele olhou para a tela e viu a notificação: uma foto da reunião havia sido compartilhada no grupo. Ao abrir a imagem, seu coração disparou. Todos estavam reunidos, e Anahí, com seu sorriso radiante e a luz dos olhos azuis capturada no instante perfeito, iluminava a cena. O calor da conexão que sentira com ela naquele momento parecia transbordar da tela, fazendo com que ele revivesse as risadas e o carinho que os envolvia. Aquela imagem era um portal para as lembranças, e Alfonso se perdeu por um instante, saboreando a intensidade do que havia sido compartilhado. Ele olhou para a tela, um sorriso melancólico se formando em seus lábios.
– Como você consegue iluminar até a tela do meu celular, Anahí? É impressionante. Só você para fazer um momento simples parecer tão extraordinário. – Murmurou para si mesmo, de forma inconsciente.
Ele suspirou, sentindo a saudade apertar. Nesse instante de nostalgia, seu olhar se deteve na foto, focando apenas nela e ele se deixou levar pelas lembranças dos risos e das conversas que compartilharam em um passado muito distante. O tempo parecia parar, até que uma nova notificação surgiu. Ele se surpreendeu ao ver uma mensagem dela.
Na reunião, entre risadas e conversas descontraídas, Anahí e Alfonso trocaram olhares que pareciam carregar um peso não dito. A energia entre eles era palpável, uma conexão que estava prestes a ser explorada. Antes de se despedirem, Anahí se aproximou dele, seu sorriso carregando uma promessa.
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O Rio Entre Nós (AyA)
RomanceUma história AyA Era para ser somente um reencontro entre seis amigos de longos anos passados. Porém quando o karma entra em cena, todo o resto flutua, coexiste, se abriga no secundário, em segundo plano. Ela tinha algo que não o deixava ir, ele tin...