Cap. 10: Sentimentos

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Eugênio atendeu aquela ligação, era uma ligação vinda da pequena Piracema, uma cidadizinha provinciana na fronteira entre o estado do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Não muito distante de Campos dos Goytacazes.
A voz ao telefone soou desesperada e aquilo alertou Eugênio para provavelmente algo de muito ruim.
E ele não estava errado.

Ao telefone o filho de sua madrinha, Candinho, falava sem que se pudesse entender, totalmente em desespero.

- Se acalme Candinho e por favor me diga o que está acontecendo! Pediu Eugênio pela segunda vez tentando acalmar o rapaz.

O homem do outro lado da linha respirou fundo, Eugênio sentiu que o filho de sua madrinha estava procurando as palavras certas para falar, parecia que ele também estava ainda tentando assimilar o que precisava dizer. Após alguns minutos de silêncio enfim Candinho falou e o que o rapaz disse fez Eugênio perder o chão e derrubar o telefone de sua mão, ficou pálido na mesma hora e mesmo sendo um homem forte sentiu suas pernas falharem e precisou se apoiar na mesa em sua frente senão cairia.

Do outro lado da linha Candinho chamava o homem que sua mãe considerava um filho do seu coração e que ele já via como um irmão mais velho. A linha ficou muda e ele agora precisaria refazer toda a ligação para novamente falar com o afilhado de sua mãe.

No escritório improvisado Eugênio tentava assimilar o que ouvira, sua feição assustada e pálida chamou a atenção da secretária Ursula que se aproximou tocando suas mãos.

- Doutor Eugênio o senhor está bem? Ela perguntou enquanto tocava em sua mão, estava gelado, havia algo de errado e a secretária notou. - Leônidas, seu Leônidas, rápido... aconteceu alguma coisa com o Doutor Eugênio! Ela gritou chamando Leônidas que estava na parte de fora do escritório.

Eugênio se mantinha calado, as pernas não firmavam no chão e a cabeça girava com as palavras de Candinho.

- Leônidas! Gritou mais uma vez a mulher quando viu que seu patrão iria cair. - Calma seu Eugênio! Ela tocou seu rosto, que estava ainda mais gelado que as suas mãos.

Do lado de fora Leônidas conversava com Violeta e Heloisa quando os gritos da secretária chegaram até eles.

- Mas é a Ursula! O homem falou.
- Aconteceu alguma coisa! Heloisa olhou para Violeta e os três correram até o escritório improvisado.

- O que aconteceu Ursula? Leônidas disse logo ao entrar.
- Eu não sei, ele recebeu uma ligação, e quando eu olhei ele já estava assim! Ela ainda tocava o rosto do homem num gesto de carinho, e aquilo não passou despercebido aos olhos de Violeta, e por um momento ela se viu sentindo ciúmes de seu sócio.

Quem era aquela secretária para se achar no direito de colocar as mãos no homem dela?
Homem dela?! Violeta espantou-se com aquele pensamento, Eugênio não era nada dela, eram amigos, sim. Ao longo dos meses foram desenvolvendo uma boa amizade, mas jamais havia pensado nele como seu, porque diabos aquele pensamento havia surgido justamente agora? Não podia, não era certo, eram sócios e apenas sócios, não podia estar com ciúmes de seu sócio, esse cabeça de bagre, machista e sacripantas.

Saída de seus devaneios ela caminhou apressadamente em direção ao homem, realmente Eugênio não parecia nada bem. O olhar perdido, tinha o semblante carregado e a sensação era de que uma nuvem negra pairava sobre seu ser.
Ela afastou a secretária num gesto um tanto brusco, aquela sensação de ciúmes ainda persistindo, e dessa vez foi ela quem tocou a face do homem e com a voz suave o chamou:

- Eugênio!

Ursula fuzilou a mulher com seus olhos azuis faiscando de raiva, mas para não criar caso se afastou ficando atrás dos outros dois que apenas observavam a cena tentando entender o que havia acontecido.

Easy on me... pegue leve comigo Onde histórias criam vida. Descubra agora